sexta-feira, 10 de junho de 2016

Urbanidade

Talvez por, na semana passada, ter passado aos 36, nesta semana deu-me para citar O Insurgente. Como se a coisa não bastasse, a primeira vez que o cito não serve para malhar na direita, como diria alguém, mas para concordar com muito do que é dito. A meu ver, a tese central do post é que i) o turismo não expulsou ninguém do centro histórico de Lisboa, porque ninguém, até há pouco tempo, lá queria viver, e ii) que se o problema é o preço da habitação, que se deixe construir mais. Concordo inteiramente com a primeira parte da tese, e parcialmente com a segunda parte. A segunda parte, no entanto, não merece um post - merece uma série deles. Vou esquivar-me a meter-me nisso, por agora.

Comprei um apartamento no Chiado três anos antes do início do período em que o autor do post marca o aumento do interesse dos lisboetas em viver no centro da cidade. Nessa altura, tinha vindo de Londres (para onde voltaria), e, além do pendantismo insuportável dos estrangeirados, beneficiava do contraste imediato de culturas que o regresso nos permite fazer. E uma das coisas que mais me surpreendiam, neste contraste, era o facto de os portugueses escolherem viver nos subúrbios não por ser mais barato e, enfim, ter de ser, mas porque genuinamente assim preferiam. Há, aliás, uma história muito expressiva a este respeito: uma antiga colega da faculdade, quando visitou a minha casa, lá mais para o final da visita, perguntou-me com um ar compungido, como que tendo desistido de tentar encontrar sinais que lhe permitissem perceber, por si mesma, o que teria entretanto corrido tão mal na minha vida: diz-me, porque é que tiveste de vir morar para esta zona? 

Aquilo que o post do Insurgente não faz, no entanto, é tentar explicar porque é que a cultura era aquela. E isso também é bastante interessante. Parcialmente, liga com a segunda parte da tese do post do Insurgente: o construa-se mais. As décadas do faroeste, de 80 e 90, assistiram a uma construção alimentada a crédito e terra baratos, completamente selvagem, sem balizas estéticas, éticas, lógicas, à volta de Lisboa. O excessivo "investimento" privado nos subúrbios contrastava com a escassez crónica de investimento público e privado na cidade, e com o desprezo votado pelos legisladores ao centro da cidade. São vários os exemplos. Praças inteiras como o terreiro do paço que serviam de parques de estacionamento, um metro que só na expo 98 se expandiu com o mínimo de significado, um sistema de transportes públicos não gerido centralizadamente, um porto de Lisboa com um quase monopólio de acesso ao rio, uma lei das rendas que matava qualquer interesse em investir no setor, a ausência de parques, de jardins, passeios, impediram o surgimento de um verdadeiro urbanismo. E o urbanismo, a meu ver, é uma marca da classe média.  

Seria portanto uma pena que esta urbanização tardia fosse travada pelo turismo. Alguma coisa terá de ser feita para que ambos convivam simultaneamente, isso parece-me claro. O que nos leva à segunda parte da tese. Soluções precisam-se, que não repitam erros do passado. 

34 comentários:

  1. No seu comentário acho que falta a referência a um factor que me parece muito importante: o automóvel. Enquanto que para os estrangeiros ou estrangeirados de passagem (não percebi se era o seu caso, mas eu também comprei uma casa em Lisboa enquanto vivia no estrangeiro) não ter onde estacionar ou mesmo parar um automóvel não é grande espiga desde que haja transportes (ou, como diz uma amiga minha, os táxis não foram feitos para os cães), para um português residente isso é, geralmente, um impedimento absoluto. Pode ser que a mentalidade mude mas, mais depressa ainda, vão surgir algumas soluções: num artigo que li no outro dia sobre uma recuperação de luxo dos Sottomayor Não sei o Quê na Duque de Loulé, uma das principais questões foi a construção de um grande parque de estacionamento subterrâneo; e vejo cada vez mais, por todo o lado, garagens a abrir em prédios normais, com aluguer ao mês ou à hora.

