sábado, 28 de maio de 2016

Um moderado isolado

Francisco Assis deu nos últimos dias uma série de entrevistas. Assis não está espantado com a (curta) duração do governo. De qualquer maneira, um governo não deve ser julgado pela sua duração, mas pelo que faz. O problema é que as condições que podem fazer durar este governo são as mesmas que o impedem de fazer alguma coisa de relevante em áreas vitais como o estado social, o mercado laboral, a atracção de investimento, a reforma do sistema político, a política externa. É um governo de gestão, manietado pela esquerda radical. Assis lamenta o sectarismo que se apoderou do PS e critica a diabolização dos partidos da direita, reflectida, por exemplo, na moção que António Costa apresenta ao Congresso. Tudo isto é dito por um homem que até há bem pouco tempo era visto como um moderado dentro do PS. Com os ventos de loucura que por aí sopram, suspeito que Assis corre o risco de ser considerado da “direita radical” e que o acusem de preconceitos ideológicos, ódios pessoais e, quem sabe, de ser um traidor, a soldo dos grandes interesses. E Roma não paga a traidores, como há uns anos lembrou António Guterres. 

18 comentários:

  1. Não sei que mais aprecie no Assis.
    Se a lucidez e a inteligência de que se acaba por falar no post, sob a capa de moderação, se a coerência.
    Vejamos:
    «Não penso que Passos seja um neoliberal»
    TSF, 28/5/2016
    «Assis realça semelhanças entre Passos Coelho e Salazar»
    Económico, 6/3/2014
    «Será mais fácil fazer aliança com uma direita que, entretanto, se terá livrado da tentação neoliberal que hoje marca claramente a actual maioria»
    Aventar, 8/6/2015
    «Assis acusa Passos Coelho de praticar política "trágica"»
    Política ao Minuto, 15/4/2014
    «O PS está tão longe da agenda neoliberal do Governo...»
    DN, 2/10/2012
    Mais palavras para quê?
    Mais um em velocidade acelerada à procura do poleiro como 1.º ministro ou como Irrevogável vice-primeiro ministro do regressado Passos Coelho.
    Querem divertir-se um pouco?
    Oiçam: https://www.youtube.com/watch?v=6KZvuoKsNio

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  2. "O problema é que as condições que podem fazer durar este governo são as mesmas que o impedem de fazer alguma coisa de relevante em áreas vitais como o estado social, o mercado laboral, a atracção de investimento, a reforma do sistema político, a política externa."

    Muito bem.

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  3. Para o Manuel Silva, quem não está na sua linha, ou anda atrás "de mama" ou de "poleiro". Isto, enquanto regularmente lamenta as posições "ideológicas" em alguns debates e faz de conta que não gosta de comunistas.

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    1. Senhor Geraldes:
      Não faço de conta, não gosto deles e combato-os, talvez como o senhor nunca fez.
      Na minha autarquia, de maioria absoluta comunista há 39 anos, sei o que me custa pagar o IMI mais alto do país.
      Quase um ordenado todos os anos só para este imposto.
      Sabe que as câmaras comunistas, de uma maneira geral, e no distrito onde vivo em especial, têm as taxas de IMI mais altas do país?
      E desde sempre, desde 2004?
      Ainda agora acabei de escrever um artigo para o jornal do distrito, no qual lhe dou nas orelhas mais uma vez (e faço-o todos os meses).
      Só escrevo sobre temas autárquicos: a miséria desta gestão do PCP nas suas câmaras assim o exige.
      Ao contrário do que apregoam.
      E quanto à Geringonça, nunca fui adepto.
      Outra coisa é detestar a deturpação que se faz permanentemente da acção deste governo (por mais dúvidas que mereçam as suas propostas), que ainda só tem 6 meses, e a lavagem com TIDE que se faz permanentemente ao anterior, que falhou permanentemente todas as metas a que se propôs: ainda agora poderemos ir pagar pelo défice ter ficado em 3,2%, quando nas eleições afiançavam que seria 2,7%.
      E as insinuações a partir da deturpação dos dados ainda é pior.
      É isso de que não gosto, seja contra quem for.
      Avaliar a partir de posições ideológicas em vez de dados objectivos.
      Percebeu?

