terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Re: Eurocrise: uma outra perspectiva


De um ponto de visto estrito, não há contradição entre o que Vítor Bento agora escreve sobre a forma como a Europa está a lidar com a crise e o que antes escreveu sobre Portugal. E o motivo é precisamente esse, antes falava de Portugal e agora fala da Europa. Também Paul Krugman faz um diagnóstico em tudo semelhante a VB sobre a Europa e concorda que Portugal não tinha margem de manobra para seguir políticas muito diferentes. 

Nesse sentido, não há nenhuma novidade (nem contradição) no ensaio de Vítor Bento. O que surpreende é mesmo a mudança de perspectiva. Porque é que antes se focava exclusivamente nas políticas portuguesas e agora se centra exclusivamente nas políticas europeias? Esta ênfase completamente diferente leva a que quem o leia pense que ele mudou radicalmente de opinião. E, confesso, essa leitura parece-me legítima. Este tipo de ênfase a que Vítor Bento se agarra no artigo é em tudo semelhante à ênfase a que se entregavam os subscritores de diversos manifestos anti-austeritários que foram assinados pelo nosso país. Ao falar na estratégia errada que foi a Europa centrar-se na consolidação orçamental é impossível não ler aqui uma crítica à estratégia seguida pelo nosso governo (e tantas vezes apoiada por VB). 

Estou curioso em saber se VB vai declarar explicitamente que mudou de opinião. Nada contra, pelo contrário. Como dizia Keynes, quando os factos mudam, muda-se de opinião. Aliás também eu mudei de opinião sobre este assunto e até sou daqueles que consideram que não estamos pior graças ao Tribunal Constitucional. Mas vale a pena ser explícito sobre o assunto. Não o sendo, não se percebe o que há de novo nesta perspectiva. Afinal, não há nada do que VB diz que não tenha sido dito antes por outros.

Relativamente à análise em si, estando largamente de acordo, gostaria de contestar três pontos:

1. VB faz um exercício útil que é comparar a performance durante estes anos de crise na Zona Euro com a de países que não estão na Zona Euro, nomeadamente, os EUA e os países da EU fora da zona Euro. Como a performance da zona Euro foi pior, retira a seguinte dedução 
desta comparação parece, pois, resultar claro que o mau desempenho da zona euro durante a crise não era inevitável; que esse desempenho poderia ter sido melhor; que se o não foi, tal não pode deixar decorrer da política económica seguida
Ora, das premissas enunciadas não decorre esta conclusão. A performance inferior da Zona Euro pode não ser por causa das políticas seguidas mas sim porque a Zona Euro não é uma Zona Monetária Óptima, levando a que nenhuma política pudesse ser simultaneamente adequada para todos os países. Ou seja, o problema pode estar no Euro e não nas políticas da Zona Euro.
Aliás, é interessante que entre as (poucas) medidas de política propostas por VB esteja uma que em tempos foi defendida por Tózé Seguro e com a qual eu concordei precisamente por permitir aproximar a Zona Euro de uma Zona Monetária Óptima.

2. Outro aspecto com que discordo é do tom quase moralista com que se fala das obrigações dos países excedentários (leia-se, Alemanha e satélites) para com os deficitários (leia-se PIGS). Diz VB:
Aqui reside a grande falha da argumentação moral que tem subjazido à condução do processo, pois que não são os Excedentários que têm estado a sustentar o bem-estar dos Deficitários, mas o contrário. Nestes termos, a justiça do processo de ajustamento em curso só poderia ser restabelecida com uma transferência efectiva de recursos (e não de empréstimos) dos Excedentários para os Deficitários.
Noutro passo, diz Vítor Bento:
face aos dados apresentados, esse excesso [de poupança], bem como a correspondente ineficiência, tem um responsável directo, que não está a assumir as responsabilidades que lhe competem numa união monetária: os Excedentários.
Esta é a pior forma de pôr a questão, tal como antes era errado pôr a questão em termos morais (com argumentos do tipo dos países do Sul quererem viver à custa dos outros, viverem acima das possibilidades e afins). Ninguém vai convencer os alemães com argumentos assim. É bom lembrar que os alemães estavam muito felizes com o Marco e que nunca quiseram o Euro. O Euro foi uma imposição dos restantes países europeus que quiseram adoptar a moeda alemã e beneficiar das taxas de juro alemãs. Os alemães cederam a sua moeda, chamando-lhe Euro, com a promessa de que o Euro seria feito à imagem do Marco alemão. Qualquer alemão dirá: se não gostam que sejamos responsáveis, estejam à vontade para sair.

