sexta-feira, 15 de julho de 2016

Um problema francês

A little more than a week before the attack, a commission set up by the French parliament gave its version of the reasons for France's endangered state in a massive report. Apart from an objective threat the country faces thanks to its colonial past and a failure to integrate North African immigrants, it also suffers from inadequate policing.

"All the French citizens who struck within the nation's territory in 2015 were known, in one capacity or another, to judicial, penal or intelligence services," the report says. "They have all been on file, watched, listened to or incarcerated along their path of delinquency toward violent radicalization."

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It's not that the French security agencies lacked the resources to watch the suspected terrorists: According to the report, in 2015 the French security services had a quota for 2,700 people whose communications could be intercepted, but actual monitoring never even approached that number.

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Reportedly, 60 percent of French prisoners are Muslims, compared with 8 percent of France's total population. France has a well-known problem with integrating its Muslim community: It is afflicted with high unemployment and concentrated in ghettos on the edge of big cities, breeding grounds for all kinds of crime, from petty drug dealing to terrorism. Youths with a criminal record are excellent material for radicalization: It gives them a cause for which to fight. And yet the French government barely has a system for tracking this risk group's embrace of radical Islam."


Fonte: Leonid Bershidsky, Bloomberg

Depois da vitória de Portugal sobre a França, vimos o que muitos franceses acham dos portugueses: um povo inferior que não lhes devia ter "tirado" o título. Até nos mandaram usar as mãos para construir casas e não para jogar futebol. Em Paris, alguns membros da comunidade portuguesa foram alvo de violência, mas a Procuradoria de Paris diz que as agressões não foram motivadas pela nacionalidade das vítimas. Lógico, porque em França a nacionalidade das vítimas é irrelevante: por definição, toda a gente é igual. Imaginem que a Alemanha tinha ganho o título, acham que os alemães teriam sido agredidos assim? Recordemo-nos da vitória da Grécia sobre Portugal no Euro 2004, foram os adeptos gregos agredidos pelos portugueses?

A França tem o mérito de ter feito, e de continuar a fazer, um péssimo serviço de integração dos membros das suas colónias na sociedade francesa. Pela reacção dos franceses à vitória de Portugal, os portugueses também não estão perfeitamente integrados. Para adoçar o cocktail, as forças policiais são mal geridas e organizadas. Não, o problema não é apenas haver extremismo islâmico; o problema também é francês. Se fosse apenas um problema de terrorismo islâmico contra Europeus, os ataques estariam mais espalhados pela Europa, em vez de se concentrarem em França.

Não vejam isto como desculpar os terroristas. Se vocês deixarem o carro destrancado num parque de estacionamento e este for assaltado, será que a culpa é 100% do ladrão? Ou será que vocês também contribuíram para o crime por criarem uma oportunidade fácil?

7 comentários:

  1. Diria que a "culpa" é, a "responsabilidade" não.

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    1. Sim, tens razão. Foi uma escolha pobre de semântica da minha parte.

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  2. Rita, principalmente por motivos políticos que evoluíram depois para a sociedade e para os seus valores e princípios e daí para o comportamento das pessoas em geral, França foi sempre a campeã do deix'andar relativo aos imigrantes. Esse "todos são iguais" que referes. Eles não se integrarem e tornarem-se efectivamente diferentes foi algo com que a sociedade Francesa nunca conseguiu lidar optando por menoriza-los e desresponsabiliza-los de tudo, atirando as culpas para todos os lados e mais alguns. Enfim, tratou-os como coitadinhos e foi empurrando o problema com a barriga. A filosofia do coitadinho tem origem em França daí ser normal que não tenha havido integração dos imigrantes. A sociedade Francesa abdicou das ferramentas para a forçar e quando confrontada com situações às quais não sabia reagir fugiu para a frente. Agora, pois, agora estão onde estão.