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    2. Manuel Silva, o valor do défice não é um dado objectivo: há défices e valores para vários gostos, sendo que todos eles quererão dizer que as "receitas" não chegaram para cobrir as "despesas", logo que fazem aumentar a dívida pública. Todavia, alguns entendidos dizem que nem todos os défices fazem aumentar a dívida pública ”real”, mas apenas a nominal…
      Quanto a lavagens, note que também se fez e faz, permanentemente, lavagem das borradas feitas pelo governo que levou o País à bancarrota, que chamou a tróica da nossa vergonha e que, com eles, assinou um memorando que nos fez empobrecer a todos. Em matéria de lavagens, não sei quem lava mais branco…

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    3. Tiro ao Alvo:
      Pois, essa do «governo que levou o País à bancarrota, que chamou a tróica da nossa vergonha e que, com eles, assinou um memorando que nos fez empobrecer a todos» também não tem lavagem nenhuma (isto é, ao contrário, sujagem).
      Penso que não vale a pena perder tempo a discutir quando alguém põe as coisas nesses termos.
      Ou se trata de ignorância pura (e eu considero-me incompetente para retirar alguém da ignorância, ainda por cima quando essa pessoa teima em não querer dela sair) ou de má-fé movida por puro fanatismo ideológico (e para isso não há remédio. Só as bombas ou os drones, como se vê na Estado Islâmico, mas eu sou pacífico).
      Portanto, discussão arrumada.
      Sugestão: se quiser abrir uma luzinha no seu espírito leia, na página 5 do Caderno de Economia do jornal Expresso, o texto «Timo Soini destruiu o discurso austeritário». É um conselho retórico, pois sei que não será capaz de o fazer, porque detestará o autor, o «mainstream» dominante destesta-o. Mas vale a pena ler, não ler por ler mas ler para reflectir. Mas volto ao princípio: para ignorantes ou fanáticos é pura perda de tempo.
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      P. S. Declaração de interesses: como sei que iria de imediato ser acusado de socratista, declaro desde já que sempre considerei ser esse indivíduo execrável, um lunático e um grande vigarista. Quando era 1.º ministro e aparecia nas TV eu mudava de imediato de canal e nunca vi 1 segundo das suas prédicas na RTP. Faço esta afirmação de grande vigarista apenas baseado na afirmação do próprio de que usava malas de dinheiro por falta de confiança na banca, não por ter provas das suas indiciadas vigarices, dessas trate a Justiça que tem meios de prova.

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    4. Manuel Silva,

      Eu, como poderá depreender do meu nome, nunca combati comunistas, mas antes mouros.

      PS Não deixo de sentir-me solidário com o seu degredo em terras tão vermelhas.

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    5. Ó diabo, Manuel Silva! Você nem sabe no que acaba de se meter! É que há por aqui um socratino militante, que não precisa de ser nomeado (ele tratará de se acusar), que vai decerto lançá-lo às labaredas do Inferno, coisa que nem no seu concelho comunista conseguiria imaginar-se!

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    6. Geraldes:
      Entre os socratinos emperdernidos e os Geraldes e quejandos, todos fanáticos ideológicos que só vêem de um olho, venha o Diabo e escolha.
      São ambos filhos da mesma cepa (modo de pensar), uns do ramo esquerdo, outros do ramo direito.

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    7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Ventos de Loucura? :) :) Isto, sim, é uma análise sóbria e moderada.

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  5. Manuel Silva, o que escrevi sobre a bancarrota e a troica, não é uma opinião, são factos, acontecimentos reais: foi o governo do Sócrates que chamou a Troica, e foi o PS, mais os outros partidos do "arco da governação" que negociaram e assinaram o "memorando". Negar isto é ignorância. Ou má-fé.
    E assim sendo, passe bem.

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    1. Também não entendo esta voga de se criticar posições "ideológicas". É evidente que a ideologia subjaz a todas as posições políticas, mesmo as dos Silvas exilados nos sovietes portugueses.

      O brado anti-ideologia deu, aliás, origem a uma tendência bem mais nefasta, a meu ver, a da "tecnocracia", o suposto primado da técnica, da ciência (e da Razão?) sobre a "miopia" e o "sectarismo" das ideologias. O mal está em os políticos não terem, por vezes, a coragem das suas convicções, e tentarem disfarçar as suas opções ideológicas sob o diáfano manto das "melhores práticas" e das "soluções tecnicamente mais eficazes". Nem tudo, neste mundo, se resume a números e contas, a "factos", a "verdades" e a "mentiras".