3. Finalmente, e este ponto está relacionado com o anterior, Vítor Bento argumenta que 
insistindo-se na eliminação unilateral dos défices dos Deficitários, toda a zona euro ficará excedentária e o excedente será reciclado para financiar a procura e o emprego no Resto do Mundo, com sacrifício do bem-estar social na Eurozona.
Na verdade, esta implicação não é nada óbvia, Se fôssemos todos excedentários o que rapidamente aconteceria é que o Euro se valorizaria para que as contas externas da Zona Euro se equilibrassem. Tal traduzir-se-ia um maior bem-estar social na Eurozona, porque com uma moeda mais valorizada conseguiríamos obter mais bens do exterior. Ou seja, não faz qualquer sentido tratar um saldo positivo da balança externa como sendo uma coisa tão maligna como um saldo negativo. O facto de alguns de nós serem deficitários é um custo para a Alemanha que, por nossa causa, não vê a sua moeda valorizar e, consequentemente, o seu bem-estar melhorar.

25 comentários:

  1. Relativamente ao último ponto que fazes, vale a pena pensar no caso EUA/China, em que, ao indexar o yuan ao dólar americano, a China travou a depreciação do dólar e fez com que os produtos chineses fossem competitivos durante mais tempo no mercado americano, ou seja, como tu dizes o bem-estar dos americanos melhorou porque o seu poder de compra de produtos importados também melhorou. Mas também houve outros efeitos, pois esta distorção do mercado destruiu parte do tecido produtivo americano, depreciou salários, e incentivou os americanos a monetarizar a riqueza que tinham acumulado no valor das suas habitações. A "correcção" dessa riqueza artificial deu-se com o estalar da bolha de crédito à habitação.

    Poder-se-ia argumentar exactamente o mesmo para a zona euro. A Alemanha ao ter acesso a uma moeda depreciada tem um incentivo para investir em manufactura e um desincentivo para consumir, enquanto que os países do sul da Europa, com acesso a uma moeda valorizada acima das suas possibilidades, têm os incentivos inversos. Como não há mecanismo de correcção de desequilíbrios endógeno, estes desequilíbrios têm de ser corrigidos através de choques explosivos.

    Mas repara que, enquanto nos EUA já estás a ver que o choque funcionou, a manufactura americana está a recuperar, a China está a arrefecer; na UE discute-se como manter o status quo sem criar estes choques explosivos, o que é completamente impossível. Note-se que, mesmo quando o euro estava depreciado, no início dos anos 2000, a Alemanha procedeu a contenção salarial para ganhar competitividade e aumentar as suas exportações. Ou seja, a meu ver, é duvidoso que o nível de vida alemão melhorasse com uma moeda mais forte, pois o alemães encontrariam maneira de desincentivar o consumo e incentivar a produção, i.e., encontrariam maneira de empobrecer.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. "Ou seja, a meu ver, é duvidoso que o nível de vida alemão melhorasse com uma moeda mais forte, pois o alemães encontrariam maneira de desincentivar o consumo e incentivar a produção, i.e., encontrariam maneira de empobrecer."

      A história do marco alemão é uma história de excedentes externos e de sucessivas valorizações do marco.

      " Note-se que, mesmo quando o euro estava depreciado, no início dos anos 2000, a Alemanha procedeu a contenção salarial para ganhar competitividade e aumentar as suas exportações."

