terça-feira, 31 de março de 2015

Celebremos!

A Bloomberg tem um artigo acerca da Alemanha, que diz o seguinte:
"Germany’s gain comes from being a relatively strong economy locked into a currency union with weaker partners including one, Greece, that could tear the bloc apart."

[...]

“All in all, the ECB-induced depreciation of the euro is finding more fertile ground in Germany than in the rest of the euro zone, which is still having to grapple with debt overhang and falling house prices,” Kraemer said last week.

Quer dizer, o estímulo do BCE está a ir para a economia que menos precisa. É bom ter uns parvos no sul da UE, ou não é?

O artigo está cheio de pérolas, como esta

"The inflation rate climbed to 0.1 percent in March, after two months below zero [...]"
ou esta
"What’s good for Germany should be good for the region as a whole."
Esta última é particularmente engraçada dado que a última década, que foi boa para a Alemanha, foi péssima para o sul da UE. Mas porquê perturbar a fantasia com um pedaço de realidade? Iupi, soltem o champanhe! Não, alto! Não podemos ajudar os franceses... Passem um copinho de gewürztraminer, em vez do champanhe. E não se enganem--o gewurztraminer não serve, porque esse é francês.

Da minha manhã para a vossa noite

Hoje o meu cão Alfred faz 10 anos. Já está comigo desde as 11 semanas. Estou muito orgulhosa dele: é bem comportado, carinhoso, sensível, gosta de me proteger quando sente que eu preciso, mas também é um cão independente e não tem paranóias. É a coisa mais próxima de um filho que eu tenho e terei, dada a minha idade. Claro que hoje, a primeira coisa que eu fiz, depois de desligar o despertador, foi dar festas ao Alfred e abraços. Enquanto o abraçava, vi o que tinha acontecido no Instagram e no Facebook. No Facebook encontrei o texto do Zé Carlos sobre o futuro e promessas e fiquei ainda mais feliz por poder ler uma ideia tão bonita logo ao início do dia.

Às vezes, de manhã, abro um livro de poesia numa página ao calhas, mas tem de ser numa que tenha um poema curto, pois não tenho muito tempo. Hoje, depois de ler o Zé Carlos, apeteceu-me ler outra coisa que me inspirasse. Abri o livro do Nuno Júdice, "O Fruto da Gramática", e foi mesmo nesta página. Fotografei-a porque quis levá-la comigo, o que é contra as regras. E agora violo as regras outra vez, mas é por uma boa causa porque quero partilhar o texto convosco. Talvez faça a vossa noite um pouco melhor, como se passou com a minha manhã. Talvez algum de vós vá comprar uns livros do Nuno Júdice e a minha alma seja parcialmente redimida. Vale tanto a pena lê-lo. É um privilégio poder ler português porque nós temos uma língua mágica e alguns dos nossos escritores captam essa magia.

Desejo-vos uma boa noite...

Orgulhosamente medíocre, apesar de austríaco

Diz um deputado austríaco que só os alemães e os austríacos trabalham e que, por trabalharem, o resto dos europeus, inclusive os portugueses, goza com eles. Tenho um amigo que me costuma dizer de certas pessoas "Aquele tipo nunca saiu do mesmo código postal.". Parece-me uma conclusão apropriada acerca deste deputado. E nós não devemos ser levados a sério porque só temos 1,60 m, continua ele. Enganou-se redondamente! Eu só tenho 1,53 m e trabalho e levam-me a sério. E se não me levam a sério, arrependem-se.

Por acaso, eu não conheço muitos austríacos; mas, no meu primeiro ano nos EUA, um dos alunos no mesmo programa de intercâmbio que eu era austríaco. Chamava-se Georg, e nós tínhamos uma aula juntos: era a aula de International Economics [ou era International Business ou International Trade, já nem sei o nome exacto] que era ensinada por um grego, se não estou em erro, de nome o Andreas Savviddes.

O malandreco do Georg, que tinha mais do que 1,60 m, fartava-se de faltar à aula. Note-se que numa universidade americana, não é muito bom faltar às aulas. Depois, lá vinha ele todo dengoso, pedir-me os apontamentos e eu dava-lhe porque eu gosto de partilhar. Uma vez, eu não fui à aula porque fiquei doente e pedi-lhe os apontamentos. Ele recusou, respondeu-me que estava tudo no livro. Ah, little fucker... Se ele partiu uma perna entretanto, foi do mau karma que cultivou nesse dia.

Podem crer que eu, que trabalhava no Gabinete de Relações Internacionais, comentei a falta de etiqueta do meu colega austríaco com as pessoas que geriam o nosso programa de intercâmbio. Eu não sou vingativa, mas também não sou estúpida, e a expectativa nos EUA é que as pessoas se ajudem umas às outras, especialmente se estão em circunstâncias semelhantes, o que era o caso, pois eramos todos participantes no mesmo programa. Para além disso, o Gabinete de Relações Internacionais tinha reuniões com todos nós, simultaneamente, para nós nos conhecermos e nos relacionarmos.

Já sei que um sujeito austríaco não é representativo de nada. Mas eu estou farta de ver generalizações negativas acerca de portugueses, mulheres, pessoas baixas, economistas, etc. E eu sou todas essas coisas: orgulhosamente portuguesa, orgulhosamente mulher, orgulhosamente baixa, orgulhosamente economista! E, por ser isso tudo, não sou uma confluência de mediocridade; pelo contrário, sou melhor do que muita gente. E não me venham com a história de falta de humildade. Humildade não é vergar-nos quando nos humilham.

E, só para verem como há austríacos que me agradam, deixo-vos as palavras de um dos meus poetas preferidos, Rainer Maria Rilke. E vocês deviam ler "Cartas a um jovem poeta".

Uma ideia tosca...

Vou plantar uma ideia tosca na vossa cabeça, não vos vou dar toda a teoria, mas apenas uma curiosidade. Talvez algum de vós se interesse por aprofundar o tema.

Pensar em risco é pensar em incerteza e, muitas vezes, pensa-se nas probabilidades associadas com diferentes resultados. Risco é uma coisa complicada e nós, frequentemente, arranjamos simplificações para tomar decisões. Uma dessas simplificações é o valor esperado que é uma média ponderada dos diferentes resultados, em que a probabilidade de cada resultado serve como peso no cálculo da média. Note-se que, se não há risco, então todos os resultados possíveis têm o mesmo peso no cálculo da média, logo é uma média simples.

Mas usar o valor esperado é muito problemático porque tem uma grande limitação. Um resultado com grande impacto e pouca probabilidade pode ter o mesmo valor esperado do que um resultado com menor impacto e maior probabilidade. Por exemplo, um evento que cause danos de €1.000.000 e que aconteça com uma probabilidade de 0,001%, ou seja, acontece, em média, uma em 100.000 vezes tem um valor esperado de €10; um evento que cause danos de €1.000 e aconteça com uma probabilidade de 1%, ou seja, uma em 100 vezes, em média, também tem um valor esperado de €10. Note-se que têm o mesmo valor esperado, mas não são de todo comparáveis por causa do perfil de risco.

A maneira como nós processamos o risco é uma coisa muito pessoal. Há pessoas que ignoram, logo, dizemos que são risco-neutras; outras que são muito avessas a risco; e outras que gostam de arriscar (amantes de risco). Vocês já pensaram na vossa atitude relativamente ao risco?

Costa não é Seguro

No tempo de Seguro, o PS apresentava entre 36 a 38% das intenções de voto nas sondagens. No tempo de Costa, o PS apresenta entre 36 a 38% das intenções de voto nas sondagens. Estes valores eram o “caminho das pedras” de Seguro. Na comunicação social, eram vistos como um sinal de fracasso e uma prova irrefutável da mediocridade e vacuidade do homem, que andava na política desde pequenino e não tinha feito mais nada na vida. Curiosamente, estes mesmos valores não suscitam os mesmos sentimentos e interpretações em relação Costa, que também anda na política desde pequenino e não fez mais nada na vida.

Costa tem a vantagem de disfarçar melhor o vazio de ideias, com um discurso redondo, mas que espremido vale zero. E nem os pouco mais de 11% obtidos anteontem pelo PS (em coligação com uma série de grupúsculos) nas eleições da Madeira parecem perturbar quem quer que seja. Se alguma lição o PS pode retirar deste episódio madeirense, é que não basta a Costa sentar-se em cima do desgaste do governo e esperar tranquilamente que o poder lhe caia em cima da cabeça.

Verdade que a comunicação social, aqui e acolá, fustiga Costa e o PS já dá sinais de ansiedade. Todavia, fica a sensação que parte da intelligentsia alimenta a secreta esperança de que, num dia de nevoeiro, Costa há-de aparecer cheio de propostas concretas, alternativas à política do governo. É só uma questão dos assessores acabarem de fazer as contas e rever os “cenários macroeconómicos”. Então sim.

De Seguro, nunca ninguém esperou muito. De Costa, muitos esperaram muito; agora, apenas alguns esperam alguma coisa. Por este andar, há-de chegar o dia em que já ninguém espera nada.

A importância da promessa

O futuro é por definição um mar de incertezas e o Homem precisa de algumas ilhas de segurança. Obrigar-se através de promessas, prometendo e cumprindo o prometido, sempre foi a solução para a caótica incerteza do futuro.

segunda-feira, 30 de março de 2015

A imprensa de referência

Primeiro foi o Público a dar voz, por diversas vezes, a homeoparvos.*
Hoje, temos o Diário de Notícias a dedicar duas páginas à vacinação, dando voz em igualdade de circunstâncias a quem é contra a vacinação.** Chega a pôr o presidente de uma associação de vendedores de banha da cobra lado a lado com um prestigiado pediatra.
A nossa imprensa de referência corre o risco de se tornar numa merda.

