terça-feira, 5 de abril de 2016

Dejà vu: sexismo...

Um dos tumblrs que eu sigo é da revista Paper. Lá encontrei uma notícia a alertar para a forma sexista como a morte de uma actriz pornográfica está a ser tratada. Amber Rayne morreu este fim-de-semana, possivelmente devido a uma overdose. Ela foi uma das mulheres que acusou o actor pornográfico James Deen de a ter violado. Em muitos media, ao noticiar-se a morte dela, o facto de ela o ter acusado de violação é usado para a caracterizar e, na caracterização, ela não tem nome, mas ele tem nome; ou ela é tratada como "porn star" e ele é tratado como "adult actor, James Deen". Perante esta desigualdade de tratamento, até porque ambos tinham exactamente a mesma actividade profissional, as pessoas começaram a criticar os media e criaram uma hashtag no Twitter #SheHasAName. Acho positivo que as pessoas defendam a memória dela, mas não posso deixar de pensar nas outras mulheres que também precisam de ser defendidas e que ainda estão vivas.

Hoje li também uma notícia acerca das mulheres sobreviventes dos campos de violação do Boko Haram, na Nigéria, que vinha no Washington Post. Essas são rejeitadas pela sociedade onde se inserem. Há desconfiança porque não se sabe se foram convertidas ao terrorismo, outras ficaram grávidas dos violadores e as pessoas têm medo das crianças que nasceram dessas violações. E todas elas têm uma coisa em comum: por terem sido violadas são consideradas mulheres impuras pela sociedade em que se inserem.

Senti-me impotente, culpada até, por não fazer nada para ajudar essas pessoas. O nosso mundo é um sítio extremamente cruel. Não consigo compreender tanta desigualdade. A única coisa que me diferencia dessas mulheres é o sítio onde nasci. Se eu tivesse nascido no mesmo sítio que elas e na mesma altura, a cor da minha pele seria diferente, os meus direitos diferentes, as minhas oportunidades diferentes, os riscos que eu correria diferentes de tudo o que eu vivi. A minha vida é toda fruto do acaso: do sítio onde nasci e da altura em que nasci. Esses factores são os mais importantes.

3 comentários:

  1. Rita, deixe-me citar um trecho do que escreve: "Se eu tivesse nascido no mesmo sítio que elas e na mesma altura, a cor da minha pele seria diferente, os meus direitos diferentes, as minhas oportunidades diferentes, os riscos que eu correria diferentes de tudo o que eu vivi.". Sim, tudo muito certo, sem sombra de dúvida. Mas ao ter nascido numa cultura diferente, numa sociedade diferente, sentiria tudo isso, também, de forma diferente. Sentiria à luz da cultura onde essas coisas acontecem e onde teria nascido e não à luz da cultura ocidental.

    Uma pequena nota. A violação como arma de guerra é algo muito antigo e, grosso modo, em todas as guerras acontece. Essa reacção de repulsa pelas mulheres violadas é também comum. Aconteceu, aliás, na Europa muito recentemente, no rescaldo da guerra na Jugoslávia e, anteriormente, tinha acontecido na Alemanha com as mulheres violadas pelos homens do Exército Vermelho.

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  2. Rita, obrigada por este texto. Gostei muito de ler.

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  3. Rita, obrigada por este texto. Gostei muito de ler.

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