terça-feira, 5 de abril de 2016

Política do Betão 2.0

O PS acha que deve investir €1.400 milhões do Fundo de Estabilidade Financeira da Segurança Social na reabilitação urbana para estimular o arrendamento a preços acessíveis.

“Entendemos que a nossa aposta na reabilitação urbana terá de ter uma forte componente de promoção da oferta de habitação para arrendamento acessível, de modo a chegar a uma faixa importante da população que hoje se encontra excluída do mercado habitacional por razões financeiras."

~ António Costa

Explique lá isso por miúdos, senhor Primeiro Ministro. O que significa que as pessoas estão excluídas do mercado habitacional? Vivem debaixo da ponte? Em barracas? Dormem ao relento no Terreiro do Paço? Será que estas políticas fazem sentido num país com a demografia portuguesa? Não sei se se recorda, mas houve uma bolha imobiliária ao mesmo tempo que muita gente que constituiria família emigrou; logo, nos últimos 10 anos, assistiu-se a uma expansão da oferta de imobiliário combinada com uma contracção da procura de imobiliário em Portugal. Para além disso, como as taxas de juro estão extremamente baixas, pode ser muito mais vantajoso comprar casa. Mas o ponto fulcral é que voltar a insistir na política do betão é uma admissão de incompetência do PS. O problema não é o arrendamento não ser acessível; o problema é o país seguir uma política de salários baixos e assimetrias geográficas.

Porque é que não criam condições para as pessoas terem melhores oportunidades para arranjar empregos com melhores salários? É que se ganharem mais, têm dinheiro para viver em sítios melhores, pagam mais impostos, e o estado terá receita para aumentar as pensões mais baixas. Porque é que não promovem a mobilidade da força de trabalho? Há sítios em Portugal onde as rendas não são muito caras, logo se se incentivar a actividade produtiva e comercial nessas zonas, as pessoas terão empregos e rendas mais baratas. E porque é que o PS não reduz a despesa do estado? Se as pessoas pagarem menos impostos, têm mais dinheiro disponível para arrendar um local mais agradável. Dado que o PS segue uma política de aumento de impostos indirectos ao mesmo tempo que continua a aumentar a despesa, está efectivamente a contribuir para o empobrecimento das pessoas que vivem com mais dificuldades.

Daqui a 10 ou 20 anos, quando o imobiliário estiver outra vez a cair aos pedaços e as pessoas continuarem a ganhar mal e a ter de pagar impostos cada vez mais altos para suportar uma despesa pública crescente, será que vamos repetir a dose desta política?

7 comentários:

  1. Sinceramente, estou a ficar farto dos governos (no caso, este, mas os anteriores já fizeram a mesma coisa) usarem o FEFSS como o seu próprio mealheiro para aplicar as medidas "convenientes", independentemente do custo para o futuro.

    Se quiserem perceber porque é que, mesmo com as reformas efetuadas ao longo do tempo, a Segurança Social continua em risco para o futuro, basta olhar para este tipo de comportamento.

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  2. Claro que apostar no "betão" é provavelmente uma má aposta, mas mesmo se fosse uma boa aposta, o governo nunca deveria usar o FEFSS para tal, mas sim dívida pública direta. Se a politica tivesse retorno superior à taxa de juro da dívida pública (que está até bastante baixa em termos históricos), usar divida pública não causaria problemas, se (como infelizmente espero) não tem retorno significa (mais uma vez) a descapitalização da Segurança Social.

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    1. O problema não assenta nos fundos utilizados para reabilitação urbana e consequentemente na reativação da industria da construção e todos os setores a ela direta ou indiretamente ligados. Se é boa ou má política, depende do ponto de vista e da sustentabilidade dos projetos. Sabemos perfeitamente que cidades como Lisboa, Coimbra ou Porto, para citar somente as maiores cidades do país e por conseguinte aquelas cujo tecido urbano mais antigo se encontra degradado e despovoado.´Torna-se urgente a sua reabilitação e requalificação. Mas a questão mais importante não se resume a obras de reabilitação dos edificios, por forma a que a sua reocupação seja possível. É necessário ter em conta os acessos, as redes de transportes urbanos, tudo isto necessita também de ser alvo de um profundo projeto de reabilitação e funcionalidade. As principais cidades portuguesas têm séculos de existência, e no decorrer dos últimos anos, muito se modificou em matéria de mobilidade e transportes.

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  3. Sentidos pêsames a quem está a contar com uma reforma paga pelo sistema de previdência Português.

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  4. Neste caso, apostar no betão é assumidamente uma má aposta.

    O governo propõe-se investir 1400M€ num programa de aquisições e de reabilitação de imobiliário. Os 1300M€ dos vistos gold (em 2014/15) supostamente contribuiram bastante para a recuperação que se tem verificado no imobiliário; o que fará ao mercado a pré-anunciada entrada de mais 1400M€? Em seguida, propõe o governo, dar como destino a esse património imobiliário o arrendamento acessível, ou seja, com preços abaixo do mercado.

    Comprar casas caras e arrenda-las baratas. Num mercado demograficamente deprimido. É este o destino mais adequado a dar a 1400M€ afectos ao pagamento de pensões? Qual é o retorno esperado para a SS desta operação? Já alguém fez essa pergunta ao governo?

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  5. Rita, as taxas de juro estão baixas, mas comprar casa com a precariedade que existe no mercado de trabalho em Portugal usando financiamento bancário torna-se complicado. É verdade que existe mais oferta com as baixas taxas de juro dos depósitos muita gente tem reabilitado ou construído casas e dessa forma através do pagamento de uma renda é-lhes mais vantajoso para elas, isto nos subúrbios dos grandes centros urbanos. O Governo está a replicar esta ideia também, e mesmo praticando preços baixos isto pode trazer uma rentabilidade superior a um risco inferior. Pode parecer uma ideia estranha usando o FEFSS para isto, mas o FEFSS é usado neste tipo de negócios o seu objeto é este mesmo. Sendo uma componente onde a exposição da Segurança Social é superior face à restante componente das receitas da Segurança Social. Sinceramente não percebo a crítica a este projeto. Os únicos prejudicados serão os proprietários mas como eles praticam o preço que desejam não podem impedir outro player de entrar no mercado e praticar o preço que deseje mesmo que seja um preço inferior ao que eles praticam. A isto chama-se concorrência

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  6. A um mercado em ebulição (imobiliário no centro de lisboa e porto)acrescentar a pressão de 1.400milhões de euros à procura, só pode dar certo!! E tudo isto, dizem, a promoção e reabilitação, em mercado aberto!! Adivinho, arrisco, em breve, para além da natural inflamação da bolha, que o valor destas subvenções à habitação, de classe média, excederá o valor das subvenções públicas à habitação social geridas pelo INH e pelas autarquias em causa (não esquecer que durante anos o Estado gastava mais em subvenções a juros para aquisição de casa própria, a quem tinha capacidade de aquisição no mercado, doque em habitação social. A mesma receita, portanto!)
    Quanto à rentabilidade para a segurança social, só à custa de subvenções públicas. O Estado garantirá, então, à Segurança Social e respectivos associados de ocasião e empreitada as rentabilidades previamente acordadas!! Não sei...tive uma súbita impressão de dejá vu

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