* Ver, por exemplo, aqui, aqui e aqui
** Link, apenas disponível para assinantes, aqui.

Tenho medo do beijo...

Quando li esta notícia da Sic acerca dos quatro pastéis que foram penhorados pelo fisco a um restaurante, lembrei-me da canção da Lena d'Água: "dou-te um doce em troca de um beijo salgado". Beijar o Big Brother português parece-me uma coisa assustadora, mesmo tendo os cofres cheios. Caramba, os cofres estão prestes a ficar cheios de formigas...

A próxima epidemia, diz Bill Gates

Num artigo no The New England Journal of Medicine, diz Bill Gates que não estamos preparados para a próxima epidemia. O ébola foi um bom exercício para demonstrar a nossa falta de preparação. A meu ver, também foi um grande exercício para demonstrar mais uma vez que Einstein tinha razão: não há limites para a estupidez humana. Diz Gates que o sarampo ou a influenza/gripe são bons candidatos a causarem grandes perdas de vida humana. Contrastem isto com a nova mania de que vacinar as crianças é uma opção. Atravessar a rua sem parar e olhar para os dois lados da rua também é uma opção e até poupa bastante tempo, mas julgo não ser uma opção que se ensine voluntariamente às crianças.

Estas coisas das epidemias são como o terramoto que irá atingir Portugal: é incerto quando, mas é certo que irá acontecer. Vocês podem dizer que é uma probabilidade muito baixa de acontecer, mas as probabilidades dizem-nos que acontece, sim! E nestas coisas dos terramotos e das epidemias nós temos a certeza que acontece porque já aconteceu. Quando a probabilidade é baixa, isso quer dizer que acontece raramente; não quer dizer que nunca irá acontecer.

Há quem pense que estar preparado para eventos de grande impacto e pouca probabilidade é caro; há outros que dizem que não há nada a fazer. O custo de não fazer nada também é muito caro, apesar de ser reconfortante pensar que ontem ainda não foi o dia em que tivemos de pagar esse preço.

Falta de sentido de oportunidade vai custar a Costa a maioria absoluta

António Costa enganou-se no timing e avançou cedo demais. Se Seguro ainda fosse hoje o secretário-geral do PS, e depois dos resultados eleitorais vergonhosos na Madeira, a contestação seria tão grande que não lhe restaria outra alternativa que não demitir-se ou convocar eleições primárias. Quase de certeza que optaria por esta última e iria enfrentar António Costa no terreno.

Como já estamos quase em Abril, essas eleições primárias decorreriam no fim de Maio. Costa ganharia e tomaria posse em meados de Junho. Entre a entronização de Costa e as legislativas teríamos o Verão pelo meio.

Ou seja, Costa ficaria sem hipóteses de mostrar aquilo que vale e, nessas condições, a maioria absoluta seria quase garantida.

Discutir salários

Parece que finalmente se descobriu a pólvora: a economia americana não irá crescer sem que os salários reais também cresçam. Isto devia ser completamente óbvio antes da crise financeira, mas havia a ilusão que mudar de casa era por si só um motor de crescimento. E também havia a ideia de que diminuir impostos para os mais ricos gerava riqueza. Saiu tudo furado! Finalmente, está mais enraízada a ideia de que tem de haver crescimento nos salários reais para se sair do marasmo económico onde se entrou.

O Walmart, a TJ Maxx, e a Gap já anunciaram aumentos de salários; a Starbucks antes já tinha anunciado um programa com melhores benefícios para os seus empregados. Os aumentos parecem altos, especialmente os do Walmart, mas quando se pensa que a estagnação do salário real já dura há 30 anos, mesmo aumentos dramáticos não compensam o que que foi perdido. Mas, pelo menos, discute-se salários acima do salário mínimo e tem-se a nocão de que ter um país em que uma fatia cada vez maior dos trabalhadores ganha apenas o salário mínimo é um país condenado ao fraco crescimento económico.

Em Portugal costuma-se discutir muito o salário mínimo como se isso fosse realmente uma vitória para os trabalhadores. Não é e não será. E será um grande insulto para os portugueses, que os políticos neste ano de eleições queiram usar o salário mínimo para ganhar votos. É preciso dizer aos nossos políticos que nós queremos ganhar mais do que o salário mínimo. Ganhar o salário mínimo deve ser uma coisa temporária, que acontece a quem entra no mercado de trabalho e não tem muita experiência, nem qualificações.

Uma empresa que paga o salário mínimo à maioria dos seus empregados não é uma empresa bem gerida. Essa foi mesmo a admissão do Walmart: eles pagavam o salário mínimo e as pessoas não ficavam no emprego, o que aumentava o custo de treinar os empregados e reduzia a produtividade do trabalho. Aumentar o salário dos seus empregados não terá grande efeito nos custos, pois aumentará a retenção de empregados e a duração do emprego, logo reduz o custo de treinar empregados.

Muitas vezes, nem o salário mínimo é pago em Portugal porque há uns empresários que também pensam que descobriram a pólvora:

  • Uns dizem que não é preciso pagar bem porque de onde veio um empregado, vêm muitos mais e, muitas vezes, atrasam-se no pagamento dos salários aos empregados porque usam a sua pequena empresa para financiar estilos de vida que estão muito acima do que seria aconselhável. O que estes empresários fazem com os lucros da empresa é com eles, mas atrasar-se no pagamento de salários porque usam as receitas para proveito próprio antes de pagar os salários, já é não é apenas com eles.
  • Outros empresários quando contratam dão opção ao trabalhador para não se declarar com as finanças e oferecem um salário. Depois ao fim do mês, não pagam o que prometem, mas como o trabalhador não está colectado é irrelevante. Para além disso, como é difícil arranjar emprego, um empregado sem outras fontes de rendimento não tem quase nenhum margem de manobra ou negociação. Está o empregado sujeito a aturar esta gente que pensa que é importante porque veste um fato ou tem um crocodilo na lapela.
  • Outros quando oferecem salários a mulheres oferecem um salário baixo, muito abaixo do salário mínimo; se a mulher diz que é muito pouco, eles informam-na que a expectativa é que ela viva com alguém (um marido, namorado, pais, etc.) que ajuda a pagar as contas. É a mesma porcaria que faziam no McDonald's onde os empregados que ganhavam o salário mínimo telefonavam para a linha de recursos humanos da corporação e eram informados em como conseguir subsídios do governo federal (food stamps).

Mas há uma diferença: a comunicação social americana saltou em cima da McDonald's e a imagem da companhia ficou severamente comprometida e as vendas nos EUA não estão muito famosas. Envergonharam os gerentes e a corporação! E será que há alguém que tenha a delicadeza de informar a Sra. Ministra das Finanças de que os cofres não estão assim tão cheios? Parece que um rato fez uns buracos no sistema Big Brother e aquilo anda um bocadinho roto e há muito dinheiro que nem sequer chega a entrar no cofre...

A blogger is born

O Ben Bernanke tem um blogue novo e chama-se, obviamente, Ben Bernanke's Blog. Mas acho que não será BBB. Está estacionado no Brookings Institute e hoje saíram os dois primeiros posts. Isto vai ser giro. O primeiro post foi aquecimento, o segundo já é mais "feisty", como se diz deste lado do Atlântico.

O segundo post comentou o estado das taxas de juro e, não só implicou com os senadores Republicanos (note-se que Ben Bernanke é Republicano), como deu uma canelada ao Jean-Claude Trichet ao mencionar que certos bancos centrais aumentaram as taxas de juro antes da economia ter recuperado. Bem, o Sr. Trichet não só diagnosticou mal a recuperação, como nem se apercebeu que a UE estava moribunda.

Ben Bernanke promete falar da estagnação dos salários reais a seguir. Não percam os próximos capítulos...

Como eu sou idiota...

Já que o Zé Carlos introduziu o tema e insiste, vou descrever-vos a minha idiotice mais recente. Alguém postou um vídeo de uma vaca a chorar na Nova Zelândia--não consigo encontrar o dito, senão mostrar-vos-ia. A vaca ia ser levada numa carrinha e começou a chorar. Afinal não ia para o matadouro, ia para um refúgio de gado bovino.

Quando eu vi a vaca a chorar, lembrei-me dos meus cães, mas foi ainda pior do que isso, porque os meus cães não choram assim: esta vaca chorava como se de uma pessoa se tratasse. E eu pensei que não me estava a apetecer comer mais carne. E depois pensei "É pá, os hambúrgueres do Bernie's Burger Bus são tão bons e a porcaria do restaurante é mesmo aqui perto. Até dá para eu lá ir a pé. E há carne no frigorífico da minha casa, não pode ser desperdiçada. Há bacon, há carne de bisonte moída para fazer chili ou molho de esparguete." Mas a imagem da vaquinha a chorar é forte. Tenho de me esforçar, decidi...

Hoje de manhã quando fui passear os meus cães, vi que os meus vizinhos tinham deitado um candeeiro fora. A parte de metal estava boa e não era feio de todo, logo eu levei para casa para ver se funcionava e, sim, estava perfeito. Comecei a pensar que podia comprar um quebra-luz de conchas de capiz. Notem que eu comprei um candeeiro de conchas de capiz na sexta-feira da Pottery Barn, mas é branco e acho que não vai ser o ideal para a minha sala, mas ficaria bem no meu quarto. E ter conchas no meu quarto calha sempre bem. Estava eu a sonhar com quebra-luzes que capiz e lembrei-me que a Pier One vende uns. E a Pier One, que fica na Rice Village, fica mesmo ao pé da Victoria's Secret. Ah! E eu tinha uns vales de desconto da Victoria's Secret. Hmmm, isto tudo a alinhar-se, que bom...

