quarta-feira, 6 de julho de 2016

É triste

Enquanto a União Europeia cai aos bocados, os europeístas mais convictos não se cansam de relembrar o sonho de “paz e prosperidade” de Robert Schuman e Jean Monet. Infelizmente, esse sonho é uma lenda. Uma lenda bonita e reconfortante, é certo, mas uma lenda. Na verdade, desde o início, a “Europa unida” foi um casamento de conveniência dos grandes vencidos da II Guerra Mundial: Alemanha e França, a que se juntaram a Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda. Antes, a ideia de uma “Europa unida” já havia sido defendida por fascistas franceses e nazis e não gozava por isso, à época, de boa reputação. A preocupação de Schuman e Monet era arranjar carvão para a indústria de aço francesa. Tentaram negociar com os russos, mas as coisas correram mal. Num acidente feliz, viraram-se para os alemães que os receberam de braços abertos. O chanceler Konrad Adenauer viu logo no Plano Schuman uma oportunidade para a Alemanha recuperar a sua soberania e regressar ao seio da comunidade internacional.
Ao contrário do que por aí se diz, o objectivo de Schuman e Monet não era evitar uma pangermanização. A Alemanha estava de rastos, completamente desacreditada e não passava pela cabeça de ninguém que pudesse voltar a ser a principal potência económica da Europa. A “Europa unida” não se fez a favor de coisa nenhuma, fez-se, isso sim, contra a América e a “Rússia”, como já explicou, por exemplo, o Vasco Pulido Valente vezes sem conta. Entretanto, a propaganda foi fazendo o seu caminho e muitos esqueceram-se das verdadeiras origens do projecto europeu. O nacionalismo, os egoísmos nacionais, os ódios de estimação nunca desapareceram. Ficaram apenas tapados pela cegueira e soberba dos “grandes líderes europeus” por quem agora muitos suspiram. A arrogância era tal que a União Europeia era apresentada como um monte de virtudes que o resto do mundo desejava imitar. O colapso do império soviético mudou tudo. O inimigo comum desapareceu e os EUA deixaram de se interessar pela Europa – Obama é o melhor exemplo desse crescente distanciamento. Quebrou-se o cimento que mantinha unida uma Europa desunida e cheia de contradições, prontas a rebentar com um abanão.
Ora, foi precisamente no momento em que se quebrou o cimento da união (o inimigo comum Rússia) que os tais grandes líderes europeus decidiram avançar para a moeda única, prevista no Tratado de Maastricht ou Tratado da União Europeia de 1992. Ignoraram a história. Deixaram-se inebriar pelo sucesso, sucesso que não perceberam ser fruto de um conjunto de acasos felizes e irrepetíveis. Conduziram a "Europa" a um beco sem saída. Bastou a crise económica para as forças subterrâneas voltarem à superfície. Hoje, já ninguém tem a certeza de nada. Mais ou menos integração? A falta de prudência e humildade tornou a “Europa” uma geringonça. É triste.

20 comentários:

  1. Oooolllléééé ao blogger que o merece!!

    Caro José Carlos Alexandre, acordar e ler uma prosa tão cheia de saber e realismo não tem preço. Realismo que tem andado muito arredado da generalidade dos corredores onde as decisões são tomadas. A fiar-mo-nos na narrativa mainstream, a NATO, coitada, nem existe e, se existir, é parceiro menor sem qualquer relevância para a paz na Europa.

    Folgarei muito se um destes dias ler um seu artigo sobre os porquês do Tratado de Maastricht. O que levou a que tenha havido esse salto nesse momento específico. Os motivos não são nada edificantes mas, não duvido, os seus dedos serão capazes de o descrever de forma tão clara e realista como descreve passos anteriores neste seu post.

    Obrigado por este texto que tanto prazer me deu ler.