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    1. Não acho que o tenha esquecido, Isabel. Referiu-o implicitamente quando falei da falta de investimento público no transporte coletivo. E eu concordo consigo: é extraordinária a dependência do português em relação ao carro. Eu lembro-me que, tal como a minha ex-colega tinha pena de mim por eu ter ido viver para o Chiado, muitos amigos tinham pena de mim por eu escolher andar de metro para ir para o trabalho. Alguma coisa tinha de estar errada comigo.

      Essa mentalidade tem de mudar - mas isso é também o que quis dizer com o processo de urbanização da classe média.

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    2. Luís, não é que Lisboa necessitasse de maior investimento no sector dos transportes antes dos actuais tempos de penúria. Alguns aspectos pontuais, sim, mas com fundos já alocados ao sector dos transportes e que transitariam dumas rubricas para outras, nomeadamente de rubricas relacionadas com o transporte individual para rubricas relacionadas com o transporte público. O que Lisboa precisa, isso sim, é de coordenação dos transportes na Área Metropolitana. Portugal é o único país da Europa e, em geral, dos países desenvolvidos, onde não existe coordenação dos transportes ao nivel metropolitano e, claro, isso reflete-se na oferta e, por arrasto, atractibilidade dos serviços. Não é uma questão de atirar dinheiro para cima do assunto que, sem organização, nada resolve como não resolveu no passado. É uma questão de organização primeiro e só depois pensar onde e no quê é preciso gastar dinheiro. Agora, é daquelas coisas, uma autoridade metropolitana de transportes tem sido algo de que as câmaras municipais (começando logo pela de Lisboa) têm fugido como o diabo da cruz.

      De caminho, a última casa que tive em Lisboa, já lá vai mais duma dúzia de anos, foi na Baixa, na Rua Augusta. Também dispensei o carro e também era olhado de lado por amigos meus. É comum e normal ao ponto de que tenho alguns amigos em Portugal que em 30s e tais, 40s anos de vida nunca entraram num autocarro ou no metropolitano. Aqui bate o ponto. Contrariamente ao que sucede em várias outras sociedades Europeias, o automovel tem um valor simbólico muito pronunciado na sociedade Portuguesa e, além de tudo o resto, é contra esse simbolismo muito importante que luta quem pretende a transferência modal do automovel particular para o transporte público.

      A terminar: em Portugal ninguém quer saber dos transportes públicos para nada tirando na perspectiva de que todos querem que eles existem para os outros usarem e deixarem o caminho desimpedido para o carro de quem pensa. Governantes desde sempre sabem que investir em transportes públicos não dá votos mas abrir uma estrada é um maná. E isto advém precisamente da própria cultura Portuguesa o que torna o assunto muito dificil de mudar.

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    3. Há uma falta de respeito inacreditável pelas pessoas que usam transportes públicos. São completamente invisíveis. Um irmão meu comentava que houve um grande barulho quando se pôs a hipótese de o metro fechar mais cedo, mas há milhares de pessoas que se entrarem ao trabalho às 7 da manhã não tem alternativa ao carro ou ao táxi (coisa que ele constata muitas vezes quando tem de apanhar um comboio para o Porto em trabalho, por exemplo). Além disso, entre 2012 e 2014 (penso eu) houve uma greve permanente da CP às horas extraordinárias que fez com que os regionais ficassem frequentemente desguarnecidos para proteger o serviço que dá lucro, Alfas e ICs. Isso afectava milhares de invisíveis que trabalham nos subúrbios de Lisboa, por exemplo. Só se falava em greves quando, de vez em quando, havia uma greve geral.

      É uma das razões porque, lá bem no íntimo, eu gostava que todos os decisores (nos quais incluo a CS) fossem obrigados a usar exclusivamente transportes públicos, escolas públicas, hospitais públicos. Infelizmente isso só acontece em países que têm outros defeitos (e nem aí...).

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    4. Zuricher, acho que concordamos em quase tudo. Eu referi precisamente a centralização ou coordenação da rede de transportes públicos em Lisboa. Em todo o caso, parece-me evidente que o metro teria sempre de ser expandido fortemente, sobretudo para a zona oeste da cidade.

      E essa parte que referiu, de ter amigos que o olham de lado e nunca entraram no metropolitano, liga precisamente com o comentário abaixo, do Renato, que acha mesmo que o preço é o principal ou único fator para as pessoas escolherem viver na periferia.