      Em 2000 a Alemanha tinha um défice na Balança de Transacções Correntes.

      Eliminar
    2. Sim, tinham um défice comercial no início da década de 2000, mas o excedente posterior foi conseguido através de controle de salários, o que fez as suas exportações mais competitivas e foi essa a forma de eles reaverem o excedente comercial. Aliás, a Alemanha controla fortemente os salários e estes aumentam a uma taxa inferior à taxa de produtividade do trabalho.

      Eliminar
    3. Tu tinhas escrito que mesmo havendo excedentes os alemães não deixariam a sua moeda valorizar. Eu respondi-te que a história do marco alemão era uma história de valorizações sucessivas.
      Tu deste como exemplo a forma como controlaram os salários em 2000 (mesmo estando o euro depreciado). Aí respondi-te que controlaram salários por que estavam com défices. Repara que se mesmo com o Euro depreciado eles tinham défices, então eram mesmo pouco competitivos. Foi nessa sequência que fizeram reformas. Agora, depois de uma década de excedentes e com taxas de desemprego historicamente baixas, aumentaram o salário mínimo. Ou seja, estão a fazer o caminho inverso. Não põem é o carro à frente dos bois. Não são uns malucos que com um desemprego recorde se põem a aumentar o salário mínimo à bruta.
      Dizes agora que "a Alemanha controla fortemente os salários e estes aumentam a uma taxa inferior à taxa de produtividade do trabalho."

      Salários aumentarem a uma taxa inferior à produtividade implica que a percentagem dos salários no rendimento nacional diminua. É um facto que tem vindo a diminuir. Mas também tem vindo a diminuir nos outros países. É um 'trend' já com uns anos. Não me parece o alemão seja mais forte que os outros. Por outro lado, isto parece-me absolutamente normal. lembras-te das aulas do Júlio Mota e do modelo de Heckscher–Ohlin-Samuelson, em especial o teorema da igualização das remunerações de factores. Com a globalização, é praticamente inevitável que no mundo desenvolvido a remuneração relativa do trabalho desça. Não me parece que esse 'trend' seja algo específico à Alemanha.

      Eliminar
    4. Os alemães ainda controlam os salários apesar de terem excedentes há mais de 10 anos. A competitividade dos salários não deve ser obtida através de controle governamental de salários; a competitividade salarial resulta de mudanças na alocação de factores que aconteceriam no país que tivesse os défices comerciais persistentes. Ao usar controle institucional do nível de salários, a Alemanha está a violar os pressupostos do teorema de H-O-S, pois o ajustamento não é feito através do comércio. Outra coisa é que o teorema de H-O-S não prevê que o factor trabalho dê à sola de Portugal para a Alemanha, empobrecendo os recursos de Portugal, pois é Portugal que sofre a grande parte do custo de qualificar esse trabalho que vai criar valor na Alemanha.

      No entanto, os excedentes comerciais alemães são quase irrelevantes para Portugal e para o sul da Europa. A maior parte do comércio internacional da Alemanha é com os seus vizinhos--lembras-te do Gravity Model para prever o comércio internacional de um país com os outros? O Júlio Mota não ensinou, acho eu, mas vem no livro de Comércio Internacional do Krugman. Nós não somos vizinhos dos alemães, logo nós não temos tanto comércio com eles como temos com os espanhóis. Como praticamente só temos um vizinho e o nosso vizinho tem a saúde debilitada, a estratégia de Portugal tem de ser uma de exportar para além da UE e temos de usar o poder de compra do euro para comprar inputs, produzir coisas e serviços de alto valor acrescentado e exportá-los para além da UE, especialmente agora que o euro está depreciado e o petróleo está barato (o dólar está caro, mas o preço do petróleo baixou muito mais). Apesar de tudo, o euro ainda tem mais poder de compra do que nós teríamos com o escudo para comprar inputs.