    É diferente da forma como vêm Portugueses ou Espanhóis (estes menos abaixo do que aqueles) e Alemães ou seja qual for outra nacionalidade. Aqui realmente há hierarquias, como, de resto, em todas as sociedades há relativamente a outros nacionais. No que toca aos imigrantes do Maghreb e da África sub-saariana não é uma questão de serem vistos como inferiores mas sim como coitadinhos, num patamar totalmente diferente dos restantes Europeus. Povos inferiores, mesmo, não muito diferente do qualificativo Untermensch aplicado pelos nazis a vários povos embora, evidentemente, com tratamento muito diverso.

    A este respeito uma coisa curiosa. Haverá disto uns dois, três anos. A conversa que estava a ter com um amigo Espanhol versava, na altura, a polémica sobre as mulheres muçulmanas poderem cobrir a cara em público. Em Espanha a questão nunca se pôs de forma relevante. No momento em que começou a acontecer, proibiu-se e assunto resolvido. E daqui a conversa discorreu sendo que notámos com interesse que o que a FN propõe relativamente à segurança interna é, quase integralmente, a realidade em Espanha desde sempre. O que é normal para a sociedade Espanhola e sempre foi, é algo apenas defendido por um partido de direita quase extrema do outro lado dos Pirinéus. São estas coisas que ajudam também a explicar porque é que França chegou onde chegou e não consegue passar dali. É uma mentalidade, toda ela, que é errada e da qual os Franceses terão que livrar-se. E livrar-se-ão. A menos mal (a bem já é impossivel, esse comboio já passou), a mal ou a muito mal mas a própria população mudará de rumo. Já está a mudar, de resto.

    P.S.: O «buenismo» Francês contagiou fortemente a Bélgica, também e, em larga medida, Portugal, sempre tão lesto em beber as influências Francesas.

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    1. Nesse aspecto, discordo de ti. Acho que a forma como os portugueses lidam com as pessoas que nasceram nas ex-colónias não é tão negativa como a dos franceses. Não é perfeita, mas também não é tão má.

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    2. A burka é proibida em França desde para aí 2010; creio que não é proibida em Espanha, embora o seja nalgumas cidades (pelo menos em 2014 não era proibida).

      Aliás, nem sei se a situação não será exatamente ao contrário do que o Zuricher diz: acho que se há país europeu ocidental onde a moda (anglo-saxónica?) do multiculturalismo não pegou foi a França, onde continua a predominar a ideia "jacobina" do "aqui não há «comunidades», somos todos franceses" (penso que em França nem há estatísticas oficiais sobre religião ou origem étnica) - veja-se todas aquelas leis sobre "símbolos religiosos" (também imitadas pelos "primos" do Quebec).

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  3. Miguel, cobrir a cara em público é proibido em Espanha há décadas. Nem me lembro sequer de alguma vez o não ter sido. Tem a ver com a cultura Espanhola e também com o terrorismo da ETA. Porém, ao ser lei muito antiga e não focar especificamente a burka, alguns muçulmanos criaram conflitos argumentando que violava a sua liberdade religiosa. Por esse motivo os municípios onde a questão se colocou com maior premência, todos ou quase na Catalunha, legislaram proibindo-a no espaço e edificios públicos sob sua jurisdição. Dados os conflitos que se foram multiplicando em vários pontos do país, em 2015 a nova Ley de Seguridad Ciudadana ampliou a proibição de cobrir a cara a transportes, hospitais, escolas, edificios públicos e mais uma série de sítios. Isto efectivamente acabou com a possibilidade de usar a burka e o nikab em público seja onde for.

    Espanha é muito diferente de Portugal na abordagem à segurança pública e para muitos Portugueses o que por ali se passa é mais típico dum estado policial que outra coisa.

    Em relação ao resto do que o Miguel diz, o problema e que aponto no meu comentário, é precisamente essa do "somos todos franceses" que levou a que quando alguns, muitos, não eram franceses, a sociedade não soube lidar com o assunto, efectivamente menorizando-os e coitadinhando-os.

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  4. Eu não sei como é que é mas um Português consegue integrar-se e adaptar-se em todas as civilizações do mundo mas quando aparece um Americano ou um inglês há sempre porcaria...

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