Saí de casa um bocadinho antes da hora de almoço, pois assim o pessoal ainda estava na igreja, logo haveria menos movimento e mais sítio onde estacionar. Cheguei ao meu destino e comecei a pensar no almoço. Tantas opções! Havia o Croissant Brioche onde eu me farto de ir, mas não é um restaurante a sério e lá há mil folhas e aquilo é uma tentação... Também havia o Le Peep, onde eu ainda não fui e que tem comida francesa, e eu comecei a pensar num bom croque Madame. Quando eu vivia em Oklahoma City costumava ir ao La Baguette, cujos proprietários são franceses, para o brunch ao domingo e eles tinham uns croque Madames divinais! Só que o croque Madame tem carninha e a imagem da vaquinha a chorar apareceu no meu pensamento. Ok, então decidi ir ao Shiva que é indiano e tem comida vegetariana. Almocei o bufete e, sim, escolhi tudo vegetariano. Muito bom, era saboroso e nenhuma vaquinha chorou dentro de uma carrinha.

Fui ao Pier One e os quebra-luz de capiz estavam em muito mau estado, com muitas conchas partidas. Pensei então que talvez no Cost Plus World Market estivesse em stock, mas isso era noutra parte da cidade. Fui à Victoria's Secret prestar os meus respeitos à roupa interior feminina e é claro que vim de lá aviada com um sutiã de renda, porque agora ando com a pancada dos sutiãs de renda sem forro. E tinha de comprar calcinhas que combinassem, e as calcinhas estavam em promoção--compre duas, leve quatro--e eu tinha um cupão para uma calcinha grátis, então já tenho mais uma semana de trabalho disponível em calcinhas. Quer dizer, é seguro afirmar que neste momento tenho lingerie suficiente para não ter de lavar roupa interior por pelo menos dois meses. Nunca se sabe quando chega o fim-do-mundo e eu vivo numa zona de furacões, logo tenho de estar preparada. E depois há os axiomas de preferência de Von Neumann-Morgenstern: mais lingerie é sempre preferível a menos lingerie, especialmente porque eu tenho as curvas certas!

Abandonei a Rice Village e fui à caça do capiz no World Market, e digam lá se não é conveniente, mas lá também vendem produtos da Castelbel. Comprei um sabonete e três loções made in Portugal, of course, o quebra-luz de capiz, chá Mango Ceylon da Republic of Tea (é um dos chás mais saborosos e eu adoro chá), salmão fumado, e dois chouriços tipo espanhol.

Depois vim para casa para tentar descobrir como é que eu vou afixar o quebra-luz, que é de pendurar no tecto, ao candeeiro. Percebi que tenho mesmo de comprar um conversor ou adaptador, logo dei um pulo ao Lowe's mas não tinha lá nada que me ajudasse. De saída parei para cheirar os cravos, que eram as flores preferidas da minha avó, e agarrei num vaso deles e fui comprar. No regresso a casa, na rádio estavam a falar da importância de nós brincarmos uns com os outros, de nos rirmos, e do papel que isso tem para estimular a imaginação, criar laços de empatia e confiança, etc. "Olha, porreiro!", pensei eu. "Eu já pratico estas coisas e nem sabia que estava na vanguarda da ciência!"

Quando cheguei a casa plantei os cravos num vaso. E foi nessa altura que eu me dei conta que tinha comprado chouriços e não tinha pensado na vaquinha a chorar. Ah, sou uma grande idiota! Que vegetariana falhada que eu sou, nem sequer uma tarde sobrevivi. E desatei a rir à gargalhada...

domingo, 29 de março de 2015

Ainda o lado idiota

Numa passagem de "As ligações perigosas" de Choderlos de Laclos, alguém pergunta sobre um intelectual. A resposta foi, e cito de memória: "Como todos os intelectuais, ele era imensamente estúpido."

sábado, 28 de março de 2015

A tratar da minha reforma

Pode parecer estranho, mas já ando a pensar na minha reforma desde os 15 anos. Foi por pensar na minha reforma que eu decidi ir estudar economia em vez de estudar inglês, que era realmente a coisa que me obcecava completamente. Eu andava sempre com um dicionário de inglês atrás e lia-o só porque sim. Mas reparei que havia muita gente que estudava inglês e não tinha emprego, então eu não quis ser desempregada. Eu amo o inglês, mas amo mais ter um emprego. Então ter um emprego onde eu uso inglês é ouro sobre azul. E não é que realmente aconteceu?

A minha fixação com a reforma deve ter qualquer coisa a ver com a minha avó materna, que vivia connosco. Quando eu nasci, ela é que tomou conta de mim durante os meus primeiros oito anos. A minha mãe sofria de depressão, o meu pai e a minha avó não se davam muito bem, então lá em casa aquilo era uma completa novela. Mas quando eu estava só com a minha avó, eu era muito feliz, as coisas eram calmas e previsíveis e extremamente educativas. Eu comecei a pensar que esta coisa de ser mãe era uma grande chatice porque eu notava que a minha mãe não era muito feliz, já a de ser avó era muito melhor.

A minha avó era reformada, logo parecia-me muito bem ser reformada, ir ao pinhal colher míscaros, andar pela rua e apanhar espargos silvestres para fazer omeletes e agrião aquático para fazer salada, dar gemada de ovos super-frescos e ainda mornos à Rita, fazer-lhe sopas fervidas... E depois a minha avó deu-me uma quinta: era um pedacinho de terra, com menos de meio metro de comprimento e talvez 30 cm de largura e na minha quinta eu plantava as sementes de salsa e alface que ela me dava. E eu, que não sou uma pessoa ingrata, dizia à minha avó que se ela quisesse mais sementes, podia depois colher da minha quinta quando chegasse à altura.

Claro que, quando precisavam de salsa da minha quinta, tinham de pedir a minha autorização porque eu não era parva. Era uma miúda muito calada, mas parva eu não era, apesar de o meu avô paterno costumar dizer "Esta criança é estúpida!" por eu não demonstrar grande personalidade. O mais giro é que depois de eu me tornar adulta, o meu tio disse que eu sou exactamente como a minha avó paterna, ou seja, a mulher com quem o meu avô se casou. E fisicamente, eu sou a "cara chapada" dela, como me disseram no outro dia quando eu mostrei uma foto dela. Extraordinário, não?

Mas como eu dizia, esta coisa de ser reformada já me interessa há mais de duas décadas. A primeira vez que eu vim aos EUA, passei pelo aeroporto de Cincinatti, no Ohio. Era Agosto e havia muita luz dentro do aeroporto e o aeroporto estava cheio de pessoas reformadas a conduzir carrinhos e muitas delas eram mulheres. E lá andavam todas felizes, com sorrisos enormes, e eu senti que a qualquer momento, o Rod Serling iria entrar em acção e dizer "You've just now crossed over into The Twilight Zone!" Mas não, era a normalidade americana. Os reformados fazem voluntariado para não morrerem tão depressa. "The number one killer is retirement!" é uma coisa que se ouve por aqui frequentemente.

Hoje em dia, os reformados americanos têm uma vida super-interessante: têm empregos part-time e/ou fazem voluntariado, jogam golfe, e têm sexo--muito sexo! As doenças sexualmente transmissíveis estão a subir nessa faixa etária. A comunidade com maior crescimento demográfico nos EUA é uma pequena cidade de cidadãos sénior na Florida, chamada The Villages. Quando eu vou a um museu, é reformados contentes por todo o lado. Quando se pede informações no aeroporto, o balcão de boas vindas tem uns reformados simpáticos. Nas universidades, os voluntários reformados vão buscar os estudantes internacionais ao aeroporto, ou levam-nos para casa durante um fim-de-semana. O meu grupo de conversação de francês em Fayetteville, no Arkansas, era quase todo de reformados. Havia uma senhora com mais de 80 anos, cujos pais eram franceses e tinham imigrado para os EUA--imaginem que o pai dela quase morreu com a gripe espanhola (1918)--, outros mais jovens, mas que tinham sido voluntários do Peace Corp em África, etc.

Em Portugal, os nossos reformados não têm vidas tão interessantes. Mas criar oportunidades para eles fazerem voluntariado é mau porque o país está pobre e não há dinheiro para dar emprego a desempregados, logo por que razão se iria criar oportunidades para os reformados se distraírem e contribuírem para a sociedade? É uma lógica daquela que é multiplicativa, à la Ministra das Finanças, porque estando eles em casa também não se arranja dinheiro para dar emprego a desempregados. Temos é que arranjar dinheiro para pagar as contas do médico dos reformados porque uma pessoa só e deprimida acaba por adoecer mais frequentemente--e também morre mais depressa, talvez seja esse o objectivo.

Olhem, tirem daí o cavalinho porque eu vou gastar o dinheiro da minha poupança-reforma em Portugal. Vocês têm um pouco mais de 20 anos para tratar de me arranjar uma vida à americana, com muito voluntariado e sexo. O golfe dispenso porque eu não sou uma pessoa muito exigente.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Confirma-se que estudou por lá

ADENDA: Costuma-se acrescentar a adenda no fim, mas neste caso o desmentido é suficientemente importante para ser acrescentado no início. Seguindo um link que me foi apontado por uma amiga de FB, fui ter aquionde se confirma que a tese foi mesmo entregue em 2013. Assim, o que está escrito a seguir fica sem efeito. Não apago, por ser contra as regras não escritas dos blogues.