    ResponderEliminar
  2. O Obama foi eleito com um mandato de mandar a UE às favas. Quando os EUA estavam de rastos, era a UE que olhava e dava lições de moral aos americanos, chamando-lhes irresponsáveis e culpados do colapso financeiro. O americanos não acharam grande piada e Obama agiu de acordo com as expectativas do eleitorado. Quem tem telhado de vidro não devia atirar pedras aos vizinhos...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu tambem acho que os europeus são basicamente uns cretinos na sua relação com os EUA, graças a cuja protecção, durante a Guerra Fria, se garantiu a paz na Europa (e não, ao contrário da lenda, graças à UE). Mas daí a dizer-se que o Obama foi eleito com um mandato de mandar a UE "às favas" (UE, "cuja", vocemecê se farta aqui de defender face à suposta "cegueira britânica") vai uma grande distância.

      Eliminar
    2. Acho que a Sra. Merkel a gozar com os americanos porque gastavam fortunas em despesa militar, enquanto que os mais pobres e desempregados não tinham acesso a cuidados mínimos de saúde, não caiu muito bem com o eleitorado. Chato, mas verdade... Como se diz, "quem está no convento, é que sabe o que vai lá dentro" e suponho que tu não estavas no convento na altura.

      Eliminar
  3. Ma mouche, JCA. Agora só é preciso que se organizem propostas de representação política que dêem consequência a análises lúcidas como esta, capazes de ir a votos sem entregar o poder a populismos fáceis ou meras vozes de protesto. Portugal é um dos países onde a sua falta mais se faz sentir.

    ResponderEliminar
  4. Eu também valorizo muito a expressão “lições da história” e do que costuma estar por trás do seu uso, sobretudo quando se pretende referir a necessidade de considerar o conhecimento disponível por todas as vias, frequentemente desprezado, e por vezes com base em razões fúteis. Uma vez ressalvado este aspecto distancio-me um pouco da seguinte interpretação:
    « (...)
    Foi precisamente no momento em que se quebrou o cimento da união (o inimigo comum Rússia) que os tais grandes líderes europeus decidiram avançar para a MOEDA ÚNICA, prevista no Tratado de Maastricht ou Tratado da União Europeia de 1992. IGNORARAM A HISTÓRIA. Deixaram-se inebriar pelo sucesso, sucesso que não perceberam ser fruto de um conjunto de acasos felizes e irrepetíveis.
    (...)»
    Baseando-me apenas na evocação, muito pessoal, de publicações diversas, lidas em diferentes momentos, os mentores do euro estavam prevenidos e bastante bem informados sobre a impossibilidade de repetir-se, na Europa, o sucesso do dólar até porque, do outro lado do mar, tinham sido bem claros e honestos, apontando para o Estado Federal que se encontrava por trás da sua moeda, nada a ver com a situação europeia.

    Ouviram, informaram-se, perceberam e, no entanto, quando decidiram, entregaram-se às pseudociências para acreditarem que, conferindo-se a entidades não eleitas certos poderes de decisão financeira se ficaria à margem dos desmandos dos políticos que tinham desencadeado guerras globais. [Existe uma maneira simples de ver isto, revendo o modo fantasmagórico com que François Mitterrand escolheu o indicador de 3% que seria carregado no Tratado…]

    Enfim, como atenuante, e também eles devem ter um, estávamos no tempo em que era muito mais raro o conhecimento estruturado sobre o sistema financeiro. Não tão raro assim na medida em que, por esse tempo, alguns correctores ingleses gozaram, em modo "british" alguns seus homólogos de outros países, por causa de eventos nos quais a ignorância teve forte peso. Inclusive em relação ao Portugal….

    António Guterres, um dos que percebera bem esta teia de que duvidadva, por falta de democracia, que muito bem sabia valorizar, conformou-se depois de ter ouvido um último conselheiro garantir-lhe que a "Europa" não nos deixaria "cair". Então, e no mesmo passo, "desenrascou-se" à maneira antiga portuguesa usando uma frase de conteúdo para-bíblico, e também porque era, ou queria parecer ser, ligeiramente beatão: "Euro, tu és euro e sobre ti edificaremos a União Europeia."

