quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Acerca de lingerie

Como estamos próximo do dia de S. Valentim, seria uma grande falha não falar das coisas verdadeiramente importantes na vida de um mulher: lingerie, mais propriamente soutiens. E isto é também uma oportunidade para que tomemos consciência de que ser mulher é uma coisa muito complicada. Requer muita informação e conhecimento; não é para qualquer um...

Então vamos falar de soutiens, que é um tópico do qual eu prometi falar. Comecemos pela economia da peça. Um bom soutien é um item caro por várias razões. É uma peça de roupa bastante complicada de se planear e fazer, e requer materiais que têm certas qualidades como elasticidade, porosidade, e beleza, o que muitas vezes implica materiais bastante frágeis como renda. Fazer um soutien é uma tarefa muito intensiva em trabalho, pois a peça tem muitas partes e requer muitos passos para ser completada. Por todas estas razões, muitas vezes os soutiens mais baratos acabam por sair mais caros porque se estragam facilmente, pois são mal feitos ou os seus materiais são de má qualidade. Depois há a questão do tamanho e estilo do soutien, que também encarecem o processo de produção, pois o número de combinações de estilo e tamanhos é muito alto, logo há uma grande probabilidade de haver peças que não se vendem. Muitas vezes, o estilo do soutien requer que o padrão de tecido seja aplicado de forma simétrica na peça, o que aumenta o desperdício de tecido. Hoje em dia com o uso de computadores, já é possível planear o padrão de forma a minimizar os desperdícios de tecido.

A medida de um soutien é composta por duas partes: o tamanho da copa (a parte do soutien que envolve o seio) e o tamanho da banda (a parte do soutien que envolve a caixa torácica). No entanto, o tamanho de um soutien varia de país para país, de marca para marca, e de estilo para estilo; isto implica que uma mulher não tem só uma medida de soutien. Logo, os homens que gostam de oferecer soutiens às suas companheiras devem ter em atenção a variabilidade do tamanho. O ideal seria saber o tamanho, a marca, e o estilo de um soutien que fique bem à companheira e, com essa informação, o homem vai às compras (para os casais lésbicos, presumo que ambas sabem do assunto).

Há muitos estilos de soutien: push-up, balconette, contorno, meia-copa, sem alças, minimizador de busto, etc. Alguns soutiens têm aros e a copa pode ou não ser almofadada, outros não têm aros; as alças também podem ser removíveis ou não, e algumas até são convertíveis (por exemplo, algumas permitem que se cruzem nas costas ou que fiquem paralelas uma à outra).

Há uma pequena complicação na questão de tamanhos: a maior parte das mulheres, cerca de 70-85%, usa um soutien de tamanho errado (ver "Manual de Lingerie" de Rebecca Apsan). Note-se que o tamanho do peito da mulher altera-se ao longo da sua vida e devido a factores como flutuação de peso, gravidez, mudanças hormonais, etc. Mesmo ao longo de apenas um mês, os seios da mulher podem ter ligeiras mudanças devido ao ciclo hormonal. Também é comum a mulher ter um seio ligeiramente maior do que o outro. Um bom soutien é aquele que permite que a banda contorne a caixa torácica confortavelmente, mas de forma paralela à cintura, e a copa deve cobrir os seios sem que estes transbordem. Há uma técnica específica para colocar um soutien, que é bastante importante quando a mulher tem os seios grandes. As alças devem ser ajustadas em todos os usos.

Um soutien não deve ser usado dois dias seguidos. Como o material é elástico e este expande com o calor do corpo, é aconselhável deixar a peça descansar entre usos (pelo menos três a quatro dias) para recuperar a forma e assim se preservar o bom funcionamento da peça. Um outro cuidado a ter é lavar o soutien à mão ou, se for na máquina usar um acessório próprio, e em água fria ou tépida, com um detergente suave. A lavagem é importante pois os óleos da pele estragam os elásticos, logo convém uma lavagem frequente e cuidadosa. Ao secar, o ideal é ao ar livre. Os soutiens mais leves podem ser estendidos; mas, idealmente, e especialmente os mais pesados, devem ser colocados sobre uma superfície plana para que retenham a sua forma e o material não seja deformado. Ao guardar os soutiens, também se deve ter o cuidado de manter a sua forma.

Eu gosto muito de soutiens--grande surpresa, depois desta dissertação toda! Como já conheço as marcas que uso, sei mais ou menos o tamanho; mesmo assim, quando compro na loja experimento sempre para ter a certeza. Quando se vai a lojas como a Victoria's Secret, pode-se pedir para uma empregada nos medir, mas a minha experiência é que as regras que elas usam não são muito boas e eu prefiro experimentar até encontrar um que sirva bem. E depois também se nota que a empregada não está confortável a medir-nos--os americanos são extremamente cuidadosos ao tocar desconhecidos, pois têm medo de ser levados a tribunal por clientes mais sensíveis. Mesmo os médicos e enfermeiros não parecem muito confortáveis a tocar-nos.

