terça-feira, 26 de julho de 2016

Profetizar

Eu sou uma profeta da desgraça: acho que Portugal não está a ser governado à altura dos seus desafios. No entanto, há uma possibilidade que as coisas não sejam tão ruins a médio-prazo, como eu prevejo, por causa dos efeitos do Brexit. A UE saiu-se tão mal da votação do Brexit, que a Alemanha já falou em perdão de dívida para alguns países do sul da Europa. O partido que estiver no poder e beneficiar de menores encargos com a dívida, pode gastar mais dinheiro a comprar votos, tal como foi feito no passado, mas sacrificam o longo prazo em favor do bem-estar político de curto prazo.

Custa-me ver Portugal ser mal-governado, mas em democracia corremos estes riscos; para além disso, se olharmos para os políticos profissionais portugueses notamos logo que a incompetência é, ela própria, extremamente democrática no que diz respeito a partidos. Os políticos não chegam ao topo por competência, nem mérito. É mais um caso de água mole em pedra dura, pois começam na vida partidária tão cedo, que nem aprendem a fazer mais nada na vida. Pior do que termos políticos incompetentes é ter um povo que olha para o lado e não é exigente com a sua classe política.

Depois da chamada da Troika, meio mundo ficou chocado porque achou que não tinha sido avisado dos problemas iminentes, quando, na realidade, tinha insultado quem o tinha tentado avisar. Agora estamos pelo mesmo caminho. Não só há quem já esteja chateado dos profetas da desgraça, que só vêem mal no que o governo faz, como há umas outras pessoas que acham que o governo só pode ser criticado depois de fazer mal. Quando vai para o poder é puro e virgem, completamente livre de mácula, e merece toda a nossa confiança. Este argumento é dos mais estupentados que já ouvi, pois o corolário desta teoria é dizer que poderíamos ter evitado chamar a Troika na véspera de a termos chamado. A véspera foi o dia em que tínhamos as mãos completamente amarradas e a única alternativa era chamar a Troika.

Ninguém decide tirar um curso universitário na véspera de se candidatar ao emprego no qual o curso é necessário; é preciso planear, controlar o esforço de estudo para se ter notas para entrar na faculdade e depois passar as cadeiras para terminar o curso -- ou seja, é preciso agir com antecedência. É a mesma coisa quando se fala do futuro de um país, de como o governar, e de como exercemos as nossas responsabilidades de cidadania. Temos de ser guiados por uma perspectiva de longo prazo e de nos prepararmos e agirmos com antecedência. Talvez esta forma de pensar seja defeito meu, pois eu comecei a planear a minha reforma quando tinha 15 anos e, quase trinta anos depois, continuo a planeá-la e, lá está, emigrei, ou expatriei-me, como dizem os americanos.

As pessoas que assim o entenderem têm o direito de acreditar nos políticos e de ser ingénuas. Afinal, a ordem das coisas diz-nos que metade da população tem um nível de inteligência abaixo da média, ou seja, em média, em cada duas pessoas que nos aparecem à frente, é natural que a inteligência de uma esteja abaixo e outra acima da média. O ideal era a população ter um nível médio de inteligência alto e com tendência para crescer. Com uma população a envelhecer, a velocidade de expansão do nível médio de inteligência abranda, logo o país está numa situação de desvantagem relativamente a outros países com populações mais jovens e com maior capacidade de atrair imigrantes qualificados, que rejuvenescem a população.

Talvez haja uma revolução tecnológica em Portugal que nos livre da desgraça. Entretanto, dedico-me a profetizá-la quando vejo que há razão para tal, pois é assim que melhor sirvo os interesses de Portugal e dos portugueses.



2 comentários:

  1. Rita, tenho por experiência que as pessoas têm imensa dificuldade em aceitar um futuro negro. Para a generalidade das pessoas é difícil levar o raciocínio frio e desapaixonado até à sua conclusão quando esta aponta ser negativa. Numa cultura tão emocional como a Portuguesa tudo isto é muitissimo exacerbado. A isto soma-se ainda o problema de, ancestralmente, os Portugueses terem imensa dificuldade com o planeamento e a previsão racional. Ou seja, tudo o que dizes no teu post (e com que concordo) só será realizado pelo global da sociedade Portuguesa no momento em que as tragédias acontecerem. Não antes. E, ainda assim, quando elas acontecerem verás a quantidade de desculpas esfarrapadas que irão aparecer.

    ResponderEliminar
  2. Todos os políticos tiraram o curso na loja dos trezentos, não por vocação mas sim porque assim permite-lhes ter acesso a tachos muito mais bem remunerados.... Nas empresas públicas acontece o mesmo, uma pessoa pode ter um curso mas não saber fazer nada de nada mas isso dá-lhe acesso a um ordenado muito maior e promoções constantes do que uma pessoa que tenha o 12º ano ou um curso profissional e até faça alguma coisa. Um curso é um estatuto

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.