    ResponderEliminar
  5. Os portugueses, após se deslocarem do Império, ficaram com um complexo pós- imperial bem marcado, tal como os britânicos. Estes, contudo, como acabam de demonstrar, pese embora toda a pseudo - sofisticação anti- democrática também nestas páginas evidente - que já se livraram desse complexo. O português, porém, sente - se muito sofisticado enquanto embalado no suave regaço franco-germânico.

    ResponderEliminar
  6. Deve ser por isos que o mundo não tomba: este texto não faz o mais pequeno sentido para mim!

    Logo à cabeça:
    "A Alemanha estava de rastos, completamente desacreditada e não passava pela cabeça de ninguém que pudesse voltar a ser a principal potência económica da Europa."
    Mas não foi precisamente isso que se passou a seguir à Grande Gerra, com o resultado que se viu escassas décadas depois? Duvido muito que não passasse pela cabeça de ninguém tal coisa...

    Mas isso é de somenos. O que eu nunca entenderei é que se fale seriamente do "sonho europeu" com os olhos em álvaro, em vez de falar seriamente do "casamento de conveniência" que tornou complicadíssimos os divórcios litigiosos na Europa. Para mim parece-me evidente que cada país protege os seus interesses (ou pelo menos assim deveria ser), e não o dos outros. A questão, como na maioria das sociedades humanas, é fazer com que os interesses de uns e dos outros estejam de tal modo entrosados que seja muitíssimo mais interessante não andar à pancada do que andar à pancada. (Digo "sociedades humanas" mas poderia provavelmente dizer "comunidades de animais sociais", de que há N exemplos). A ideia brilhante de Schuman e Monet, segundo a lenda, foi conseguir isso com o núcleo litigiosos da Europa. Tão simples como isso.
    Por mim, não preciso de ideiais europeus para nada, bastam-me 70 anos de ausência de guerra nesse tal núcleo litigiosos, e a esperança (ahem) de mais 70.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isabel, não pode, de forma alguma, comparar a Alemanha de 1918 com a Alemanha de 1945. Aliás, e isto é paradoxal, de todos os contendores foi, de longe, a Alemanha aquele que acabou por sair melhor parado, mesmo tendo perdido a guerra. Não estava destruída e manteve intacta a sua capacidade de produção contrariamente a França que ficou de pantanas. Aquela loucura de Versalhes, ainda por cima, acabou por ser um cimento numa sociedade perdida e totalmente desencontrada. Podiam guerrear-se entre si e a Alemanha de Weimar foi, sobretudo a partir de meados dos 1920s, uma terra razoavelmente violenta. Mas Versalhes era o inimigo coum de todos e de toda a sociedade. Em 1945, não, de todo. A Alemanha acaba a Segunda Guerra totalmente destruída e rebentada, com a sua capacidade produtiva ou destruída ou levada como reparações, muitos dos seus grandes cérebros levados tanto por Soviéticos como por Americanos, a quase totalidade das patentes detidas por empresas Alemãs transferida para empresas Aliadas e, ainda por cima, debaixo do férreo controlo dos vencedores. Aí sim, os Alemães tiveram que fazer reset e começar de novo. Começar de novo em termos materiais e mentais, aliás. A forma como a Alemanhã ficou em 1918 não tem comparação possivel com a destruição total de 1945.

      Em relação ao seu segundo parágrafo, é evidente que a Isabel está muito certa ao escrever que cada país defende os seus interesses. A utopia (digna de manicómico, diga-se!) Europeia era precisamente que com a UE isso deixaria de acontecer e os países iriam abdicar dos seus interesses próprios, das suas alianças histórias, das suas influências geo-estratégicas, etc, etc, em prol dum difuso interesse Europeu. Só dementes podiam acreditar nisto mas foi o que aconteceu. E, aliás, as sociedades foram atrás encantadissimas. Ou já não se recorda dos tenebrosos anos '90, altura em que andava tudo embriagado de Europeísmo e quem se atrevesse a dizer um "ai" contra a UE era rotulado de xenófobo para cima?

