terça-feira, 17 de maio de 2016

Manobras de diversão

No início da polémica dos contratos de associação, recordo-me de ler uma coisa que o LA-C escreveu, mas não sei exactamente onde. Dizia o LA-C que fazer este tipo de anúncio acerca dos contratos de associação era uma coisa que devia ser feita com, pelo menos, um ano de antecedência, para toda a gente ter tempo de se ajustar à nova realidade. Concordo em absoluto e uma das queixas que tenho acerca da forma como Portugal é governado é que o estado muda de ideias e de política constantemente e não permite a ninguém planear a sua vida a médio e longo prazo. Podemos contar com reformas da educação, de impostos, etc. sempre que muda o governo e, em Portugal, desde o 25/4/1974 temos um governo novo em média cada 2 anos.

Apanhou-me de surpresa a dimensão que se deu a este tópico e acho que muitas das discussões que se tiveram eram desnecessárias. O primeiro post que escrevi foi exactamente a esse propósito: não falem em o estado ter a responsabilidade de maximizar as escolhas porque não faz sentido quando há recursos limitados. Haveria outros argumentos muito mais convincentes para defender os contratos de associação, como o que o Artur Rodrigues escreveu. Mas muitos comentadores acharam mais benéfico discutir ideologia sem olhar às restrições da realidade, quando é exactamente por termos feito isso no passado que tivemos uma intervenção da Troika em 2011. Quem não aprende com os erros do passado está condenado a repeti-los no futuro.

No passado fomos governados por José Sócrates, que habilmente manipulava a opinião pública para esconder a sua incompetência e o seu excesso de optimismo infundado. No presente somos governados por António Costa, uma pessoa que segue exactamente o mesmo modus operandi. Porque é que a decisão dos contratos de associação foi anunciada nesta altura? Porque o governo precisava de uma manobra de diversão antes de anunciar que a economia estagnou. António Costa deu-nos pão e circo. E as massas foram ao rubro como de costume.

21 comentários:

  1. Às tantas, ainda deram algum benefício ao Luis e à Rita, por terem soprado as brasas do tema com tanto afinco, no Observador e nesta casa. Provavelmente, sem as suas contribuições, o espectáculo não teria durado tanto tempo.

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    1. Eu escrevi tanto por uma razão simples: os meninos do Insurgente insinuaram que eu era, no mínimo, incompetente.

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  2. Mas, afinal, em que ficamos? Isto foi decidido nesta altura por António Costa querer dar "pão e circo" ou devido às "restrições da realidade"? Note-se que muito pouco na actuação do governo até agora reflectiu preocupação com essas restrições.

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    1. Lê outra vez o que eu escrevi literalmente e deixa de filtrar.

      Eu não disse que António Costa tinha decidido agora; eu disse que foi anunciado agora como uma manobra de diversão. Também não disse que a decisão do governo reflectia preocupação com gestão de recursos; se eles estivessem preocupados com os recursos eliminariam ineficiências no ensino público.

      Para mim, justificar acesso ao ensino privado com maximização de escolhas é o mesmo que justificar não despedir professores porque eles têm direito a emprego e, nesse aspecto: ambos os argumentos são idiotas e ignoram as restrições da realidade.

      Percebeste agora ou queres que eu tente explicar-te novamente?

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  3. Infelizmente a Rita tem razão. Este é o tema fracturante do Costa...

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  4. Não há necessidade de abespinhamento, só por eu ser lento de raciocínio. E filtar é coisa que só costumo fazer com o Vintage. ;-)

    Quanto ao debate em si, passa-me largamente ao lado, mas leio-te, e a outros, para ver se me elucido.

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    1. Sinceramente, não percebi o teu comentário e achei que leste coisas que eu não escrevi. Se me lês à espera que eu te elucide, não me leias. Obviamente, não escrevo suficientemente bem para te elucidar. Lê os outros; escrevem melhor para a forma como lês.

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    2. Não, eu li o que ti escreveste:

      «Mas muitos comentadores acharam mais benéfico discutir ideologia sem olhar às restrições da realidade.» Concluo mal se achar que deste a entender que o governo olhou às restrições da realidade ao tomar esta decisão? E se não achas que olhou, que relevância tem a frase para o debate?

      «António Costa deu-nos pão e circo». Esta é clara.

      Quanto ao "decidido" ou "anunciado", isso não altera o fundo da questão.



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    3. Eu também disse que o Artur Rodrigues defendeu bem os contratos de associação, mas foi conveniente para ti ignorar essa frase. O que queres que eu infira: que tu leste o que eu escrevi pelo que eu escrevi? Pela tua interpretação, vejo que tu leste o que quiseste ler.

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    4. Eu não ignorei essa frase; apenas ela não me pareceu contradizer qualquer outra parte do texto e não tinha, portanto, qualquer relevância para a dúvida que levantei.

      Foi por me parecer haver uma contradição entre as tuas duas aparentes interpretações dos motivos da acção do governo - as "restrições da realidade" e o "pão e circo" - que levantei a dúvida. Em parte alguma insinuei, dei a entender ou afirmei mais nada para além disso.

      Agora sou eu que digo que não escrevo bem para a forma como lês.

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    5. A contradição é que tu achas que eu sigo uma ideologia e eu não sigo ideologia nenhuma. Há argumentos convincentes e argumentos estúpidos e eu acho que muitas das pessoas que defenderam os contratos de associação usaram argumentos estúpidos. Quem quer argumentar com coisas estúpidas está no seu direito; mas eu também tenho o direito de refutar argumentos estúpidos.

