sexta-feira, 22 de julho de 2016

Notícias de um ocidente humanista e cristão

Do ataque no comboio de Würzburg há duas cenas que não me saem da cabeça. A primeira, é o atacante ter reconhecido num dos passageiros uma mulher que trabalha no centro onde ele viveu quase um ano, e ter ido para outro compartimento. A segunda é uma voluntária desse centro a dizer na televisão, em horário nobre, que tinha muito boas recordações daquele rapaz, do tempo em que tinha trabalhado com ele, e que, não querendo de modo algum criticar a polícia, confessava que sentia tristeza pela sua morte.

A primeira cena vale o que vale, mas há aqui um homem tresloucado que, no momento em que está prestes a matar por ódio, consegue reconhecer quem lhe fez bem e poupar a vida dessa pessoa: o amor, ou a gratidão, podem ser maiores que a loucura e o ódio.
Este compartimento que foi poupado àquela violência louca porque ia nele uma mulher justa, digamos assim, lembra um pouco aquela discussão entre Deus e Abraão, quando Deus quer destruir Sodoma e Gomorra, e Abraão regateia com ele,  "se lá houver cinquenta justos, poupas a cidade? e se forem quarenta e cinco? e se forem trinta? e se forem dez, também a poupas?"
Naquele compartimento, bastou um.

A segunda cena é um daqueles momentos especiais da História: em vez de diabolizar o atacante, esta voluntária continua a ver nele uma pessoa, e a televisão escolhe passar em horário nobre palavras simples e plenas de humanismo, com grande poder pacificador. Imagino com que gratidão os muçulmanos e os refugiados que vivem neste país terão ouvido este testemunho. Em vez de fazer um discurso de medo que aumenta a desconfiança em relação a todos os muçulmanos, o que vimos nos dias seguintes ao atentado foi um esforço sério para compreender o que levou a este ataque e encontrar meios de evitar que outras pessoas em condições semelhantes se deixem levar pela loucura e pelo desespero. Os políticos não estão a iniciar uma linguagem bélica para combater o terrorismo - fala-se em melhorar o apoio a esses menores não acompanhados e informa-se sobre a sua extrema fragilidade, os traumas e a solidão.

A localidade onde o atacante viveu durante quase um ano reagiu com teimosia: agora vão ajudar ainda mais os refugiados, para que eles se possam realmente integrar, curar as feridas profundas que trazem da guerra e da travessia da Europa, e recomeçar a vida. Afinal de contas, dizem, nunca houve qualquer incidente com nenhum dos refugiados que lá vive (200, numa localidade de 11.000 habitantes), e não há motivo para desistir de ajudar quem precisa tanto, só porque aconteceu esta tragédia com um deles.

Em momentos destes vê-se que a Alemanha vive realmente a sua herança humanista e cristã.


9 comentários:

  1. E pelas vítimas, nem uma lágrima?

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    1. Podia, ao menos, tratar-me com metade da compreensão que a Helena Araújo tem para com os terroristas islâmicos. Essa linguagem é lastimável.

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    2. A Helena talvez tenha compaixão com as suas tretas. Eu não.
      Mas responda-me, se quiser, a uma pergunta: o que lhe deu agora para recorrer a pseudónimos? Ou são mesmo heterónimos?

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    3. Sim, são mesmo heterónimos. Em privado, poderei explicar-lhe.

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    4. Quanto à Helena e sua suposta compaixão, ela já mostrou que nem consegue interpretar correctamente o que escrevo, quando eu critico as "tretas" dela.

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  2. Isto, como foi em Munique, deve ter sido obra de nazis:

    http://www.telegraph.co.uk/news/2016/07/22/shots-fired-at-munich-shopping-centre/

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    1. Esperemos que as autoridades digam. Não adianta muito estar a adivinhar.

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  3. Pois a cenas que me ficaram na cabeça não foram certame te essas. Deve apenas ser uma aquestão de valores diferentes...eu vi famílias destroçada, vidas terminadas, pânico...enfim, cada um vê o que quer.
    LA-C, não precisar insultar. Mil perdões se as cenas que me ficaram na cabeça não estão alinhadas com as cenas da Helena.

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