      Permita-me apenas uma achega em relação ao seu último parágrado: 70 anos dos quais 45 de CEE e apenas os restantes 25 de UE. A CEE funcionou lindamente enquanto durou e nunca ocasionou problemas de maior entre os seus membros. Já a UE, em 20 anos, conseguiu barafundear as relações entre os países Europeus a tal ponto que se alguém o tivesse tentado deliberadamente não conseguiria. É importante também ver como é que aconteceu o salto (para o abismo!) da CEE para esta monstruosidade chamada União Europeia.

      Eliminar
    2. Eu sou um zero em história do séc. XX (e da outra, sabe Deus), portanto não vou discutir porque provavelmente me limitaria a repetir a cartilha que ouço. E talvez tenha razão na oposição que faz entre CEE e UE. Mas acho que as discussões entre anti-europeístas e europeístas são tão "emotivas" ou "moralistas" que me confundem. Até ver, o castelo de cartas tem-se aguentado. Não tenho de todo a certeza que sobreviva à pressão migratória, mas acho que, a cair, é por aí. Fora isso, é como a Rainha Vermelha: correr para se manter no mesmo sítio, ou seja, de pé.

      Eliminar
    3. O Zuricher resumiu melhor do que eu conseguiria o problema: devíamos ter ficado pela CEE, que funcionava bem. A imprudência, a megalomania, a arrogância levaram a integração longe demais, ainda por cima ignorando sempre a vontade dos povos. A Europa não estava preparada para saltos tão grandes. Agora, é tudo muito mais complicado e não há soluções boas.

      Eliminar
    4. Isabel, não se penitencie por não conhecer a história do século XX. Infelizmente isso é o normal e mais comum. E digo infelizmente porque sem se conhecer o passado não se entende o presente. Tenho para mim que para entender o mundo que nos rodeia é necessário conhecer a fundo a história pelo menos desde a Guerra Franco-Prussiana e, pelo menos em linhas gerais, desde a Paz de Westphalia. É que, quando não, fica-se pelas cartilhas que, não raro, são destinadas precisamente a perpetuar enganos. Deixe-me ilustrar com um exemplo simplezinho, básicozinho, o lugar comum de dizer-se que a Alemanha é responsavel por duas guerras mundiais. A realidade do que se passou é muito mais profunda, muito mais intrincada e está recheada de episódios vários. Atentando ao que efectivamente aconteceu se calhar a culpa da Alemanha fica reduzida a uns 30-35% no que toca à Grande Guerra e a uns 75% no que toca à Segunda. O mito dos Alemães belicosos contra os Polacos bonzinhos e indefesos é exactamente isso: um mito. É que os Polacos de bonzinhos, nada, principalmente contra os Alemães que viviam na Polónia de então e, embora posteriormente tivessem percebido que estavam indefesos, antes de serem conquistados numa semana não era essa, de todo em todo, a opinião que tinham de si próprios. A isto junte-se que os Ingleses lhes iam aquecendo as costas e desejavam efectivamente uma guerra no continente. E isto apenas um pormenorzinho de nada entre muitos que, se explanados todos, levam a pensar quão de real existe na história da Alemanha como culpada exclusiva de tudo e mais alguma coisa. Poderia perorar sobre este assunto o dia inteiro e estes acima foram apenas exemplos soltos para ilustrar os malefícios de se ficar apenas pela cartilha mainstream que não é mais, de resto, do que a história dos vencedores destinada, obviamente, a encobrir os seus erros e a glorificar as suas acções. Incidentalmente o melhor autor para entender tudo isto e que levou à Segunda Guerra bem como todo o contexto da época é um Americano, Eugene Davidson.

