sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Um S. Valentim azul

"O branco absorve o azul até que o azul se torna o branco absoluto. O teu branco: é esta a única razão do azul."

Eduardo Prado Coelho, A Razão do Azul

No voo de regresso aos EUA, na última vez que fui a Portugal, por acidente fiquei sentada ao lado de um italiano falador. Digo por acidente porque aquele lugar não era o meu, mas como quando entrei no avião alguém se tinha sentado no meu lugar, eu ofereci-me para tomar o lugar da outra pessoa. O italiano falador vivia em Nova Iorque, mas era de Milão, cidade que tinha visitado antes de passar por Lisboa por dois dias. Quando ele me disse a duração da paragem em Lisboa, presumi que fosse para negócios. Rapidamente ele acrescentou que tinha ido em lazer, que havia qualquer coisa na luz de Lisboa... Era por causa da calçada, explicou-me ele. A reflexão da luz no branco da calçada e dos prédios criava a luz de Lisboa.

Muitas vezes, quando olho para o céu e o horizonte nos EUA tenho saudades do azul de Portugal: do céu, do mar, dos azulejos, dos rios que serpenteiam as cidades... Talvez seja por isso que eu tenha começado em Oklahoma, depois fui para o Arkansas, de lá para o Tennessee, e agora o Texas. Vou para leste, para perto do azul do Atlântico, apesar do azul da parte do Golfo do México onde me encontro não ser de todo especial. Mas a vida é uma maratona, não é um sprint, e eu sei qual é a cor que me guia.

Há, em Lisboa, um quarto azul. Fica dentro do Centro Cultural de Belém, na colecção Berardo de Arte Contemporânea. É uma instalação de luz de James Turrell, um artista americano. Parece estranho que num edifício que de fora parece ser de pedra maciça alguém se tenha lembrado de construir um quarto azul, como se quisessem levar o fora para dentro, como se quisessem dar ao edifício um coração azul. Nesse quarto as paredes de fora são brancas. A instalação é difícil de encontrar porque ao olhar-se as paredes brancas em que uma delas tem uma entrada, é difícil de imaginar o que elas escondem. É preciso estar atento e ser curioso.

Amanhã é dia de S. Valentim. Se tiverem oportunidade, escolham alguém especial e levem essa pessoa a visitar o coração azul: entrem nele, partilhem a experiência, coleccionem memórias.

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