      Eliminar
    5. "A competitividade dos salários não deve ser obtida através de controle governamental de salários"

      O que queres dizer com isto? Em que sentido é que na Alemanha há controlo governamental de salários?
      De qq forma, a verdade é que a quebra da repartição do rendimento do trabalho tem sido semelhante em vários países ocidentais.

      Eliminar
    6. Digo-te mais, eu gostei tanto das aulas do Júlio Mota que, em 2010, pedi a uma amiga minha para me enviar fotocópias dos apontamentos. Eu emprestei os meus apontamentos a um colega--os meus apontamentos eram extraordinários!!!--e não me foram devolvidos. A bem dizer, se calhar, eu também não os teria trazido para os EUA.

      Outra cadeira que eu adorei foi Economia Pública, acho que o prof se chamava João Paulo qualquer coisa. Aqueles Lagrangeanos davam-me um gozo imenso... Também não trouxe esses apontamentos; é um dos meus arrependimentos.

      Eliminar
    7. Caro LA-C,

      Pelo que entendi do argumento de fundo ("moral", como lhe chamou) do Victor Bento (que é o argumento do Krugman também, salvo erro) a existência de uma moeda única exige um duplo controlo sobre os Estados: se, por um lado, devem ser sancionados / intervencionados os que apresentam dívidas / déficits elevados, o contrário também seria verdade para os que apresentam superavits (devendo esses superavits ser canalizados, por via comercial ou de investimento, nos países deficitários).

      Como escreveu, não estou a Alemanha a ir nessa. Mas, se não vai nessa, será que não faz mais sentido falar da saída da Alemanha do Euro do que da Grécia (ou mesmo saída dos dois)? Porque desequílibros tanto ocorrem para um lado como para o outro.

      Eliminar
    8. Rita,

      http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_the_largest_trading_partners_of_Germany

      Em termos de comércio (importações, para o caso), o três maiores parceiros efectivo da Alemanha são a China, a França e os Estados Unidos (a Holanda - e já agora Bélgica e Rússia - são maioritariamente fornecedores energéticos).

      Eliminar
    9. Existem sanções para défices orçamentais elevados. Não existem quaisquer sanções para défices comerciais.
      Um país ter excedente orçamental não implica, de forma alguma, que haja um outro país com défice orçamental equivalente. Portanto não há razão para haver sanções a países com excedente orçamental.
      Quanto a contas externas, é verdade que os défices de uns são os excedentes de outros. O mundo é uma economia fechada e portanto o mundo tem um saldo externo nulo. Mas não é verdade que dentro da zona euro os défices externos de uns tenham de ser compensados por excedentes de outros. Existe mundo para lá da zona euro. De qualquer forma, a essa objecção respondi lá em cima no ponto 3.

      Eliminar
    10. Peço desculpa. Reli o meu comentário e é confuso.

      Em relação às sanções, o argumento do Krugman é que estando a zona Euro perto de inflanção zero (ou mesmo deflação) é essencial que a Alemanha, tendo folga financeira, a gaste já que outros países (como os dos Sul) não o podem fazer. Ou seja, as sanções seriam, de facto, a superavits orçamentais em tempos de crise (se quiser, "obrigar" a Alemanha a gastar dinheiro à força). Em termos de equílibrio intra-UE, esse dinheiro gasto dever-lo-ia ser dentro do Espaço Europeu.

      Eliminar
    11. Pois, isto da deflação é uma bela merda.

      Eliminar
    12. Carlos Duarte, os superavits comerciais foram canalizados para a periferia da zona euro, basta pensar que havia muitos bancos expostos à dívida grega. Houve expansão do crédito privado e público na periferia. Só que esse dinheiro foi gasto em coisas que não geram crescimento. Por exemplo, aumentou-se o crédito à habitação em Portugal e também o investimento público em infraestrutura física financiado a dívida. Isso gera algum crescimento no curto prazo, mas aumenta o peso do sector da construção civil na economia para níveis não sustentáveis. Sendo Portugal um país pequeno e onde já tanta gente tem casa própria, eventualmente, deixa de haver pessoas elegíveis para comprar tanta casa.

