terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

UE vs. EUA

Sir Winston Churchill, a propósito da participação dos EUA na Segunda Grande Guerra Mundial, disse "You can always count on Americans to do the right thing--after they have tried everything else". Em 2011, os EUA passaram uma lei que continha um plano de sequestro da despesa: se houvesse um impasse no Congresso, a despesa americana seria cortada num valor pré-determinado doesse a quem doer. O início dessa lei foi adiado em 2012 pelo Congresso, mas à medida que a animosidade entre os partidos crescia houve menos vontade de evitar os efeitos da lei. Em Outubro de 2013, os membros do Tea Party paralisaram o Congresso e o governo americano "fechou" as portas durante alguns dias. Frequentemente me deparo com as consequências disso, pois no meu emprego eu tenho de usar dados mensais e, para esse mês, não tenho dados.

Todo o mundo se riu e apontou dedos aos EUA. Este artigo no Huffington Post descreve as reacções de muitos países à figura triste dos americanos. Algumas das críticas mais ferozes vieram das autoridades dos países da União Europeia, que acusaram os EUA de imporem custos ao resto do mundo e, especialmente, de sacrificarem a retoma de uma economia mundial fragilizada. O fecho do governo americano não adiantou nada em termos de se conseguir um compromisso; o sequestro da despesa finalmente aconteceu em Março de 2013. Como era uma coisa para o qual o país já se tinha mentalizado, durante os meses antecedentes, o governo já se tinha preparado para os eventuais cortes, em especial os militares cujo orçamento seria cortado em cerca de 10%. Os efeitos dos cortes não foram grandemente sentidos por causa do planeamento, mas poderão ter adiado os sinais de retoma da economia americana.

Amanhã saberemos, talvez, o que a Grécia decidirá e a resposta da UE. O mais provável é que a situação seja adiada por mais seis meses, isto é, o mais provável é que a União Europeia continue com a faca ao pescoço durante pelo menos mais seis meses. O prolongamento da incerteza neutraliza grande parte da política monetária seguida pelo BCE e desincentiva o investimento e o consumo, o que é extremamente negativo para Portugal. Os bancos gregos estão a ficar descapitalizados com a fuga de capitais, piorando a situação da economia grega e aumentando a probabilidade que esta chegue ao colapso total, o que também é negativo para Portugal.

Ao contrário dos EUA, com o sequestro da despesa e do orçamento, a UE não está a ser preparada para um colapso eventual da Grécia, mas talvez a Alemanha já esteja preparada. No entanto, a força de um sistema não é medida pela resiliência do mais forte; é medida pela resiliência do mais fraco. O que se tem visto é que não há grande coordenação entre os países, nem há vontade de eliminar o problema ou diminuir o seu risco, apenas se adia o problema indefinidamente, como se o custo de oportunidade desta crise fosse zero. Os mercados de dívida soberana dos outros países estão calmos, não esperam grandes resultados destas negociações. Ninguém nos EUA goza abertamente com os europeus; todos dizem que a UE deve esforçar-se ao máximo para resolver a situação e reduzir a incerteza que os europeus enfrentam.

O euro está fraco, as taxas de juro europeias também, e não se vislumbra grande crescimento num futuro próximo. Quem beneficia são as empresas americanas, como a Apple e a Verizon, que estão a financiar-se em euros, neutralizando ainda mais a política monetária do BCE e contribuindo para o crescimento da economia americana. A probabilidade de se insuflarem bolhas nos EUA aumenta e, quando estoirarem, os europeus irão culpar os americanos.

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