      Ora, de tudo isto advém um problema enorme para o presente e para o futuro: ao não se conhecer o passado não apenas não se sabe o que foi tentado e o que não foi como se desconhecem os contextos de tudo e mais alguma coisa, não se conseguem, sequer, entender as sociedades, os seus porquês, as suas motivações, o que as faz mexer, o que aceitam e recusam, enfim, o que se lhes pode pedir e o que não. Daqui, claro, sai que seja muito fácil tomar a acção errada. É que, é daquelas coisas: há apenas uma ou, como muito, duas maneiras de fazer uma coisa realmente bem. Há, a seguir, umas quantas formas mais de vagamente atamancar. O problema é que há depois infinitas maneiras de errar. É a vida!

      Concordo consigo quando diz que as discussões relativas à UE são muito emotivas e moralistas. De ambos lados, aliás. O que é um contra a que as questões possam ser apreendidas pelo público em geral. Num comentário que escrevi num dos últimos dias aludi a élites e sociedade civil, aquelas liderando esta. Neste assunto como em todos, essa condução levada a cabo pela nata, pelos de maior saber, pelos melhores de cada ramo do conhecimento, uma das muitas vantagens que tem é precisamente tirar as muito nefastas cargas emotiva e moral de assuntos tão importantes. O que não pode senão redundar em benefício para todos.

      O castelo de cartas tem-se aguentado... enfim, sinceramente nem sei. No nome sim, vai-se aguentando. No espírito já tenho as minhas dúvidas. Pode rebentar pela imigração como poderia ser por qualquer outra coisa. O mal foi sempre assumir-se que se podem tratar sociedades tão diversas com soluções iguais e de aplicação obrigatória a todas.

      Eliminar
    5. Caro José Carlos, penhorados agradecimentos pelas suas palavras. Não duvido, porém, que conseguirá falar do salto que levou da CEE à UE com muito maior concisão e facilidade de leitura do que alguma vez eu o conseguiria fazer. Imprudência, megalomania, arrogância e, por trás de tudo isso, medo. Tudo maus conselheiros...

      Concordo plenamente que neste momento já não há soluções boas. O grande problema é que quanto mais para diante, piores elas serão.

      Eliminar
    6. Zuricher, não me faça o desdouro de me imaginar a engolir cartilhas sobre povos bonzinhos e povos mauzinhos, uns de chapéu branco e outros de chapéu preto, como nos filmes de cowboys! Bem sei que a história é sempre escrita pelos vencedores e que só muitas décadas mais tarde temos uma vaga ideia do que efectivamente se passou. Aliás, estou profundamente convencida de que, dos 7 milhares de milhões actualmente vivos, devem contar-se pelos dedos duma mão os que efectivamente sabem o que se está a passar neste momento (aqui junta-se a minha teoria favorita sobre a informação tremendamente parcial com que funcionamos, claro...).

      Quanto ao castelo de cartas, penso que só saberemos que ele ESTAVA de pé quando ele ruir.

      Eliminar
    7. Isabel, de todo em todo, não foi minha intenção lançar qualquer desonra ou, sequer, o mais mínimo agravo, sobre si. Pelo contrário, aprecio muito ler os seus comentários. Podemos ocasionalmente discordar mas, como pessoas de bem que ambos somos, não são essas discordâncias que fazem diminuir a consideração que ganhei pelos seus comentários.