Nas minhas últimas férias em Portugal, fui a uma loja da Intimissimi. Eu não deveria comprar mais soutiens, pois tenho mais de 25, mas eles estavam lá a chamar-me da montra e eu não quis ser mal-educada. Para além disso era meu dever, como cidadã portuguesa, contribuir para a economia nacional. Lá fui eu, deveras contrariada, entrar na Intimissimi. A empregada veio ter comigo e perguntou-me se eu precisava de ajuda; eu respondi que estava apenas a ver. Ela perguntou-me o tamanho e eu respondi (não se preocupem, que eu não vos vou dizer). Ela olhou para mim e diz "Com licença" e, de repente, as mãos dela estavam a medir a minha caixa torácica. Ficou convencida que sim, o tamanho da banda era o que eu lhe tinha dito.

Depois voltou a olhar para mim e eis que a mão dela se formou em copa e aterrou no meu seio--"Whoa, Nelly!" pensei eu para os meus botões--e diz-me que eu devia experimentar uma copa acima da que eu disse. Eu acho que suspendi a respiração porque, depois de viver tantos anos nos EUA, eu não estou habituada a que desconhecidos me toquem com aquele à vontade todo. Mas confesso que a auto-confiança da rapariga e a segurança que ela tinha de quem sabia o que estava a fazer foram uma lufada de ar fresco comparado com as empregadas americanas.

O tamanho que ela recomendou estava correcto e eu acabei por levar o soutien e a calça que ia com ele. Aliás, até os vesti hoje e, talvez por isso, me tenha apetecido falar deste episódio.

Imagem tirada daqui.

14 comentários:

  1. Um seio é uma cavidade. As mulheres têm mamas (os homens também, mas não usam soutien, pelo menos a maioria). Também têm seios mas não precisam de soutiens para seios porque, precisamente, no caso do peito, têm mamas para os cobrir.

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  2. Jorge, se fores ao dicionário e consultares a palavra "seio", verás que é também usada para designar a mama. Obrigada por me leres e comentares. Desejo-te um bom S. Valentim.

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  3. Bom dia dos afectos e sim... O nome científico de seios é mamas, apesar de não ser muito romântico.
    Adorei, Rita. Continua a escrever!

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    1. Obrigada, Paulinha. Pois, mamas é, para mim, uma palavra feia e tem muitas conotações, algumas delas negativas. Não é sexy...

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  4. Oh, eu com os olhos meço logo.

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  5. Olá Rita,

    O que eu acho interessante é que, quando vivia no Reino Unido, toda e qualquer loja que vendesse roupa interior feminina tinha um "Bra fitting service". Por cá, que me lembre, só vi na Women's Secret (Cortefiel). Em termos pessoais, a minha mulher dispensa a gentileza e acho que se lhe acontecesse o que aconteceu a si, era para livro de reclamações ;)

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    1. Copa de Damas, na Baixa. Nasceram para medir. São polacas, creio.

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    2. Sim ,eu sei. Mas estava a referir-me a lojas "correntes" (cadeias, "lojas de shopping", etc) e não tanto a "boutiques" (no bom sentido do termo!) especializadas. A loja é portuguesa (quem lá trabalha não sei... ;) )

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  6. Isso dos seios e das mamas vai dar um óptimo post, já o estive a escrever na minha cabeça.

    Carlos Duarte, eu não achei que a empregada estivesse a ser mal-educada. Pelo contrário, dado o contexto julgo ser normal que ela arranje uma forma de me medir, mas eu não estava à espera. Espero que ninguém reclame dela porque ela é uma boa empregada. Se há uma coisa que eu detesto nos EUA é ir ao médico e sentir o medo com que as pessoas nos tocam ou evitam tocar. Li eu, no outro dia, que uma das tragédias do vírus ébola era que os doentes eram privados do conforto do toque humano, que é um coisa que nos acompanha desde os tempos mais primitivos. O toque de outras pessoas foi uma das primeiras formas de lidar com a doença nos humanos e o nosso corpo responde ao toque; por exemplo, o ritmo cardíaco abranda quando nos abraçam. É uma pena que estejamos a caminhar para uma sociedade tão estéril de contacto humano--isso também dava um óptimo post.

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  7. Rita, de acordo no "toque". Mas podia ter pedido licença antes. Há uma diferença entre à-vontade e abuso.

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    1. Mas ela pediu. Como eu referi no texto, ela disse "com licença", só que eu sou lenta e não percebi imediatamente aquilo para o qual ela estava a pedir licença.

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  8. No que toca a homens e soutiens, antes de os ensinar a escolher o correcto, há que mostrar-lhes o funcionamento dos que têm truques de aumento. Depois, quando na rua se mostrarem muitos entusiasmados, é só segredar-lhes ao ouvido "wonderbra...".

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  9. Oh I wonder(bra) if they'll ever be up to that knowledge, Vera...

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