sexta-feira, 13 de maio de 2016

O exemplo dos EUA

Para quem defende um sistema de educação em que os contribuintes pagam e o sector privado fornece os serviços, vale a pena considerar que esse sistema é semelhante à forma como o sistema de saúde americano funciona: os doentes beneficiam dos serviços que são da responsabilidade de privados, mas quem paga aos privados é o estado, no caso dos programas Medicare/Medicaid, e as seguradoras. Os privados é que negoceiam com os fornecedores de medicamentos, máquinas, etc. Já na Europa, como há cuidados de saúde mínimos fornecidos pelo estado, que também incluem cuidados de prevenção, o estado negoceia com os fornecedores.

O mercado de medicamentos é especialmente interessante de considerar, pois é um mercado onde dominam multinacionais que vendem a muitos países, logo os resultados em termos de preços de medicamentos por país informa-nos acerca de como funciona a concorrência. Se a concorrência entre companhias no sector de saúde realmente assegura bons resultados em termos de preços, então seria de esperar que os americanos pagassem menos pelos medicamentos do que os outros países. Só que os resultados não suportam essa hipótese, como se pode verificar nesta peça da Bloomberg:

"We can no longer sustain a system where 300 million Americans subsidize drug development for the entire world," said Steve Miller, chief medical officer for Express Scripts Holding Co., the largest U.S. manager of prescription-drug benefits."

Fonte: Bloomberg

Para os que defendem liberdade de escolha, ela também não existe, pois no sistema americano, é comum ter de usar um medicamento específico pois apenas esse é coberto pelo seguro. Às vezes, o seguro recusa-se a cobrir medicamentos de marca receitados pelo médico porque há medicamentos genéricos disponíveis. Ora, se o genérico fosse um perfeito substituto do de marca por que razão não baixaria o preço do medicamento de marca de forma a que fosse indiferente para o seguro pagar por um ou outro? É isso que aconteceria numa economia com concorrência.

Talvez o economista João César das Neves nos queira explicar porque é que os resultados que ele prevê na teoria não se concretizam na prática.

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