Na sequência das notícias de hoje sobre o livro de Sócrates que, alegadamente, poderá ter sido escrito por outrem, andei, com uns amigos, a passear pelo registo de teses em França. Tanto quanto consigo perceber, nunca José Sócrates defendeu a tese de mestrado.
A tese de José Sócrates apenas aparece na listagem de teses em preparação:
Teses em preparação
Na listagem de teses concluídas não aparece nada.
Teses defendidas
Na página da orientadora, Astrid von Busekist, aparecem várias teses por ela orientadas, a última das quais defendida em 2014, mas a de Sócrates aparece como tese ainda em preparação, ou seja, nunca entregue.

Parece que se confirma que José Sócrates foi mesmo aluno de SciencesPo em Paris. Já é melhor que nada.

Eu não desisto...

Já devem ter reparado que eu sou muito teimosa. Sou! É uma das melhores qualidades que tenho. Se eu desistisse facilmente, estaria lixada. Para além disso, tirar mestrados e doutoramentos não é um teste de inteligência, é um teste de teimosia. Há muita gente com inteligência suficiente para os tirar, mas desistem pelo caminho.

Esta semana é a Semana dos Museus. Hoje é sexta-feira, logo eu insisto, e não desisto, em sugerir que, este fim-de-semana vão a um museu. Vocês não imaginam o cuidado e o dinheiro que é necessário para os manter. É preciso aproveitar estes recursos, especialmente em Portugal porque nós temos coisas muito giras. E, como é Primavera, pode ser que encontrem alguém interessante com quem conversar.

Esta foto abaixo é do Jardim de Escultura Cullen, em Houston, ao lado do Museu de Belas Artes (visitem a página, que tem muitas fotos giras), quase à hora do pôr-do-sol. Quando recebo visitas, levo-as lá. É um dos meus sítios preferidos e, sempre que lá vou, sou feliz.

Quando lá levei uns amigos italianos, a rapariga adorou e ficou muito surpreendida por estar tudo tão bem mantido. Ela disse que, se fosse em Itália, estaria tudo cheio de grafitti. A falta de vandalismo não é porque os americanos sejam cuidadosos. Este jardim está sempre com um guarda e, às 10 da noite, é fechado o acesso e anda um guarda sempre por perto. Não é de surpreender: algumas das peças em exposição são emprestadas, logo convém não abusar da sorte. Note-se que muitas das pessoas que guardam portas nos museus, aceitam bilhetes, etc., são voluntários, muitos deles pessoas reformadas.

A escultura acima, em bronze com patina, é "Exhaling Pearls" (1993) de Joseph Havel (americano, n. 1954).

Surrealismo europeu...

Hoje fui ler o Der Spiegel por causa do acidente aéreo, dado que a Blommberg tinha-me enviado uma notificação push por causa dos documentos que foram encontrados em casa do piloto. Não se preocupem, eu não sei tudo--eu não sei ler alemão, apesar de eu achar que alguns dos poemas de Rainer Maria Rilke são muito bons, mas eu leio a tradução em inglês.

Na página do Der Spiegel em inglês, está lá uma notícia de como a Espanha recuperou e está a emergir como um modelo para a Europa. O artigo é comprido, diz que a Irlanda e Portugal também são exemplos a seguir:

Along with Portugal and Ireland, Spain represents an example of how an economic crisis can be turned into an opportunity. These countries' experiences show that a nation can recover its economic competitiveness through painful reform, even in a monetary union.
A Grécia é um exemplo a não seguir:
[...] Spain -- especially in the eyes of liberal economists -- represents the counterpoint to Greece, which has gotten entangled in its national battle against economic relegation and is losing ever more time with its recriminations against the rest of the euro group. That's one view.

E o que é que faz a Espanha tão magnífica aos olhos dos alemães? É que se tornou numa mini-Alemanha:

The model being emulated by the country during its upturn is unmistakable. During the crisis, Spain copied the German economic model, successfully putting its emphasis on exports. In 2014, almost one third of Spanish goods and services were shipped outside of the country. 25,000 new jobs were created in the Spanish car factories of Opel, Seat, Renault, Ford and Nissan alone. Once the unions consented to making production more flexible, Mercedes invested €190 million ($208 million) in the factories. "We've been on the move," says López, who also once worked in Stuttgart.
E depois há cerejas no cimo deste bolo, porque para ajudar isto tudo, o euro está barato--obrigada, ó Grécia. Syriza, seus malucos, vocês dão um jeitaço...
The European Central Bank is predicting that Spain will be one of the economic drivers of Europe in 2015. Powered by a cheap euro and low interest, economic growth is predicted to rise by 2.3 percent this year. The Spanish government is expecting one million additional jobs for 2014 and 2015.

Mas note-se, todo este sucesso depende muito da indústria automobilística: o que está a crescer são as exportações de automóveis. Isto faz muito sentido, porque em Portugal o que está a crescer são as vendas de automóveis. Está a dar-me vontade de ouvir o GRAVITY do James Brown porque o modelo de gravidade de comércio internacional prevê que a maior parte do comércio internacional de um país é com os países vizinhos. Há uma atracção entre países vizinhos para comercializar uns com os outros, uma coisa parecida com a lei da gravidade.

Há umas nuvenzinhas, porque isto é tudo surreal como os quadros do René Magritte--já viram aquela garrafa de vidro que ele pintou com nuvens? As garrafas estão em saldo, tomem lá três pelo preço de uma:

A questão do desemprego espanhol é uma grande porcaria: acima de 23%. Fuck me running backwards on a rainy day!!! Como é que um país em que uma em quatro pessoas está desempregada é um modelo para o que quer que seja, especialmente quando os países têm dívidas públicas anormais? Só na União Europeia... Se se dissesse uma coisa dessas nos EUA, ser-se-ia tão ridicularizado que, por isso, ninguém se atreve a fazê-lo, nem sequer pensá-lo.

Reparem, não há nada diferente na UE. Ter desemprego anormal é normal. E dar subsídios independentemente do valor dos projectos para a economia continua a ser o modus operandi, apesar de o Der Spiegel dizer que há mais cuidado. Não há mais cuidado nada, a própria revista afirma que os subsídios foram cancelados por causa de uma reportagem deles. Diz o Der Spiegel:

Even the European Union, for whom Spain was one of its biggest subsidy recipients, has become more careful. It had plans to co-finance the unnecessary expansion of a container terminal in Cádiz, Andalusia, which has been little used for years. In the wake of a SPIEGEL report about the plans in October, the EU cancelled its co-financing in early March. Now Spain needs to submit a new project proposal for the project, which the public port company had already almost finished building using loans.
Mas note-se que quem barafustou pelos subsídios à Espanha foram os media alemães; os espanhóis ficaram caladinhos...

Está aberta a época

Ontem tivemos os primeiros tornados do ano e houve uma fatalidade em Oklahoma. Partes dos estados de Oklahoma, Kansas, Arkansas, Missouri, e Texas tiveram tempestades de trovoada e alguns tornados. Houve um tornado que passou por Moore, OK, e causou alguma destruição. Passei muitas vezes ao lado dessa cidade quando viajava entre Stillwater e Oklahoma City. Há sítios que são atingidos por tornados frequentemente, Moore e Mulhall são duas povoações em OK que o são. Eu acho que dificilmente lá viveria; também não há lá nada para eu fazer, logo não haveria razão para eu lá viver. Outro tornado andou por Sand Springs, por onde se passa para ir de Stillwater a Tulsa. Nem sei quantas vezes por lá passei, mas foram muitas. Broken Arrow também teve tempestades, é uma cidade como Sand Springs, mesmo ao lado de Tulsa; Tulsa é a segunda maior cidade de Oklahoma, depois de Oklahoma City. Foi em Broken Arrow onde passei o Natal de 1995.

Oklahoma tem o melhor serviço de previsão e identificação de tornados do mundo. Mesmo a sociedade está bem organizada. Quando há condições para a formação de tornados eles colocam um Tornado Watch; se é mais sério, colocam um Tornado Warning, pois a super-célula já tem actividade muito perigosa e a pessoa tem de procurar abrigo. As emissões de TV e rádio são interrompidas e o meteorologista diz-nos onde estão os tornados, se já tocaram no chão, o seu percurso potencial, a velocidade a que viajam, quantos minutos demora para eles atingirem cada população, etc. As sirenes tocam, mas não tocam todas ao mesmo tempo. Aquilo só toca mesmo quando há perigo e vai de população em população de acordo com a trajectória. Quando eu vivia em Memphis, tocavam as sirenes em toda a cidade por qualquer nuvenzinha e as pessoas nem ligavam: continuavam a trabalhar e nem iam para abrigos. Em Oklahoma não é assim, eles são super-metódicos e querem que as pessoas levem os avisos a sério. O melhor previsor de tornados do mundo é Gary England que, quando se reformou, até teve direito a uma história no The New York Times. Leiam o artigo para aprenderem o jogo do Gary England.

Desde que vim para os EUA até Novembro de 2013, vivi sempre algures em Tornado Alley, a parte dos EUA que é propícia a tornados. Os tornados são comuns na Primavera e no Outono. Uma das causas de tornados é quando uma corrente quente de ar vinda do Golfo do México se encontra por debaixo de uma corrente de ar frio vinda do Canadá. O ar quente é mais leve do que o ar frio e quer subir; o ar frio quer descer. E assim começam algumas rotações de ar. A altura mais perigosa do dia para a formação de tornados é por volta do pôr do sol. Houston também pode ser atingida por tornados, especialmente se há um furacão pelo meio, mas não faz parte de Tornado Alley.