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    5. Antes de pensar-se em expandi-lo há que ter dinheiro para ele retomar as velocidade e frequências que tinha antes dos actuais apertos e nem para isso há. Expansões, sim, algumas, mas com cautela e coordenadas com os restantes transportes. Se Portugal não tivesse restrições de dinheiros concordo plenamente que seria a solução ideal. Com as restrições de dinheiros existentes há que pensar em soluções menos boas mas possiveis. Soluções mais baratas tanto de implementar como, posteriormente, de operar.

      Claro que o preço não é o único factor para as pessoas escolherem viver na periferia. Quando fui viver para a Baixa vivia num paraíso a 25km de Lisboa e mudei-me para o centro da cidade. Depois de sair de Lisboa o meu primeiro poiso foi em Madrid e vivi no centro de Madrid. Há muito mais do que apenas o preço a influir nas escolhas das pessoas. Depende de cada um e da vida que tem.

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    6. Isabel, mas conheço muita gente que não entre às 7, e escolhe não usar o metro ou o comboio. Tenho até conhecidos em Lisboa que nunca, repito, nunca usaram o metro na vida deles. Sei porque um deles mandou-me uma mensagem há uns tempos a perguntar como se fazia.

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    7. Eu sei! Mas os que não usam o metro por escolha incomodam-me menos (embora neles se incluam os que decidem da vida dos outros todos) do que aqueles que não o usam porque não têm alternativa.

      Mais uma vez, os traumas portugueses (fome de muitas gerações, como diz uma amiga minha) só se vão resolver quando for chique andar de transportes públicos, quando for chique viver no centro da cidade. Será, penso eu, um dos resultados secundários mas não irrelevantes de Lisboa estar na moda junto dos "estrangeiros".

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    8. Sobre a velocidade e a frequência - cujas reduções achei profundamente pornográficas -, gostava de saber realmente os custso que permitiram poupar... Gostava de saber ainda se essa redução de custos foi compensada por redução na receita por as pessoas simplesmente deixarem de andar de metro. E gostava ainda de saber se há algum economista sério que apoiasse a decisão de, numa empresa com custos fixos e afundados gigantescos, faz sentido reduzir a frequência. Enfim.

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    9. Luís, não lhe posso quantificar directamente porque isso só tendo acesso à contabilidade do Metropolitano mas posso garantir-lhe que foram poupanças muito significativas tanto nos consumos energéticos como nos custos com material e, provavelmente, com pessoal. A este grau pormenor não é possivel chegar-se só com os RE&C.

      Quando se fala de transporte urbano, seja metropolitano, autocarros ou electricos, há um aspecto que há que ter em conta e que é a base do raciocínio. São operações inerentemente deficitárias, por si mesmas, e não há como serem operacionalmente lucrativas. Quanto mais frequências tiverem mais cara é a operaçao do sistema, mesmo que transporte mais gente. Precisamente por isto é que tanto o Metro como a Carris reduziram frequências e perderam passageiros mas simultaneamente reduziram o seu prejuízo operacional e, de caminho, aumentaram a ocupação. Agora, claro que isto tem vários outros contras.

      Os custos fixos estão lá. Não há nada a fazer com eles. Onde pode jogar-se é com os custos variaveis, ou seja, com a operação. Não há muito mais por onde mexer.

      Isto não é matéria para economistas generalistas mas sim para uma especialização da economia e da engenharia que practicamente não existe em Portugal, nomeadamente, economia e engenharia de transportes. Tenho por experiência que economistas generalistas ou doutros ramos da economia têm muita dificuldade em, sem formação prévia, apreender as nouances das questões de transportes o que engulha um pouco o raciocínio. Já agora, nisto também Portugal é caso único no mundo civilizado, a quase total ausência de quadros especializados em transportes tanto nas empresas do sector como ao nivel superior na secretaria de estado e no ministério.

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    10. Zuricher, não contesto que tenha permitido poupanças operacionais. Aliás, se o metro funcionasse apenas um dia por semana, de certeza que os custos desceriam ainda mais. A questão é que cheira-me que os custos operacionais que podem mesmo ser evitados com a redução na frequência, face aos custos fixos e afundados, seja uma matéria menor. O que deve ser visto sobre o outro prisma: face a um aumento reduzido no custo, pode servir-se muito mais gente, e impedir que essa gente use o seu automóvel ou o táxi, e que opte por viver longe do centro, etc.