      Na infraestrutura pública, nem por isso o investimento foi produtivo. Gastou-se muito dinheiro em auto-estradas que não geram grande crescimento porque têm uma taxa de uso sub-óptima. Gastou-se na construção de escolas públicas com equipamento luxuoso--que valor adicional gerou os luxos? Gastou-se na construção de estádios de futebol. O único investimento que realmente acho que foi uma boa aposta foi nas energias renováveis.

      O investimento mais importante para o crescimento de Portugal teria sido uma dinamização do sector empresarial, mas nem por isso foi bem sucedido. Por exemplo, recordo-me do caso de um pomar de oliveiras no qual foi instalado um sistema moderno de rega; o azeite tinha ganhado prémios internacionais de qualidade. A certa altura, o governo queria que uma autoestrada passasse no meio desse pomar e a auto-estrada até parecia ter valor duvidoso para a economia. Ora, com um governo que, a qualquer momento, está disposto a ameaçar um investimento privado de vulto, que mensagem é que se está a dar aos bancos e às empresas? Acho que se diz que o risco é enorme, pois se o governo quer aniquilar parte do investimento, essa parte irá dar um retorno de zero e a restante parte terá de ter um retorno bem acima do normal para compensar a acção destrutiva do governo.

      No ano passado, falei com um amigo em Portugal que me deu outro exemplo: uma pessoa tinha feito uma despesa enorme para criar uma pousada de luxo. A pousada não podia ser aberta porque um funcionário da Câmara decidiu embirrar com algumas coisas, chegando mesmo a dizer qualquer coisa como "isto só vai para a frente quando eu deixar". Este investimento iria trazer receita e emprego para aquela zona e, no entanto, havia uma pessoa que embirrava com uma coisa, o investidor remediava, depois o funcionário embirrava com outra, remediava-se, e ele encontrava outra coisa mal, etc. Entretanto, durante esse tempo todo, o investimento gera retorno negativo para quem o fez, logo é preciso trabalhar muito mais no futuro para compensar o tempo que se perdeu. Mas este exemplo não é o único, pois há outros no país. Agora ao terminar lembrei-me de outra coisa parecida noutra Câmara.

      Mesmo com acesso a crédito há, em Portugal, muita distorção governamental. Aliás, é notório que Portugal não tem estratégia de crescimento nenhuma. Discute-se a dívida porque é um entrave ao crescimento, mas há tanta outra coisa que é um entrave ao crescimento e à qual ninguém liga.

      Eliminar
    13. Rita,

      Peço desde já desculpa pela atitude algo "troglodita" em relação ao sector financeiro, mas emprestar dinheiro não é o tipo de "financiar" que eu tinha em mente.

      Quando eu falo dos superavits serem canalizados (e a título de exemplo) da Alemanha para Portugal, falo de alemães passarem férias cá (ou comprarem cá casas); de importarem mais têxteis, calçado, máquinas, azeite; montarem cá fábricas (pequenas ou grandes); etc.

      Ou, se é para meter bancos, então os alemães contratarem crédito junto das instituições portuguesas.

      Eliminar
    14. "Portanto não há razão para haver sanções a países com excedente orçamental."

      Um país com excedente orçamental integrado numa moeda única deprime a procura agregada, o que prejudica todos os países dessa zona monetária. Para falar a verdade, nem estou certo se a externalidade negativa internacional não será maior no caso dos superavits do que dos deficits.

      Eliminar
    15. "Um país com excedente orçamental integrado numa moeda única deprime a procura agregada"

      Como? Agora um Estado gastar menos do que os impostos que cobra é uma externalidade negativa? Ó Miguel, por amor de Deus.

      Eliminar
    16. Isso será semelhante a dizer que uma família que gaste menos do que o que ganha (excedente orçamental) é factor prejudicial à economia do país, pelo menos à procura interna ? Ou estarei errado na extrapolação (há quem diga que as finanças públicas não são comparáveis às particulares )?