Lembro-me perfeitamente do dia 3 de Maio de 1999, o ar estava muito húmido e abafado e não havia vento nenhum. Ao anoitecer, houve uma super-célula que criou uma das maiores actividades de tornados que atingiram os EUA. Só nesse dia, 58 tornados atingiram a zona de Norman, OK, ao lado de Oklahoma City, cerca de hora e meia de onde eu estava. Onde eu estava também apareceu um, mas não causou grandes estragos a não ser uma vítima que estava num carro na auto-estrada. Alguns desses tornados estavam organizados como se fossem uma parede e levaram tudo à frente.

Quando eu falo em tornados, os meus amigos portugueses ficam horrorizados. Mas há qualquer coisa mágica quando se vê tempestades na planície. Sentimo-nos muito pequenos, mas parte de uma coisa muito grande. Somos espectadores impotentes perante a natureza. Tenho muita pena que haja tanta destruição e fatalidades, mas sinto grande respeito por estas tempestades. Nunca vi nenhum tornado ao vivo, mas já sonhei com eles. É raro ver-se um tornado ao vivo porque atingem sítios muito específicos e quando causam danos em populações, pode acontecer haver vizinhanças em que um lado da rua está perfeitamente normal e o outro lado todo destruído.

Aqui está um vídeo da super-célula de ontem em Broken Arrow.

Thanks to Sam Mather for this timelapse video as the wall cloud moved towards Broken Arrow, OK. #ktulwx #okwxMeteorologist Mike Collier

Posted by Tulsa's Channel 8 on Wednesday, March 25, 2015

quinta-feira, 26 de março de 2015

O lado idiota

Nos seus “Ensaios”, Montaigne não teve pudor em sugerir que Platão era limitado e estúpido, considerando que “os seus Diálogos se arrastavam lentamente abafando este assunto e lamentando o tempo gasto nessas longas e inúteis discussões”. E sobre Cícero não foi mais meigo: “procuro descobrir que tom e substância é que consegui tirar dele, na maioria das vezes não encontro nada, apenas vento.”

Para Montaigne, até o mais sábio dos homens tem sempre um lado idiota. E a primeira prova de sabedoria está em admiti-lo.

Força e poder

Um Homem pode ter toda a razão e força do mundo, mas, se estiver só e isolado, torna-se impotente. Renuncia ao poder. O poder só existe na relação com os outros, como muito bem sublinhou Hannah Arendt.




Esta jovem devia estar desempregada...

Em vez disso, com apenas 28 anos, tem o seu perfil publicado na Bloomberg porque faz perguntas curtas e difíceis num país onde reina a subtileza verbal.

Proponho que se faça uns clones da Mariana Mortágua. E peço encarecidamente que dupliquem o salário desta jovem, que fica acordada até às três da manhã a ler a papelada do BES. Ela merece isso e muito mais...

Seria um grande Pastel de Nata

Na semana passada, no programa da Diane Rehm, houve uma entrevista a Sally Jewell, que é U.S. Secretary of the Department of Interior, que em Portugal seria o equivalente a Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia. A Sra. Jewel, que vêem aqui na foto numa indumentária muito pouco ministerial, tem um background do mundo de negócios e até foi CEO da REI, que é uma companhia que vende equipamento para actividades ao ar live, como campismo, caminhadas pelo mato (chama-se "hiking" em inglês), etc.

Ela tornou-se Secretária do Interior em April de 2013 e começou um programa de cooperação entre o estado federal americano e o sector privado. Diz ela que reparou que os jovens americanos não passam muito tempo ao ar livre e não têm grande conhecimento dos recursos naturais do país. E depois também notou que havia muito desemprego entre os jovens. Então ela decidiu implementar um programa de conservação do território que usa alguns jovens como empregados e muitos como voluntários, porque não tinha dinheiro para pagar a toda a gente.

O sector privado entra por duas vias: a American Eagle, uma empresa que vende roupa para jovens, deu uma doação que vai ser usada para pagar parte do custo do programa e depois comprometeu-se a dar preferência de emprego aos jovens voluntários do programa. O objectivo é educar os jovens, mas também é ensiná-los a trabalhar em equipa, a liderar e ter iniciativa, ter responsabilidades, etc. Ou seja, quando a American Eagle se compromete a dar emprego a alguns destes jovens, já sabe de antemão o treino que tiveram e também sabe que são jovens que têm sentimentos altruístas e querem contribuir para melhorar a sociedade.

Durante a entrevista, é patente o entusiasmo da Sra. Jewell não só pelas suas responsabilidades para com o território e o ambiente, mas também por estar a contribuir para enriquecer a experiência dos jovens americanos e a torná-los melhores cidadãos. Mas a maneira como ela fala dos jovens é que é realmente extraordinária porque ela diz qualquer coisa como "Eu vou a estes locais ver como as coisas estão a ser feitas e os jovens ensinam-me o que estão a fazer e a importância do que fazem!"

Imaginem vós um ministro em Portugal que se vestisse assim, a dizer que ia a um sítio com jovens e os jovens é que o ensinavam e treinavam e, depois, ainda por cima, usava jovens desempregados como voluntários! No dia a seguir nos jornais, na TV, na rádio, apareceriam todos os craques de Portugal a dizer que o Ministro não percebia nada, não tinha respeito nenhum pelo povo porque se vestia como se fosse tomar o café no bar da esquina da sua vizinhança e era adepto da escravatura com esta história do voluntariado. E, depois, como é que era uma pessoa capaz, se até tinha de ser treinado por jovens. Ainda por cima jovens portugueses que são muito inúteis--é por isso que o país os mantém desempregados em casa dos pais depois de os manter anos na escola, pode ser que o conhecimento dos pais e dos professores seja transferido para os jovens por osmose. É óbvio que todos os especialistas chamariam a um Ministro deste calibre um grande Pastel de Nata.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Perguntas para o BdP

Olha que bom! A economia portuguesa está projectada para crescer 1,7% este ano, em vez de 1,5%. A maior parte do crescimento é devido ao aumento da procura interna que crescerá 2,4%, em vez de 2,2%; mas o investimento cresce 4,2%, em vez dos 4,4% anteriormente projectados. Isto não é uma reversão ao tipo de crescimento que tínhamos antes de darmos um trambolhão, em que o motor era a procura interna, muita dela financiada a crédito? Os salários e o emprego já aumentaram o suficiente para alimentar o crescimento da procura interna ou andamos nós a aumentar o consumo porque temos mais dinheiro disponível porque os juros estão baixos e o BdP presume que estes estarão baixos durante muito tempo? Aliás, a inflação supostamente cai para 0,2%. Aumento da procura interna e desaceleração da inflação--parece-me muito esquisito. Ou será um reflexo da baixa de preços do petróleo? Ainda por cima o euro está fracote, logo as importações ficam mais caras.

E, depois, poderemos todos usar óculos de sol porque o futuro é brilhante, dado que as exportações estão projectadas para continuar a crescer e levar-nos a um PIB com um crescimento de 3,5% em 2017. Chamem-me o que quiserem, mas eu não acredito. Se a projecção diz que o PIB vai crescer 3,5% em 2017 (CORRECÇÃO, A TAXA PROJECTADA PARA 2017 É DE 2%), quer dizer que há 50% de probabilidade de ela estar acima e 50% de ela estar abaixo. Eu gostaria muito de ver Portugal a crescer assim, mas olhem para a nossa história e nós nunca crescemos a uma taxa assim dentro da zona euro, mesmo quando tínhamos investimento público anormalmente alto. Para além disso, temos uma pressão demográfica e uma dívida que não tínhamos nos bons velhos tempos.

Ou seja, eu não percebo nada da lógica destes números e gostaria que se fizessem muitas perguntas acerca de como é que foram cozinhados, especialmente porque estamos em ano de eleições e já se vê muita gente a fazer promessas que não irão cumprir. Não se acanhem, perguntem, mas façam perguntas difíceis. Portugal precisa de quem faça perguntas difíceis antes, e não depois, das crises. ACTUALIZAÇÃO: A taxa projectada para 2017 é de 2% e não de 3,5%. De 1986 a 2012, a média geométrica da taxa anual de crescimento do PIB a preços constantes foi de 2,15%; se incluirmos as últimas projecções para 2013 e 2014, é de 1,98%.

No sítio certo, à hora certa

Hoje, foi às três da manhã que decidi levantar-me finalmente. Desisti da cama por uns minutos porque já tinha desistido do sono há duas horas. A primeira coisa que fiz foi ir à rua para ir ver o céu. Durante a primavera, a noite é a minha altura preferida do dia. Em Houston, o céu não fica muito escuro; há sempre uma certa luminosidade por causa das luzes da cidade. Quando há nuvens, sinto-me como se fizesse parte de um quadro de Magritte. Não sei se é por isso que não consigo ver estrelas cadentes por aqui.

A última estrela cadente que vi foi em Lisboa, em Setembro do ano passado, e foi por causa de um gato. Eu estava em casa de uma amiga sozinha com o gato dela. Era a minha última noite em Lisboa e tinha chegado a casa tarde. Fui à varanda e o gato acompanhou-me, mas depois não quis voltar para dentro. Passei algum tempo a tentar chamá-lo, até que desisti: fiz um pacto com o gato e não o incomodei mais. Sentei-me na varanda por volta das três da manhã a ouvir música e estava triste por ter de sair de Portugal dentro de algumas horas. De repente, uma estrela cadente atravessou o céu. Não fora o gato malandreco e eu não estaria no sítio certo à hora certa.