      Outra questão interessante foi que, enquanto vivia em Lisboa, o meu passe subiu mais de 100% num ano. Antes, podia comprar um passe apenas para o metro (que era o que fazia) por 15 euros, e de repente passei a ter de comprar um passe com serviços que não usava, por 32 anos. Gostava de saber se a receita aumentou mesmo com esta medida, face à elasticidade da procura. Tenho para mim a teoria que estas medidas não foram tomadas para salvar o metro, mas para o afundar.

      Interessante o que diz sobre a falta de economistas e engenheiros especializados em transportes. Tenho um bom amigo português que é um engenheiro de transportes, mas acabou por me vir fazer companhia a Londres. Aqui há especialistas na área, de facto.

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  2. Os lisboetas preferem ir para os subúrbios do que para o centro de Lisboa, e não é pelo preço? Estou surpreendido. Pensei que era mesmo pelo preço que escolhiam o Cacém, etc. Qual é então o preço médio de um apartamento no Chiado que dê para uma família?

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    1. Posso perguntar a uma amiga que vive na rua de S. Julião há vários anos (talvez décadas) como é que o preço do apartamento comparou com outras zonas. Conhecendo-a como conheço, duvido muitíssimo que o preço não fosse um dos factores essenciais, se não o essencial, na escolha dela). E não, não é um T0, nem um T1, nem um T3...

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    2. É em parte pelo preço, mas não é só. O meu apartamento não foi caro. Foi o preço de um apartamento T3 numa daquelas urbanizações novas nos subúrbios, com a diferença que, neste último caso, teria garagem e elevador e porteiro e não sei quê. Pode ter a certeza que conheço muita gente que me diz que nem de borla iam viver para o Chiado. O Renato não conhece?

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    3. E não temos de discutir o Chiado, Podemos até discutir uma série de outros bairros centrais que ainda estão relativamente baratos, face à periferia. A Mouraria, os Anjos, a Penha de França, a Graça, Alcântara, Marvila, ainda têm preços baixos, e a maioria das pessoas ainda prefere claramente viver nos subúrbios.

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    4. Voltando só um pouco ao Chiado e zonas limítrofes, essa não é de facto opção para a grande maioria e por isso a questão nem se coloca. Para quem pode ter essa opção, digamos uma família de dois filhos e com um milhão na conta, talvez seja mais racional comprar uma vivenda em Oeiras ou um T3 no Parque das Nações do que um T3 no Chiado, que se calhar terá áreas menores, com menos espaço em volta para o lazer, etc. De uma forma ou de outra, as pessoas fazem sempre opções racionais. Eu, se fosse rapaz solteiro, adoraria ter um T1 no Chiado. Acho que até está na moda.
      Quanto à Graça, etc, também depende sobretudo do preço, em primeiro lugar, e depois das condições de habitabilidade, tamanho da família, distâncias, etc, etc.

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    5. Portanto, concluimos que não é só o preço. Quanto muito não concordamos na importância relativa do preço - eu diria que não é o mais importante de todo, porque a minha experiência é a de pessoas dizerem-me que nem de borla viviam no centro da cidade. Mas acho que concordamos no essencial - é uma questão que tem pelo menos uma forte componente cultural.

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    6. Luís, nunca é só o preço, mas este é sempre o factor mais importante, porque condiciona desde logo a nossa capacidade de opção. Certas zonas nem sequer são opção de discussão para muitos de nós, por isso mesmo.
      Eu nem sequer sou de Lisboa, mas em passeios de vez em quando por Lisboa, lembro-me de comentar com a minha mulher como gostava de viver precisamente nessa zona do Chiado, que parece mesmo o centro do país, até por razões culturais. Mas com dois filhos não sei se queria, mesmo que tivesse dinheiro para isso. Eu queria mesmo era ter uma vivendazinha, com jardim ;)
      Mas eu acho que certas zonas do centro de Lisboa continuam mesmo a ser mais chiques. A malta do society gosta mesmo é de ser fotografada naqueles apartamentos de pé alto, com teto em estuque, ou em estúdios com vista para o Tejo, não é em Odivelas. Pelo menos é o que sei pelas revistas. Acho que nem no Parque das Nações, que deve ser considerado bairro novo rico, com pouco carisma. Há uns dias a minha sogra tinha uma revista com alguém que era entrevistado num apartamento fantástico no bairro da Graça.