      E, falando em discordâncias, este é um aspecto em que, realmente, não estamos em sintonia. Mesmo antes da Segunda Guerra, aqueles que estavam atentos, tinham informação sobre o que ia acontecendo dum lado e do outro. Nomeadamente gente ligada aos mercados financeiros (é gente sempre muito atenta ao mundo) ia-se apercebendo das manobras daqui e dali. Hoje em dia é muito mais fácil aceder à informação e é possivel ir tendo, não digo toda, mas pelo menos uma grande parte da informação que existe sobre os temas que cada um de nós segue de forma mais aturada. É importante, sobretudo, ir vendo o que acontece. O que é dito, mormente pelos agentes políticos, tem uma importância não muito por aí além. Doutros quadrantes, alguns convém ouvir e, a muitos, convém prestar imensa atenção. Mais importante, porém, é ver o que vai sendo feito, seja pelos agentes políticos, seja por quaisquer outros, do económico ao militar. A eloquência das acções é muito superior à das palavras! Claro que é impossivel a qualquer um de nós seguir tudo com um apuro bastante para obter informação suficiente, tanto em quantidade como em qualidade. Mas, naqueles pouquinhos temas que cada um de nós segue e consegue entender, essa informação existe e é possivel ir mais ou menos não só entendendo como antecipando os tempos. Mesmo os mais informados e capazes podem errar? Naturalmente que sim. Mas a combinação de informação e saber reduzem largamente o erro.

      Eliminar
  7. O José Carlos Alexandre - cujo texto saúdo - está bastante offside (usemos um termo futebolistico, que vem a propósito) no geral europeísmo acéfalo que é o tom geral de muitas casas virtuais portuguesas, sejam elas de Direita Alienígena ou de Esquerda de Caviar.

    Tarda ao "europeísta" português perceber que não passa de um mero acessório - aliás, qualquer dia, perfeitamente descartável - da União Franco-Germânica.

    Entretanto, recomendo - por exemplo ao Luís Gaspar - mais uns artigos anti-vontade popular, disfarçados de análise da democracia representativa, ou então, o exílio em Bruxelas ou no Luxemburgo, terras preferidas dos apátridas "europeus".

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acho que está a atirar ao lado, Segismundo. Pouca gente é mais crítica que eu do estado atual da UE. Como português, estou convencido que a arquitetura disfuncional do euro vai hipotecar pelo menos uma geração inteira de portugueses. Acho nada menos do que criminoso. No entanto, também como português, não acho que Portugal consiga viver isolado. É esse o drama portuguÊs.

      Como londrino, o meu ângulo é necessariamente outro. As minhas críticas ao Brexit são feitas do ângulo de quem vê o RU do lado dos vencedores do estado atual da UE. A reação contra a UE é uma reação de querer voltar-se para dentro. Revela falta de solidariedade.

      E você fala da esquerda caviar. É mesmo curioso. Sabe lá você as discussões que eu já tive com muitos amigos de esquerda, que estão do seu lado, do lado do Brexit, que apoiam instrumentalmente para fomentar o desembramento da UE.

      Por fim, não me etiquete. Não me encaixo em nenhuma categoria política, e tenho orgulho de ser genuinamente independente (o que não significa que desprovido de ideologia, que isso, felizmente, ninguém é). Olhe, já que tenho os custos da independência, deixe-me também ter os proveitos.

      Eliminar
    2. Não o etiquetei, mas peço desculpa se assim fui interpretado, Luís Gaspar. Eu até acho que a etiquetagem e rotulagem são apenas vantajosas nos vinhos ;-).

      Só mais uma coisa: estar, ou passar a estar, fora da UE não significa necessariamente isolamento. Olhemos para a Suíça (que até tem mais acordos comerciais a nível global que a UE) e para a Noruega (ou, já agora, para o Japão, que, por razões óbvias, não é membro da UE).

      Eliminar
    3. Pois, mas o RU não é a Suiça. Tem outra responsabilidade.

      Eliminar
    4. Qual responsablidade? Essa é "beyond the pale". O RU tem primordialmente, tal como qualquer outro estado, a responsabilidade de tratar da sua própria vidinha. É isso, aliás, que fazem França e Alemanha, apenas com a hipocrisia de dizerem que o fazem em nome de uma abstracta entidade chamada "Europa".

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.