Quando me mudei para Houston, no Menil, o Museu de Arte Moderna, estavam em exibição duas exposições sobre o trabalho de René Magritte. O meu quadro preferido é o Les Amants (Os Amantes). Fui várias vezes ao Menil só para o ver e, na última vez, não consegui conter as lágrimas. Não seremos todos nós como os amantes, rodeados por um véu para que ninguém, por mais próximo que esteja, nos veja?

Esta semana é a Semana do Museu. Não se esqueçam de estar no sítio certo, à hora certa...

terça-feira, 24 de março de 2015

A Origem do Mundo, de Gustav Coubert


Pelo amor ao pêlo

Vou confessar-me! Adoro ler o que o Zé Carlos escreve. Às vezes quando ele deixa de escrever por uns dias entro em pânico. E uma vez até enviei um email ao Luís e ao Zé Carlos a pedir mais. O Luís pensou que eu estivesse zangada com o Zé Carlos. Não, estava só a precisar de uma dose do que ele escrevia. E eu até nem sou uma pessoa dada a vícios... Então este último post sobre pêlos foi realmente delicioso de ler porque eu já tinha pensado em falar no tópico.

Eu não gosto de todos os pêlos, mas há pêlos dos quais eu gosto. Não gosto de pêlos nas minhas pernas, mas não me importo com os dos braços. Também gosto de pêlos nos homens porque sabe bem quando os pêlos deles me fazem cócegas no nariz. Ultimamente, ando incomodada com a falta de pêlos. Quando eu abro o meu Tumblr, há contas que eu sigo que são um bocado mais picantes e vê-se muitas fotos de pessoas nuas. O gosto pela poesia, fotografia e literatura está muito correlacionado com o gosto por nudez. Tirando a cabeça, anda tudo muito pelado--estranho que pelado indique falta de pêlos.

Esta obsessão pelo bikini à brasileira--morte aos pelos púbicos--começou por duas vias. De acordo com um artigo da Bloomberg, umas brasileiras abriram um gabinete de estética em Nova Iorque, no qual ofereciam o serviço, e aquilo pegou moda. Até houve um episódio do Sex and the City em que a Carrie fez uma depilação de bikini à brasileira quando visita Los Angeles. Normalmente, quando eu vou a Los Angeles, dou um pulinho ao J. Paul Getty Museum, mas eu não sou americana de nascença, logo tenho fixações diferentes.

Quase que me esquecia, a Samantha também tirava os pêlos todos, mas era com lâmina. O potencial para pêlos encravados até me assusta neste método. Mas como muitas mulheres americanas não têm pêlos muito grossos pode ser que dê para elas. Aliás, agora recordei-me de um episódio que me aconteceu quando eu andava na universidade aqui. Uma das minhas amigas era stripper e, uma vez, eu estava no bar onde ela trabalhava, antes de abrir, e ela levou-me para o quarto de banho dos bastidores para conversarmos enquanto ela se depilava toda com uma lâmina e ela não tinha pêlos encravados. (Não julguem os outros--são mulheres normais, só que gostam de sapatos estranhos.) E, já que estou num post com confissões, confesso que ela me apanhou desprevenida e, no início, eu não sabia muito bem para onde olhar. Mas lá encontrei a resposta: olha-se para a cara da nossa amiga porque ela está a falar connosco.

Depois houve a prática adoptada pela indústria pornográfica que, eventualmente, obrigou os actores a depilarem-se por questões de higiene e também para se ver melhor. Parece que o primeiro filme pornográfico com uma mulher sem pêlos foi o Hustler de 1974, de acordo com o HuffPost. Eu não acho piada a ver uma mulher que parece uma criança--ah, pois é, se meter mamas de silicone como a Katie Morgan, que tem uma vozinha de menina, já se parece mais com a Barbie, é mais excitante. OK, OK, eu excito-me com cadeiras, logo gostos não se discutem...

Parece que o bikini à brasileira está a afectar a população de piolhos púbicos e há até quem fale em extinção da espécie. Acho que é um bocado prematuro, pois há muitos sítios no planeta onde estes animaizinhos podem sobreviver. Na Europa há quem esteja interessado em coleccionar espécimes dos ditos, como se discute neste artigo no The Guardian. Eu colecciono canetas de tinta permanente, mas ainda só tenho três--é uma coisa cara. Mas quem não gosta de ler Henry Miller falar sobre percevejos e piolhos púbicos? Ou quando ele descreve o "rosebush" da Germaine no Tropic of Cancer... Sem pêlos, a literatura estaria muito mais pobre!

Felizmente, as mulheres estão a reconsiderar o bikini à brasileira e há um movimento para que as coisas se tornem mais naturais lá a sul do umbigo. Obrigada a Gwyneth Paltrow e Cameron Diaz. Agora, como disse o Zé Carlos, precisamos mesmo de um movimento mais abrangente, até porque é urgente salvar os pelinhos dos homens!

Pelos pêlos

Antes da I Guerra Mundial, nenhuma mulher depilava sequer as pernas. Entretanto, alguém inventou os sistemas “depilatórios” e convenceu as mulheres de que os pêlos eram uma coisa inestética e suja. As pernas foram o primeiro “target”, mas rapidamente esta indústria percebeu o potencial do negócio e a depilação foi avançando, como direi?, para outros territórios. Este avanço civilizacional, ainda que com bastante sofrimento feminino à mistura, rendeu milhões e milhões às empresas do ramo. Até que há uns anos, algum dos génios do sector se lembrou que estava na altura de explorar a outra metade do mercado, ou seja, os desgraçados dos homens, cuja “área de negócio” é superior à das mulheres.

Se não se fizer nada, esta “devastação” só terá fim quando não sobrar um pêlo à face da terra. Ora, aqui está uma causa para um movimento qualquer, que poderia ter uma designação tipo “Pelos pêlos” ou, aplicando o acordo ortográfico, “Pelos pelos”. 


Esqueceram-se de me dizer...

Que eu devia estar calada por ser mulher, de acordo com este artigo. E logo eu que aqui há uns anos mandei um CEO parar de brincar com o telemóvel. Foi assim: estávamos a trabalhar num projecto com uma semana de prazo. A mim cabia a tarefa de tentar encontrar informação para provar não sei o quê para um cliente. Acho que aquilo tinha a ver com um processo de tribunal. Bem, eu não consegui achar nada. Então marcámos a reunião para as 15 horas de sexta-feira e o meu telefone toca às 14h e perguntam-me onde eu estou. Obviamente, que estava no gabinete e não na reunião. Vou para a reunião e é uma coisa gloriosa: uma mesa enorme cheia de homens, muitos deles Vice-Presidentes, o Presidente e o CEO. Deviam estar para aí 15 pessoas. Eles todos chateados por eu estar atrasada, quando eles é que estavam adiantados uma hora.

Sete minutos depois ainda não começou a reunião. Nestas reuniões eu tenho o hábito de calcular o custo da reunião. Começo a imaginar quanto ganha cada um por hora e depois adiciono tudo. Esta reunião era carita... Estava tudo com cara de enterro porque o projecto estava atrasado e tínhamos de o entregar na segunda-feira logo alguém ia trabalhar o fim-de-semana. O nosso CEO estava a olhar para o seu iPhone e a perguntar se mais alguém estava a ter problemas com as notificações push da Bloomberg. E eu digo "Put your phone away and let's start the meeting." E depois de um segundo de puro choque por eu ter dito aquilo, o CEO arruma o telefone e diz a brincar qualquer coisa como "OK, fine." Todos riram nervosamente. E eu respondi a brincar "You pay me to get stuff done!" É a brincar que se dizem as maiores verdades...

Tivemos uma reunião óptima com muito brainstorming, eles faziam perguntas e eu progamava em R e mostrava-lhes as respostas do que os dados suportavam. O projecto foi terminado a tempo e horas. Depois o CEO enviou um email a agradecer a toda a gente e eu respondi a todos que quem tinha mais mérito era o nosso colega, que tinha trabalhado no fim-de-semana para rematar aquilo tudo, e que eu tinha muito prazer e considerava-me muito feliz por poder trabalhar com ele. E vivemos felizes para sempre...

Ninguém se mete entre mim e o meu trabalho!

O dia do pai é uma paneleirice do caralho

É verdade. Não é que tenha o exclusivo. Aniversários, dias internacionais da mulher ou da criança, vai dar tudo ao mesmo. Quem precisa que o facebook lhe lembre que está na hora de partilhar uma foto fofinha sobre o quanto gosta de alguém, se calhar não gosta assim tanto desse alguém.

Foi por isso que quando o meu pai ontem pediu à minha mãe para me agradecer (ironicamente) pela mensagem de dia do pai que não lhe mandei,  respondi peremptoriamente: “deixa-te de mariquices”.

Hoje morreu o Hérberto Hélder e pensei logo no meu pai. Não sei quanto a vocês, mas se algum dia tiver filhos e um poema do Al Berto os lembrar de mim, acho que posso descansar de consciência tranquila. Isso ou quando o Benfica marcar um golo.

Outra coisa que me faz um bocadinho de espécie é a necessidade de algumas pessoas dizerem a toda a hora “Gosto muito de ti”. Principalmente no que toca aos seus progenitores. Começando pelo facto de sermos programados geneticamente para gostar deles e acabando no facto de eles saberem disso (ainda que se tentem fazer de sonsos de vez em quando). Como pseudo-poeta deixem que vos confesse uma coisa – na maior parte das circunstâncias, no que toca a sentimentos, as palavras não servem para um caralho. 