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    2. Completamente de acordo. ideologia é isso mesmo, um conjunto de convicções, princípios, representações do mundo. Como já aqui escrevi:
      "Descartes rejeitou a retórica. Depois, a tradição científica considerou que só existe razão na ciência. O resto não passaria de afectos e paixões. Afinal, percebeu-se que as ciências exactas não têm grande coisa a dizer sobre o homem em sociedade, nem sobre as razões que nos guiam nas nossas escolhas quotidianas. Ainda bem que é assim, dirão alguns. O risco de um totalitarismo científico seria imenso. Uma sociedade puramente racional seria, provavelmente, uma utopia fatal para a humanidade."

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    3. Donald Trump, José Carlos, é um bom exemplo dos arroubos "anti-ideologia": não se cansa de salientar o seu "êxito" como empreendedor e os seus mágicos dotes negociais. Também para ele, a "ideologia" não interessa, e aquelas tiradas racistas e xenófobas destinam-se apenas a vender o seu produto (também se considera um exemplar vendedor). Já em 1992 (e também em 1996) apareceu uma figura semelhante nas eleições americanas, embora sem o conteúdo mais desagradável e grosseiro de Trump:o candidato independente Ross Perot, o qual contribuíu seriamente para a derrota de George H. W. Bush e para Bill Clinton ser o único presidente na história dos EUA a ter sido eleito duas vezes sem a maioria do voto popular.

      Não me parece que a política americana tenha ficado a ganhar com estes indivíduos "pragmáticos" e "business-like".

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    4. Caro J. C. Alexandre:
      O senhor, de facto, é mestre na arte de dar uns torçoezinhos no que os outros afirmam e na realidade.
      SOBRE O QUE EU AFIRMEI: eu nunca disse que não tenho ideologia e nunca me afirmei contra as ideologias. Não há pessoas sem ideologia, independentemente do grau de consciência que disso tenham.
      O que critico é o fanatismo ideológico que leva a desculpar um acto nos amigos e a criticá-lo nos adversários, transformados em inimigos, se necessário distorcendo até os dados objectivos: os números.
      E isso tem que ver com a radicalização dos tempos que vivemos, que conduz ao mais desvairado irracionalismo, não só em Portugal, por razões que não poderei agora escalpelizar.
      A prova do que digo está no seu post, pois atribui aos que criticam Assis a qualidade de loucos. Disse: «Com os ventos de loucura que por aí sopram, suspeito que Assis corre o risco de ser considerado da “direita radical” »
      Ao que eu chamo fanatismo ideológico chama o senhor loucura.
      Afinal, é bom olharmos para nós antes de apontarmos os outros.
      SOBRE A DISTORÇÃO DA REALIDADE: à ventoinha Assis reconhece estatuto de moderação, que é uma qualidade que se associa aos homens de Estado - é um moderado.
      Ora, um moderado é um indivíduo sensato, ponderado, não dado a radicalismos, logo a frases bombásticas.
      Nada melhor do que ver os pinotes que o homem deu acerca de Passos Coelho em tão pouco tempo para se aferir da consistência do figurão (eu deixei as frases no meu 1.º comentário).
      Mas como convém ao sector político de que o senhor (muito legitimamente) faz parte, há que elogiar a criatura.
      Aliás, coisa semelhante aconteceu com o Totó Seguro, depois de escarnecido durante algum tempo pelas tristes figuras que fazia quem se queria candidatar a 1.º ministro, quando começou a patinar nas sondagens e se vislumbrou a possibilidade de António Costa o apear (coisa normal em muitas democracias ocidentais consolidadas e mais evoluídas do que a nossa: Canadá, Bélgica, recentemente na Austrália), incensaram-no e catapultaram-no ao papel de grande estadista.

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  6. Num arroubo de moderação, o José Carlos Alexandre ressuscitou o velho slogan "Droga, Loucura e Morte" e arranjou quiçá mais um processo disciplinar, agora ao Assis, com tribunais marciais por traição e tudo. É obra. Ninguém merece análise tão loucamente moderada. E se, por desgraça, o Assis afinal passar incólume e até ignorado?

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    1. Renato, está visto que temos visões diferentes em muitos assuntos, mas eu até lhe acho piada e penso que nenhum de nós enlouqueceu ainda. Volte sempre.

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