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    6. Como tu não és economista, vou dar-te uma mini-lição: falar em dar escolha às pessoas, como foi feito, significa que o problema não tem restrições de custo, ou seja, a solução é mesmo construir dois sistemas paralelos permanentes para que cada um escolha para onde quer ir, pois isso maximiza as escolhas. Falar em minimizar o custo também implica um problema sem restrições: a solução é manter toda a gente analfabeta, pois isso não custa dinheiro nenhum.

      Em economia, nós alocamos recursos escassos a usos alternativos, logo o problema tem restrições: ou maximizamos o benefício dos recursos, dado os recursos que temos; ou minimizamos o uso dos recursos, dado um nível mínimo de benefício. Tens sempre uma restrição da realidade: ou o dinheiro que tens disponível, ou o benefício que tens de atingir.

      O estado tem de trabalhar com, pelo menos, duas restrições: é obrigado a assegurar um nível de escolaridade mínimo a toda a gente e tem recursos monetários escassos. No passado, o estado agiu como se tivesse acesso a recursos infinitos porque contraiu dívida sem ter em conta o retorno do investimento, como se nunca a tivesse de pagar.

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    7. Eu já disse que o debate acerca dos contratos de associação me passa largamente ao lado. Frankly, I couln't care less, mas percebi o que está em causa, de ambos lados. Mas está bem:

      Estás a presumir coisas que eu não penso e que, aliás, o que de ti tenho lido não permite concluir. Não te vi, também neste debate, seguir qualquer posição ideológica; simplesmente, you have firmly grasped the wrong end of the stick, if you get my drift, nesta conversa comigo.

      Quanto à mini-lição de economia,(passámos, pelos vistos do "argumentum ad absurdum" ao "argumentum ad verecundiam"(também conhecido por "falar de cátedra" ;-)), tudo o que subjaz à tua cuidada e meticulosa exposição é o chamado bom-senso: qualquer pessoa sensata age assim no seu dia-a-dia, sem precisar de ser formado na "dismal science".

      E, pelos vistos, ficou sem resposta a minha única dúvida nesta conversa, e que podes encontrar na primeira intervenção. Fiz uma pergunta simples e recebi uma "mini-lição" de economia. De qualquer modo, agradeço. Tu sabes que eu gosto sempre de ler-te e de captar as nuances da tua retórica ;-).

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    8. Se queres que eu te explique a forma pela qual cheguei à conclusão, tenho de te informar das ferramentas que usei e, se o faço, achas que estou a ser intelectualmente arrogante. É a minha profissão; é o que eu estudei. Queres que eu esqueça tudo o que aprendi e converse como se não percebesse nada de economia?

      Quanto à tua questão, na minha cabeça há duas coisas diferentes: uma coisa é o mérito ou demérito do que o governo quer fazer; outra coisa é a escolha de timing do anúncio. E a minha opinião, quanto à segunda, é que querem distrair o público de outras questões. Quanto à primeira, acho que os contratos de associação são uma ferramenta à disposição do governo; o seu uso não deve ser decidido com base em análise agregada, mas sim caso a caso. Deve-se assegurar que os resultados da decisão defendem os interesses dos alunos e dos contribuintes.

      Já sei, é falar de cátedra. Se calhar não sabias, mas já ensinei numa universidade. Podes deixar de falar para mim, já que não te interessa conversa de cátedra.

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    9. Falar de cátedra não é expor os conhecimentos que se tem. Não, falar de cátedra é frizar que se detém determinada autoridade que o nosso interlocutor não detém. É um argumento retoricamente inválido (sem querer "falar de cátedra", eu até tive de estudar Retórica, e posso dar "mini-lições", já agora, apenas com isso te informando, portanto, das ferramentas que uso). Muitas vezes, o "falar de cátedra" não passa de parvoeira (do estilo: "eu já estive em Cuba; portanto, quem lá não tiver estado, não pode discutir o castrismo comigo") . Não é, claro o teu caso.

      As senhoras, por aqui, andam muito irrequietas: uma diz que não me lerá mais, porque eu tenho um defeito físico qualquer (muito elegante, essa senhora); outra convida-me a deixar de "falar para ela" (uma expressão que suscitaria o forte opróbio do Dr. Baltazar Valente, meu saudoso professor de Português no Liceu Normal de D. Manuel II, no Porto). Suspeito até, que uma se tomou de dores pela outra. Não havia necessidade. Eu não sou misógino ;-).

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    10. «Como tu não és economista, vou dar-te uma mini-lição». É isto o "falar de cátedra". Podias ter dito tudo o que vem a seguir, sem usares esta introdução. Teria revelado muito mais elegância, coisa que não se aprende na universidade, claro.

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    11. Eu disse, mais do que uma vez, para tu leres o que eu escrevi literalmente. Não há contradição porque uma conclusão não impede a outra.

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  5. O Orçamento entrou em vigor no final de Março não parece demasiado precipitado imputar a este Governo os resultados económicos quando andava a seguir o Orçamento do anterior Governo (duodécimos)

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    1. Não, porque não é o orçamento que gera crescimento. O que este governo tem feito é destruir a confiança das pessoas na economia, até porque o Bloco de Esquerda está a trabalhar para que Portugal saia do euro.

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  6. Acho que estás a exagerar na seriedade dos protagonistas. Se retirares a seriedade dos pressupostos, eis que as explicações se tornam muito mais simples.

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