Porque o facto de eu comprar um iman para o frigorífico da minha mãe onde quer que vá (ainda que ache aquilo uma patetice pegada e a porta do frigorífico lá de casa pareça mais um tapete de arraiolos que um electrodoméstico), ou de sentir uma alegria histérica por lhe ter podido oferecer uma Bimby no Natal aqui há uns anos expressa muito melhor o quanto gosto dela do que os telefonemas diários que ela eventualmente deixou de esperar.

A mensagem, vinda de alguém que tem o Facebook aberto 24/7 é: deixem-se de palavras bonitas e partilhas melosas no facebook. Gostem de quem vocês gostam como deve ser , isto é, sem palavras.

We're on each other's team...

Estava aqui a pensar que o mundo dos VIPs portugueses é um bocadinho como o mundo distópico da canção "Team" de Lorde:
We live in cities you'll never see on screen
Not very pretty, but we sure know how to run things
Living in ruins of a palace within my dreams
And you know, we're on each other's team

segunda-feira, 23 de março de 2015

Puxaram-nos o tapete...

Quando vejo notícias sobre artesanato, fico logo em pulgas. Quer dizer, muitas vezes fico triste porque vejo que as oportunidades são desperdiçadas. Como nesta notícia do Público sobre os tapetes de Arraiolos. Diz assim:
Em 2001, a Assembleia da República aprovou por unanimidade a criação do Centro para a Promoção e Valorização do Tapete de Arraiolos, que iria estabelecer critérios para a definição do autêntico tapete. Criou-se um grupo de trabalho e a proposta de estatutos do centro chegou em 2006 ao gabinete do então secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, Fernando Medina, actual vice-presidente da Câmara de Lisboa.

Nos termos da proposta, a autarquia deveria ceder o espaço para a instalação do centro e caberia ao Estado o financiamento da maioria das despesas correntes, naquele ano estimadas em 96 mil euros. Desde então o processo andou por vários ministérios: Cultura, Economia e Finanças. Actualmente, segundo o ministério da Economia, o dossiê está na gaveta do secretário de Estado do Emprego, Octávio de Oliveira.

Questiono-me o que é que os tapetes de Arraiolos têm a ver com o Ministério das Finanças. Eu não sei, nem faço ideia de como lá foram parar. Agora estão no Ministério da Economia; acho melhor, mas não estou a ver como é que o Secretário de Estado do Emprego é a pessoa indicada para tratar disto. Dá ideia que quem gere o país não tem noção nenhuma das coisas que tem, nem de como as gerir e, por isso, as coisas entram num vórtice de burocracia e nunca mais de lá saem. O resultado é que perdemos oportunidades, dinheiro, e prestígio. Os tapetes de Arraiolos são das coisas mais conhecidas que temos em artesanato, não é uma coisa obscura, logo não entendo como é que não há ninguém com meio cérebro que não consiga tratar disto prontamente e com resultados visíveis.

Na história conta-se que há cerca de 15 anos houve alguém que foi a Arraiolos, arranjou uns tapetes, levou-os para a China, e agora há cópias dos tapetes à venda e as pessoas compram gato por lebre. É preciso ter vergonha que as coisas tenham chegado a este ponto e nada tenha sido feito. Parecemos elefantes numa loja de porcelana: partimos tudo de valor em nosso redor.

Fez-se luz...

Viram o que a Sra. Merkel disse hoje a propósito do pedido de reparações da Grécia?
“We are aware what kind of cruelty we caused, the kind of tyranny inflicted by National Socialism in Greece and under which many people suffered,” she replied. “This injustice and suffering isn’t appreciated by many in Germany as perhaps it should be.”

Fonte: Bloomberg

Quando é que ela descobriu isto? Depois de anos a cultivar o ódio pelos gregos, vem ela agora dizer que os alemães foram mauzinhos e não apreciam a gravidade da sua maldade como deveriam.

O comportamento da Sra. Merkel parece o quadro do Magritte em que metade é noite, outra metade é dia. Chama-se o Império da Luz...

Priceless #1

Ontem fiz uma pequena visita ao Museu de Belas Artes em Houston ao final da tarde e aproveitei para pagar a minha anuidade e jantar lá.

Entrei pelo edifício do Mies para poder ver as cadeiras Barcelona. Vi a exposição de tapeçarias inspiradas por Rubens, e desci as escadas para atravessar o túnel subterrâneo que liga ao outro edifício e que tem uma instalação de luz de James Turrell--é sempre bom passar por lá e, quando o atravessei, a luz estava azul (a instalação muda de cor), sinal que eu acertei com o universo e por uns segundos o azul rodeou-me.

Ao pé do restaurante, estava uma exposição de fotografia que tinha algumas das peças que fazem parte da colecção do museu. Não as apreciei a todas porque, logo no início, a imagem de baixo captou a minha atenção. É uma foto de Hank Willis Thomas, de 2004, e podem ver o que ele diz a respeito dela aqui. É muito poderosa.

É por isso que é importante ir a um museu--nunca se sabe quando há uma imagem que nos faz parar no momento e nos dá uma perspectiva diferente da vida.

O inferno das meias

Aqui há uns meses, eu disse qualquer coisa no Facebook que foi controverso: houve pessoas que concordaram comigo e outras que acharam que a minha opinião era má e eu devia era estar calada. Infelizmente, já não me recordo do que eu disse, mas eu ter uma opinião diferente das outras pessoas é uma coisa muito comum. Eu até gosto muito de ouvir opiniões contrárias à minha porque assim mostram-me um ponto de vista diferente, e obrigam-me ou a mudar a minha opinião ou a refinar o meu argumento. O que eu não gosto mesmo é que me mandem calar mas não contribuam para a discussão das ideias, ou seja, não me dão nada que me faça mudar de opinião.

Então nesse dia em que eu disse qualquer coisa maluca, como é meu hábito--vocês já sabem que eu demonstro grande paixão em dizer coisas malucas--, uma senhora disse qualquer coisa como "A Rita devia calar-se e ir cozer meias." Eu fiquei chateada com isto, não porque ela me mandasse calar, mas porque parecia que tratar de meias era uma actividade inferior, género qualquer coisa que se faz no inferno para castigar as pessoas. A minha mãe ensinou-me a remendar meias e eu lembro-me de, na caixa de costura dela, ela ter umas ferramentas que serviam para reparar malhas caídas nas meias. Na minha caixa de costura, tenho o ovo de madeira que a minha mãe usava para reparar as meias.

Depois havia a questão de "cozer meias". Respondi à pessoa que "cozer" é uma actividade que se faz na cozinha, logo ela devia querer dizer "coser", que é o verbo que tem a ver com costura. Mas, mesmo assim, não seria muito correcto, pois as meias não se cosem, remendam-se, e eu até sou exímia a remendar meias.

Mas estão a ver? A Margaret Albright tem razão: há mulheres que são mázinhas para as outras.

O porquê dos cofres cheios

Temos os cofres cheios de dinheiro emprestado. Isso é uma boa notícia porque quer dizer que temos crédito. Mas é também o reconhecimento do medo que o governo tem do futuro.

Se temos os cofres cheios de dinheiro emprestado, quer dizer que pagamos juros por esse dinheiro. Ainda por cima, na verdade, o dinheiro não está num cofre. Está depositado. O problema é que está depositado a taxas negativas. Ou seja, nós pagamos o juro pelo empréstimo que pedidos e pagamos juro pelo depósito que fazemos.

Esta gestão financeira seria um autêntico disparate não fora o seu principal objectivo: precaver futuras flutuações de taxas de juro e evitar situações em que não nos consigamos financiar. Ou seja, a ministra ao anunciar que temos os cofres cheios de dinheiro emprestado o que nos está a dizer é que não tem fé nas nossas capacidades de financiamento futuras.

Nas suas declarações, a ministra reconhece isto mesmo:
temos cofres cheios para poder dizer tranquilamente que se alguma coisa acontecer à nossa volta que perturbe o funcionamento do mercado, nós podemos estar tranquilamente durante um período prolongado sem precisar de ir ao mercado, satisfazendo todos os nossos compromissos.
Eu não percebo muito de política, mas parece-me que era nisto que a oposição devia pegar.

domingo, 22 de março de 2015

A escrita

A última coisa que encontrei da minha mãe depois de ela falecer foi um pedaço de papel escrito à mão. Encontrei-o num bolso de casaco quando reunia as suas roupas para as ir levar a uma instituição de caridade. Nele estava uma receita escrita à pressa, com má pontuação, algo que apenas lhe recordasse do momento em que ela o escreveu. Quando eu vi aquilo, percebi imediatamente o que tinha acontecido. Ela tinha ido visitar alguém e tinha comido uma sobremesa caseira da qual gostou e pediu a receita e escreveu-a num bocado de papel rasgado. Às vezes eu faço coisas parecidas, mas à falta de papel, anoto no meu telemóvel. Não sei se alguém alguma vez as irá ler depois de eu morrer, mas isso é outra história.

Como vos disse ontem, em muitas escolas nos EUA não se desenvolve a escrita à mão. Os alunos aprendem a desenhar e a reconhecer as letras quando vão para a escola, mas depois da terceira classe, quase que não precisam de escrever à mão grandes textos, como é explicado nesta notícia da NPR onde se lê:

"We don't see much writing going on at all across the school day," Graham says.

What are kids doing instead?
"Filling in blanks on worksheets," Graham says. "One-sentence responses to questions, maybe in a short response summarizing information."

In other words, not enough good old-fashioned composition and too much choosing among (A) This, (B) That or (C) All of the above.

