segunda-feira, 13 de junho de 2016

Iniciação

Uma das primeiras coisas que fiz quando vim para os EUA foi disparar uma arma. Durante o Fall Break de 1995, fui a Fort Smith, no Arkansas, com uma amiga minha cujo pai era polícia. Ele ensinou-me a disparar várias armas, entre elas uma Smith & Wesson e uma espingarda. Infelizmente, para além de não ter uma mão muito firme, pisco sempre os olhos com o barulho do disparo, logo seria provavél que usar uma arma para me defender não adiantasse grande coisa. Mas isto leva-me a pensar que, como eu, há muitas outras pessoas, logo a última coisa que eu quero é estar num sítio público onde há muitos alguéns como eu com armas.
A bem dizer, há alturas em que me apetecia dizer umas coisas aos idiotas condutores aqui do burgo, mas já sei que me sujeito a levar um tiro. Uma vez, nem disse nada uma mãe cuja filha se portava mal no supermercado e chegou a dizer à mãe que a odiava. Por falar nisso, quando sou parada pela polícia, quase me dá um enfarte. Meto as mãos bem visíveis, enquanto o polícia se aproxima, e quando ele me pede os documentos pergunto se posso abrir o meu saco e o compartimento do carro. É que se fizer as coisas antes de ele falar comigo, pode pensar que eu estou à procura de uma arma, logo há um protocolo de bom comportamento acerca de como agir nestas situações.

De regresso ao Arkansas: nessa visita andei com o pai da minha amiga no carro de polícia durante o turno da noite, mas antes tive de assinar um documento a dizer que, se me acontecesse alguma coisa, eles não se responsabilizariam -- nem eles, nem o meu seguro de saúde, pois se eu faço escolhas estúpidas, eles lavam as mãos e eu fico com a conta. Arrisquei... Nessa noite, ele prendeu um casal que estava a ter sexo no carro numa zona pública. Ela era prostituta.

Também foi preso um jovem que estava a beber cerveja dentro da sua carrinha, até houve uma perseguição a alta velocidade porque ele tentou fugir. A esse, dei um sermão, pois tinha protecção. Em vez de telefonar aos pais, o rapaz telefonou ao tio para o ir ajudar. Conclusão, o tio não apareceu e ele foi para a gaiola, pois não tinha dinheiro para pagar as análises de sangue para ver o nível de álcool. Já era mau ele ter feito o que fez; depois, ao não telefonar aos pais, acho que fez ainda pior. O polícia ficou impressionado com a minha capacidade de dar sermões.

É estranho, mas os EUA são muito mais violentos do que Portugal, mas normalmente sinto-me mais segura aqui. Nos sítios onde vivi, o crime sempre foi localizado e não há muitos assaltos. No entanto, tenho de ter bastante atenção em certos locais, especialmente numa cidade como Houston. Não posso estacionar ao pé de carrinhas e não posso estar dentro do carro parada num parque de estacionamento, pois isso aumenta a probabilidade de ser vítima de um crime.



3 comentários:

  1. Sente-se mais segura aí? É curioso porque, lendo o seu último parágrafo, eu comparo com o meu comportamento aqui (em Portugal em especial mas, apesar de tudo em outras cidades europeias também) e eu não sinto que tenho de ter bastante atenção em parte nenhuma. Mas é verdade que o sentimento de segurança em geral não tem grande coisa a ver com o risco que efectivamente se corre.

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    1. Acho que tem a ver com a minha tia. Quando eu era miúda e visitava a minha tia em Lisboa, ela estava sempre a dizer-me que, se não tivesse cuidado, ia ser assaltada. À noite, sinto mais receio em Portugal do que nos EUA. É estranho, pois é, até porque muitas vezes, quando faço viagens de carro longas aqui, é comum estar na estrada, ou parar numa bomba de gasolina, a meio da noite. Mas há sempre algo aberto nos EUA, há sempre pessoas a trabalhar e a fazer viagens em muitos sítios; já em Portugal, há sítios em que, à noite, está tudo fechado, nem sequer há muito trânsito.

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    2. Imagino que possa ter a ver com a sua tia. Lembro-me de levar a mãe duma amiga minha (uma das minhas quatro mães) a uma cidadezinha da Bélgica quando ela me foi visitar, de jantarmos e passearmos à noite numa Grand' Place qualquer e de ela comentar "aqui pode-se andar na rua à noite". Eu fiquei a olhar para ela porque se há cidade segura, é Lisboa. Mas há de facto um inquérito de vitimização fascinante de 2005 em 8 países, se não me engano, em que era perguntado às pessoas se elas, ou alguém do seu aglomerado familiar, tinha sido vítima de uma série de crimes nos 12 meses anteriores; com excepção dos roubos nos carros, os portugueses reportavam números abaixo da média em todos eles e, ainda assim, diziam que tinham medo de andar na rua à noite, vários graus acima dos suecos, por exemplo, que eram vários graus acima vítimas de crimes. A minha teoria é que isso se deve a uma desconfiança profunda do Estado (a CS também poderá ter a ver conm isso, mas acho que é uma coisa mais intrínseca). A única altura em que me lembro de ver pessoas de idade a andar descontraidamente à noite na rua foi na Expo de 98.

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