sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Meio século amanhã

Vai sair amanhã a quinquagésima carta escrita por Warren Buffett aos seus accionistas. Há pessoas que costumavam deter apenas uma acção da Berkshire Hathway só para receber as ditas cartas. Justin Fox na Bloomberg acha que o Buffett dos anos 70 é o mais "cool", já o Matt Levine prefere o Buffett dos anos 60. Ao ler a peça do Fox, gostei da citação da carta de 1980, que se refere à performance da empresa em 1979. Diz assim:

We hope we don’t get into too many more businesses with such tough economic characteristics. But, as we have stated before: (1) our textile businesses are very important employers in their communities, (2) management has been straightforward in reporting on problems and energetic in attacking them, (3) labor has been cooperative and understanding in facing our common problems, and (4) the business should average modest cash returns relative to investment.

Porquê esta citação? Porque a acho aplicável a Portugal: os têxteis são uma área onde temos competência e boa reputação internacional e poderiam empregar muito mais gente, não só em manufactura, mas também no sector de serviços: design, engenharia textil, atendimento a clientes (em português e inglês, pelo menos), informática, análise de dados, etc. Bastava termos consciência de que o nosso mercado não é o baratucho onde se compete com a China ou a Índia, e estaríamos posicionados para um mercado mais caro, desde que oferecêssemos um produto e um serviço de atendimento de clientes à altura. Uma boa gestão da produção e da cadeia logística (minar dados para identificar e evitar problemas é muito importante) trataria de podermos controlar os custos e satisfazer os clientes a tempo e horas. Uma aposta na imagem dar-nos-ia visibilidade ao público mundial.

Por exemplo, fui à página da Sampedro e nem uma feed no Instagram têm, apesar de terem uma página de Internet com boa apresentação, mas quase nenhuma funcionalidade: não posso comprar lá coisas nem posso conversar com ninguém acerca do produto. Contrastem isso com o feed no Instagram da Pottery Barn, uma marca americana que até vende lençóis feitos em Portugal ou o da Anthropologie, da qual já vos falei, e que, entre outras coisas, vende toalhas de banho feitas em Portugal. Estas marcas não vendem os objectos, vendem todo um estilo de vida. Comprar o objecto na loja deles, e eles têm lojas online, ajuda-nos a construir um estilo de vida cuidado, para além de satisfazer a necessidade para o qual o objecto foi criado.

3 comentários:

  1. Rita, eu percebo a sua ideia mas está a falar de coisas diferentes. A Sampedro não vende directamente ao público e, salvo erro, o grosso do seu negócio é hotelaria. O que falta é uma marca agregada, que venda "peças" de diversos fabricantes.

    Há uns anos, noutro sector (vidro), existiu uma coisa dessas, com apoio do Estado. Chamava-se MGlass e era uma empresa cooperativa com participações de todas ou quase todas as fábricas de vidro da Marinha Grande (daí o "M"), vocacionada para a venda no estrangeiro e apostando num branding forte.

    A coisa até correu bem no início, com bons volumes de vendas e um showroom em Nova Iorque - só que depois aconteceu o costume: cada fábrica queixava-se de ser prejudicada pela outras, de ter menos colocação de peças e a MGlass desfez-se em cacos (de vidro).

    O meu pai, que conhece o sector têxtil a vida toda (há 40 anos que trabalha com e para eles), costuma dizer que se eles não se entendem para uma associação do sector (há 3), não se conseguem entender para o resto. Foi assim, a título de exemplo, com a obrigatoriedade de entrega das águas residuais a entidades inter-municipais, que levou a que a têxtil (ou pelo menos a grande têxtil) pague cerca do DOBRO para tratar as suas águas contra o que pagaria se tratasse "in situ". Para ter uma ideia, o custo DIÁRIO do tratamento das águas residuais de uma empresa média-grande (75 m3/h) é de cerca de 1000 euros - 25.000 euros/mês. E a têxtil teve uma hipótese de se associar e tentar reverter essa lei (que não aconteceu por motivos que é melhor não serem públicos...) ou de tomar conta do sistema intermunicipal do Vale do Ave (que não aconteceu porque não se entenderam para tal).

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  2. O custo marginal de ter uma loja online é muito baixo. Para além disso, se eles têm marca própria é porque estão interessados em que eu vá a uma loja e peça o produto deles pelo nome. Se é para eu saber que eles existem, têm de ter mais visibilidade e isso implica estar em sítios online onde eu esteja. Para eu ir à website deles, tenho de saber que eles existem e tenho de ir a um browser e pessoalmente procurá-los. Já se tiverem uma conta no Pinterest ou no Tumblr ou no Instagram ou no Facebook, estão a vir ao meu encontro em vez de eu ter de ir ao encontro deles. Eu acho que a estratégia de marketing que eles seguem limita o crescimento da empresa e a sua visibilidade.

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  3. Rita, eu não discuto nada disso (talves o custo marginal da loja online - não são assim tão marginais). Apenas que está a olhar para esta marca como sendo uma marca que tem por finalidade vender ao cliente final e não tem. O grande mercado deles, como disse, é a hotelaria não o "consumer". A estratégia até pode estar errada, mas o ponto não é esse.

    Se quiser, dou-lhe o exemplo oposto (marca virada para o cliente final): www.lionofporches.pt

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