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    7. É claro que sim, há zonas no centro que são melhores que outras. Mas aquilo que leva muita gente a não querer viver no centro, a meu ver, não tem mesmo a ver com o preço em si mesmo. Tem a ver com uma certa noção de vida que não prescinde da lógica do subúrbio - conduzir para todo o lado, ir ao shopping porque não chove lá dentro, ir ao cinema porque se prefere ao teatro, e usufruir da praticalidade de urbanizações que foram desenhadas para facilitar a vida das pessoas, em vez de terem crescido organicamente. Esse "conforto", essa praticalidade, esse "desenho", essa "reprodução", o centro não pode oferecer - e seguramente não deve tentar sequer.

      E eu não estou obviamente a dizer que uma coisa é melhor que a outra. Mas noto que, por exemplo, em Londres, a malta quer ou viver no centro, ou então mesmo fora de Londres, no campo, numa casa, como o Renato referiu. Os subúrbios são, quase sempre, vistos como a alternativa barata, e não como uma opção de vida. Eu acho que em Portugal não é assim.

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    8. Os ingleses são estranhos (do nosso ponto de vista), fazem facilmente 3 ou 4h de comboio por dia para ir trabalhar. Talvez isso tenha a ver também com os horários de trabalho prolongadíssimos em Portugal que tornariam isso impraticável (mas não sei o que é o ovo e a galinha).

      O facto é que eu vivo numa aldeia (que até tem café/minimercado, bomba de gasolina, multibanco, centro de saúde, farmácia) em que se podem alugar casas inteiras com 4 ou 5 assoalhadas, terreno, etc. por umas poucas centenas de euros, e em que se poderia chegar a Lisboa de comboio às 8h18 ou às 9h11 e estar de volta às 19h07 ou às 20h07 e não passa pela cabeça de ninguém. A um inglês passaria.

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    9. Em Londres, depende dos subúrbios. Tenho familia em Sevenoaks (para além de Eastbourne e Londres) e aquilo não é exatamente a Portela de Sacavém ;)

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  3. Há várias questões culturais que, como todas as questões culturais, vão mudando com o tempo. A importãncia duma casa "a estrear". A importância dum prédio "com placa". A reabilitação, ainda por cima "de baixo para cima", ou seja, a partir da gama alta (há uns anos atrás houve um importante programa de renovação no Castelo e, tanto quanto sei, muitos dos habitantes não voltaram para as suas casas recuperadas) vai mudar mentalidades. Se calhar, mais rapidamente do que se imagina. Mas é totalmente absurdo tentar pôr a questão como sucessivos artigos de jornais o fazem (honra lhe seja feita, com excepção da Fernanda Câncio no DN de hoje, por exemplo), como se os nativos fossem impedidos de cumprirem o seu mais caro desejo de viver o centro da cidade pelas hordas de turistas que nele se instalam.

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    1. Sim. Vão mudando à medida que a nossa "classe média" deixe de ter medo de ser associada aos pobres, e deixe de sentir que tem sempre de andar a comprar bens, roupas e comportamentos que os distingam inequivocamente, aos olhos dos outros.

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    2. Isso. Custa-me imenso que ao fim de 42 anos não tenhamos passado disso, mas é a vida.

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    3. Leva tempo. Mas eu também ainda não perdi a esperança ;)

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  4. Parte da minha infância foi passada na baixinha de Coimbra, uma zona antiga, medieval, da baixa de Coimbra, que não tem o chique e a patine de algumas zonas do centro de Lisboa. Está despovoada agora, só lá moram praticamente pessoas idosas, simplesmente porque aqueles prédios têm poucas condições de habitabilidade. Uma das soluções, já em curso pela câmara municipal, é a transformação de vários prédios em estúdios para estudantes. É uma forma de revitalizar a zona. O facto é que já é difícil, hoje em dia, convencer alguém a morar num prédio de três, quatro andares, sem elevador, em apartamentos com divisões pequenas. O que eu quero dizer é que a maior parte das pessoas não toma opções sobre o sítio onde moram com base em razões culturais, mas sim em razões práticas. Noutra vida, como disse, se fosse jovem, solteiro, sem filhos e sem dores de costas, escolheria morar num pequeno apartamento recuperado no Chiado ou em Alfama, nem que tivesse de subir cinco andares sem elevador.

