quinta-feira, 14 de julho de 2016

Sanções e parvos

Nesta discussão de sanções, tenho a forte impressão de que querem que os portugueses passem por parvos. Todos os anos é o mesmo: os nossos governantes quebram os compromissos que assumiram com Bruxelas e fazem um circo a chorar que são vítimas. Se há vítimas aqui são os contribuintes portugueses que, não só sustentam governantes incompetentes com os seus impostos, mas também têm de ouvir desculpas esfarrapadas como se fossem parvos e incapazes de saber que estão a ser outra vez enganados.

Já aqui disse o que penso: depois da intervenção da Troika e dos sacrifícios que foram exigidos aos portugueses, o que é expectável é que esta prevaricação governativa cesse e a economia entre numa trajectória em que cresce de forma sustentável, ou seja, caros governantes da Geringonça, vocês têm menos desculpas do que tinham o PSD/CDS e, como tal, têm obrigação de ter melhores resultados.

Vamos por pontos, porque quem nos governa tem dificuldade em fazer contas:
  1. O défice orçamental é um rácio, logo se o rácio está mau, a culpa não pode ser toda do numerador; o denominador também tem responsabilidade.

  2. Na questão do numerador, fala-se muito no Banif. A decisão de suportar o custo do Banif em 2015 foi política, como já referiu o LA-C no Observador, e foi uma decisão do governo Geringonça. Não culpem a PàF por isso.

  3. Mas há outra questão: como foi dito na altura, não se compreende o custo do Banif. De onde veio aquele montante exactamente? Será que o custo foi inflacionado para que o défice orçamental fosse violado e a PàF fosse culpada pelo caso?

    Na avaliação do que é verdade e do que é ficção, no caso do Banif, a PàF tem culpa: não mostrou ter noção da dimensão do problema, nem conseguiu refutar o montante apresentado pela Geringonça para intervir no Banif. Ainda por cima, o PSD fez o desfavor de aprovar o Orçamento Rectificativo, sem exigir que o governo explicasse exactamente o que se tinha passado. Concluo, então, que a maior parte do que ambos os partidos nos dizem seja ficção.

  4. Relativamente ao denominador, António Costa passou meses a assustar os portugueses e a comunidade internacional e reduziu a confiança que o país tinha conseguido alcançar a frangalhos. A coisa mais importante numa economia é a confiança. Não há economia nenhuma que tenha bons resultados, se os agentes económicos não confiam e não têm forma de formar expectativas com um grau mínimo de certeza. Ou seja, o teatro todo de António Costa afectou o crescimento do PIB.

    (Vejam o Reino Unido e o Brexit -- nada de fundamental se passou de um dia para o outro, quem tinha emprego a 23 de Junho, também o tinha a 24; mas ao se saber o resultado, as pessoas e as empresas deixaram de saber com o que podiam contar e mudaram o seu comportamento de um dia para o outro).

António Costa acha-se muito competente por delinear uma estratégia em que pode falhar, mas tem bodes expiatórios. Este ano, Portugal também vai violar o objectivo do défice orçamental, mas António Costa vai culpar a PàF, pois 1/4 do ano foi governado com o OE da PÀF; e culpa também Angola, Brasil, e Brexit. Se houver mais coisas que corram mal no futuro próximo, mais bodes expiatórios haverá.

Convenhamos que, se isso é o melhor que António Costa sabe fazer, então não é competente. Nada do que aconteceu foi uma surpresa, tudo era conhecido no ano passado. Se o governo escolheu uma estratégia em que não geriu os riscos que conhecia, então assuma a sua incompetência. Não se faça de vítima porque nós não somos parvos.

6 comentários:

  1. Rita, o problema é que grande parte da população Portuguesa é exactamente isso: parva. Só isso justifica não apenas as intenções de voto no PS de Costa que as sondagens vão dando como o sossego social em que Portugal vive perante tanto disparate junto que terá efeitos sérios nos médio e longo prazos. Ora, se 30 e tal % votam no PS de Costa e mais quase 20% nos vermelhos é forçoso concluir que, como generalização, a população Portuguesa é parva. Por conseguinte, Costa pode fazer-se de vítima tanto quanto quiser porque tem uns quantos milhões de papalvos prontos a aceitar-lhe todos os choradinhos e a fazer coro no atirar de culpas para todos os bodes expiatórios e mais alguns. Sim, o Governo tem culpa. Mas quem votou de forma a permitir a sua eleição não tem menos. Chama-se democracia.

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  2. Só uma nota, Rita: a discussão do défice é "sem Banif". O que se discute é 3,2% de défice e isto EXCLUI a intervenção no BANIF (da maneira que a coisa é falada por todos, dá-me ideia que a própria UE não conta a intervenção no BANIF).

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    1. Tens razão; I stand corrected. Mas, mesmo assim, o Costa atrofiou o crescimento do PIB.

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    2. Mas eles são mais do que nós. :'(

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  3. A propósito de heranças de governos anteriores, escreveu Richard Nixon: "When I got to the White House, Vietnam was Lyndon Johnson's war. Six moths later, it was my war."

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