Quando eu ensinei numa universidade americana há cinco anos, assisti aos efeitos disto. Quando se pedia aos alunos para fazer um gráfico e explicar o que tinham feito, os alunos tinham dificuldade em gerir o espaço na página, a sua letra era inconsistente (uns espaços maiores do que outros, umas letras maiores do que outras, etc.), e notava-se que tinham demorado muito tempo para escrever a resposta. Muitas vezes, as frases não faziam qualquer sentido. Os melhores alunos eram também os que escreviam com melhor letra.

O problema é que os alunos são ensinados a pensar criativamente e tarefas repetitivas são vistas como um desperdício de tempo. Aprender a escrever à mão não está incorporado na forma como se aprende. Os alunos aprendem através de livros e notas que os professores lhes dão e que sublinham ou marcam com marcadores fluorescentes. Depois são avaliados com materiais onde basta marcar a resposta correcta ou escrever uma palavra ou uma pequena expressão ou frase. Quando é para discutir um tópico, normalmente o professor pede para os alunos escreverem um pequeno relatório no computador ou, antigamente, num processador de texto.

Escrever à mão é visto como uma coisa separada do processo de aprendizagem e, quando é discutido, fala-se muito da questão da assinatura, como se a maior vantagem de saber escrever à mão com destreza fosse apenas o conseguir assinar um documento. Ver aqui e aqui. Outro argumento que se usa é a habilidade de um americano poder ler a Declaração de Independência ou a Constituição.

Mesmo na universidade, nos primeiros dois anos as turmas são enormes, talvez 100 ou 200 alunos, e os TPCs são administrados por computador, os quizzes (mini-testes) são coisas simples como um gráfico ou algo com resposta imediata em que o intuito é mesmo assustar os alunos para que estudem um bocadinho e venham à aula, pois, se perdem o mini-teste, têm nota zero ou talvez o professor os deixe fazer depois, mas com nota reduzida. Só no terceiro e quarto anos da faculdade é que os alunos têm testes onde há perguntas abertas, as chamadas "essay questions". Nessa altura, as turmas são mais reduzidas porque muitos alunos já ficaram para trás e não continuaram a estudar e também porque há maior especialização nas cadeiras que eles frequentam, pois nessa altura já tiveram de declarar a área de especialização do curso, isto é, a sua "major".

Na matemática, uma das coisas que eu via frequentemente era desconhecimento dos símbolos e de como se organizava a informação. A matemática tem uma linguagem própria e nós temos de compreender como escrevê-la. Richard Feynman criticava a forma como se ensinava os alunos a estudar matemática e a resolver equações, aquelas técnicas de adicionar ou subtrair o mesmo número aos dois lados da equação, ou dividir e multiplicar ambos os lados pela mesma constante. Ele achava que o aluno devia ter a liberdade de encontrar o melhor método que funcionava para ele. Se o aluno conseguia encontrar a resposta certa, era irrelevante o método que usava. Há este excerto do "Surely You're Joking, Mr. Feyman" onde ele discute as convenções de escrita que se usam em trigonometria e onde é evidente que a forma como ele aprendeu matemática não dá grande importância às convenções de escrita desta.

Isto de encontrar o melhor método que funciona para nós seria bom se todos nós fossemos Feynmans, mas eu tenho a certeza que não sou, logo aprecio bastante as convenções matemáticas e as técnicas que nos ensinam. Para além disso, acho que consigo reter informação melhor porque a forma como estudei incentiva a repetição e a retenção de informação. Eu acredito que a matemática é como um desporto: é preciso praticar muito para treinarmos o nosso cérebro a reconhecer o tipo de problema e a saber qual a técnica indicada para o resolver.

Mas isto não invalida que se incentive também o lado criativo da coisa. Os dois aspectos não competem um com o outro, são complementares. Muitas vezes eu não me recordo de como fazer uma coisa, mas se agarro num papel e num lápis e escrevo algo, consigo recordar-me da solução apenas por ter feito um exercício tão simples, como se isso fosse a chave para aceder à parte do meu cérebro onde posso construir a resposta. E ao praticar à mão, também consigo aumentar a velocidade com que penso e resolvo problemas matemáticos, por exemplo. Outra vantagem é que reduzo o número de erros que cometo.

Depois de o meu ex-marido trabalhar uns anos como jornalista, decidiu voltar para a faculdade para tirar um curso de contabilidade. Como o primeiro curso era de jornalismo, tinha deficiências em cadeiras de matemática, logo teve de tirar novamente as básicas e depois umas mais avançadas. Coube-me a mim o papel de explicadora de matemática. Eu acho que ele tem muito mais queda para matemática do que eu, pois ele é muito bom em cálculos mentais e pensa muito rapidamente. Sempre lhe disse que ele devia ter ido para um curso com mais matemática, mas acho que o que lhe faltou foi a técnica de como estudar matemática e a dedicação. Mas tendo ele acesso a mim como recurso, estava bem posicionado para não falhar. No início correu tudo bem. Depois para o fim já as coisas estavam um bocado mais cinzentas. Um dos problemas foi que ele fazia-me perguntas e eu recordava-me de quase tudo, logo ele começou a achar que eu era muito anormal por saber tanto de matemática. Eu sabia tanto porque eu passei anos a resolver problemas de matemática, como é normal em Portugal.

O outro problema foi o método de estudo. Ele achava que estudava melhor usando os módulos por computador e resolvendo os problemas no computador. Eu achava que ele devia praticar com papel e lápis antes de tudo. Nos problemas mais simples, ele lá ia fazendo coisas com papel e lápis até chegar ao ponto em que conseguia identificar a resposta certa na lista que o software lhe dava. Mas nunca teve muito apreço por fazer as coisas usando a linguagem correcta e organizando bem a informação. Quando ele estava a estudar integrais eu disse-lhe que aquilo tinha o potencial de se complicar muito depressa e era muito importante praticar à mão e saber as técnicas. Ele dizia que não, que até estava a compreender muito bem. Depois chegou aos integrais por partes e não conseguia entender nada. Eu tinha avisado, mas não me valia de nada dizer "I told you so!" No fim, lá fez aquilo com boas notas, apesar de eu achar que poderia ter tido melhor nota se tivesse passado mais tempo a praticar à mão.

Não tendo desteridade a escrever não estou a ver como é que os americanos conseguem aumentar o número de alunos que são competentes em STEM (Science, Technology, Engineering, and Math). Todas os alunos de engenharia que eu conheci aqui passavam muito tempo a fazer problemas à mão. Se o número de pessoas que sabe escrever à mão nos EUA diminui, quer dizer que a população de onde sairão os futuros engenheiros também irá encolher. Uma outra implicação é que as crianças que frequentam escolas mais modestas, cujos pais não as incentivem a escrever à mão, não terão acesso a empregos que usem STEM, logo irá criar-se ainda mais dificuldades para haver mobilidade social.

sábado, 21 de março de 2015

Futuro indeterminado

American VIP

Em 2009, durante a nomeação de Timothy Geithner para Secretário de Tesouraria dos EUA, veio a público que durante o tempo que Geithner trabalhou para o FMI, ele não pagou cerca de $34.000 em impostos de Segurança Social e Medicare. Um erro semelhante ao de Pedro Passos Coelho, mas de muito mais dinheiro.

O FMI é uma organização internacional e, como tal, não retém todos os impostos que um empregador americano reteria nos EUA. Normalmente, os impostos de Segurança Social e Medicare são de 12,4% mais 2,9%, respectivamente, do salário e são repartidos pelo empregador e pelo empregado, i.e., cada um paga metade. Como o FMI é uma organização que está isenta de impostos, o ponto de contenção era se Geithner era responsável por 12,4% + 2,9% ou por 6,2% + 1,45%. Geithner recebeu toda a informação do FMI acerca das suas responsabilidades fiscais; mas, mesmo assim, nem ele nem os contabilistas que reviram o que ele tinha feito, compreenderam que ele deveria pagar os ditos impostos como se fosse um empregado independente, isto é, paga a sua porção normal mais a porção que seria paga pelo seu empregador. O facto de o FMI estar isento de pagar impostos não reduzia a taxa de imposto dos seus empregados americanos. (Note-se que, nos EUA, mesmo utilizando um contabilista, no que diz respeito a impostos nós temos responsabilidade total perante o estado na eventualidade de erro.)

O papel de Secretário de Tesouraria é o equivalente ao nosso Minstro das Finanças. Muitas pessoas sentiram-se insultadas que um fulano que admite que errou nos impostos vá ter nas suas responsabilidades a agência que colecta os impostos, o Internal Revenue Service. Isto é o equivalente a dizer que Geithner não tinha autoridade moral para ocupar a posição para a qual tinha sido nomeado. Outra reacção comum foi de dizer que se nem o futuro Secretário de Tesouraria compreende o código fiscal dos EUA é porque o mesmo é complicado demais e deveria ser simplificado.

Vocês já sabem que realmente ele foi Secretário de Tesouraria, logo este escândalo não derrubou a sua nomeação. No entanto, o episódio vale por duas coisas:

  1. O erro foi descoberto antes de ele ocupar o cargo, ou seja, quando ele foi nomeado, ele entregou a papelada toda dele para que fosse feito um background check e para que os podres pudessem ser descobertos e discutidos antes de ele fazer parte do governo. O Congresso teve oportunidade de avaliar o homem, os seus erros, e o mérito das suas justificações antes de decidir aprová-lo.
  2. A reacção de Geithner: ele admitiu o erro prontamente e pediu desculpa não só por o ter cometido, como por estar a causar distracções ao Congresso americano numa altura em que os EUA atravessavam uma situação extremamente difícil.