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  5. Renato, o que eu acho que acabaria por acontecer se deixassem as coisas seguir o seu curso, é que, aquilo que estão a começar a fazer em recuperações de luxo (parques de estacionamento, elevadores), seria progressivamente feito em outro tipo de prédios. É óbvio que isso só pode ser feito se houver um retorno razoável (e rápido). Não é, obviamente, com as rendas ridículas que houve durante décadas, nem com as rendas "económicas" que se pretende mais ou menos impor ao mercado que isso se pode fazer. Ou seja, na melhor das hipóteses, o parque habitacional de Lisboa vai levar um bom par de anos, senão décadas, a recompor-se de décadas de tentativas de controlo da situação.

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    1. Que rendas económicas, Isabel? O que eu vejo nos sites de arrendamento do centro de Lisboa são rendas altas, mesmo em prédios banais, que não devem ter elevador.

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    2. Estava a referir-me a isto:
      http://www.cm-lisboa.pt/noticias/detalhe/article/programa-renda-acessivel
      Mas afinal é construção nova, como de costume...

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    3. Mas o que a Isabel estava a querer dizer não é que o mercado imobiliário está mau nos bairros do centro de Lisboa, porque as rendas seriam baixas? É que eu nunca vi tanto negócio a fazer-se na venda e arrendamento como aí. Pelo menos é o que leio nos jornais e o que vejo nos anúncios. O problema é que os habitantes tradicionais vão sendo afastadas para os subúrbios. A última vez que estive em Lisboa, o ano passado, só via andaimes de obras de reabilitação, ali nas ruas em volta do castelo.

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  6. Mas quais habitantes tradicionais, Renato???

    Olhe, está aqui um artigo divertido do João Taborda da Gama sobre este assunto:

    http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/o-direito-fundamental-a-habitacao-em-alfama-vista-rio-5223481.html

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    1. Os mais pobres, os que pagavam rendas mais baixas. Eu não tenho problema nenhum com os valores que pedem; quem me dera a mim ser proprietário de um prédio em Alfama para vender ou arrendar aos camones ou aos lisboetas mais endinheirados. Estava só a responder à suposta crise do mercado habitacional nos bairros históricos de Lisboa, de que falava a Isabel, e aos anos que levaria a recompor.

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    2. Renato, o que eu quero dizer com a minha pergunta é que os habitantes tradicionais mais pobres e que pagavam rendas baixas não podem seguramente ser afastados para os subúrbios porque não têm idade para isso. Os seus filhos e netos vivem em Santo António dos Cavaleiros há décadas e nem tão cedo tencionam voltar para Alfama.

      OK, não tenho números, mas falo por aquilo que me dizem amigos que efectivamente vivem nesses bairros tradicionais. A ideia de que os seus habitantes estão a ser afastados para os subúrbios é um mito jornalístico. Há muito, muito tempo que estes bairros estavam quase vazios.

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    3. Isabel, os velhotes que vivem em Alfama, se calhar um dia destes vão ter mesmo de ir ter com os filhos e netos para Sto Ant. dos Calaveiros, quando deixarem de poder subir e descer escadas, se não forem para lares... Mas, como imagina, eu estava a falar de alterações graduais e estruturais, que demoram anos, e que não acontecem só em Lisboa. A única diferença é que umas zonas tradicionalmente populares/operárias se tornam chiques e trendy e outras não. Porque sabemos ambos que cada bairro tem tradicionalmente uma estrutura social dominante. Alfama nunca foi o mesmo que Campo de Ourique, da Lapa ou do Chiado. Mas, como disse atrás, insisto, estava mesmo só a responder ao que disse sobre uma suposta crise de mercado habitacional nos bairros antigos de Lisboa, o que contraria o que eu tenho lido e não bate certo com os anúncios.

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