      Eliminar
    17. "Isso será semelhante a dizer que uma família que gaste menos do que o que ganha (excedente orçamental) é factor prejudicial à economia do país, pelo menos à procura interna?"

      É; é exatamente o mesmo raciocínio.

      Claro que tanto uma coisa como a outra só se aplicam na situação de a economia estar em recessão e não ser possível sair dessa recessão usando a politica monetária.

      Eliminar
    18. Ou talvez faça mais sentido falar em externalidade positiva dos deficits (de novo, nas tais condições de crise e politica monetaria a não funcionar ou a não ser usada) do que em externalidade negativa dos superavits (em termos estritamente utilitários vai dar ao mesmo, mas em termos morais não é a mesma coisa "prejudicar" e "não beneficiar").

      De qualquer maneira, já não me lembro bem dos detalhes, mas tenho a ideia de há uns tempos o LA-C até ter escrito qualquer coisa no sentido do que o melhor que Portugal poderia esperar da Alemanha seria (atendendo a que perdões de dívidas e afins estavam postos de parte) uma politica mais expansionista dentro da Alemanha.

      Eliminar
    19. Esse argumento não estará, porventura, a esquecer que a poupança iguala o investimento, não?

      Eliminar
  2. Ah! Adorei o que escreveste, porque me fez pensar e organizar as coisas na minha cabeça.

    ResponderEliminar
  3. Bom texto, concordo totalmente.
    Acho que muita gente ainda nao percebeu, mas o euro so funciona com um Estado federal bastante mais centralizado. O texto de VB toca nesse ponto mas ao de leve. Exige transferencias entre paises, e isso so e aceitavel com controlo central sobre as politicas orcamentais. Exige um sistema financeiro integrado. Exige tambem, na minha opiniao, alguma centralizacao na regulacao laboral, porque divergencias regionais na evolucao dos salarios podem gerar desequilibrios grandes. Ou seja, exige que os governos nacionais abdiquem de grande parte do seu espaco de accao. Muitos acham inaceitavel que o novo governo grego, democraticamente mandatado, nao possa por em pratica o seu programa, mas estar no euro implica essa escolha.
    A questao que se vai por, mais cedo ou mais tarde, e se queremos estar no euro e ceder essa autonomia ou nao. As duas opcoes sao legitimas, mas a maioria dos defensores do euro ainda nao reconhece que esta escolha e real.
    Eu sou da opiniao que, a prazo, devemos sair do euro (e ficar na UE, como a Dinamarca e Suecia). Por razoes de identidade, porque acho que Portugal se deve governar a si proprio, mas nao so. Tambem por uma razao pratica importante: porque o governo Europeu se fara a imagem dos alemaes, e a base de politicas com as quais discordo.

    ResponderEliminar
  4. Há cerca de dois ou tres anos atrás também tinha uma impressão negativa relativamente ao euro como causa do nosso fraco desempenho económico. Contudo a minha dúvida era se mantendo o Escudo e sendo o Banco de Portugak o responsável pela política monetária portuguesa ao invés do BCE com o euro, se a qualidade da decisão na política monetária seria equivalente.

    Um dado empírico que me fez mudar um pouco de opinião em relação a este assunto foi uma conversa com uma colega polaca, que desempenha as mesmas funções que eu e verificar que aufere de um salário inferior e que a média dos salários na polónia eram inferiorees aos nossos. Por outro lado com estes salários mesmo com os salários mais baixos e fora da zona euro também têm níveis de desemprego relativamente elevados. Isto contrariou as minhas expectativas uma vez que estava à espera que pelos menos ao nível do emprego, com o euro sobrevalorizado a Polónia não tivesse problemas de desemprego.

    ResponderEliminar
  5. Lendo discussões económica, às vezes apetece perguntar: como é que numa economia fechada e em pleno emprego (ou para uma tx de desemprego fixa... é a mesma coisa) a economia cresce? é que por vezes nem este simples modelo parece estar bem resolvido ou ser consensual...

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.