segunda-feira, 30 de maio de 2016

Poder de mercado

Esta semana deu-me para cozinhar bastante e, como tal, decidi oferecer algumas refeições à minha vizinha J. Numa das minhas visitas de entrega, encontrei a Groupie do Lobo Antunes (GLA), que tinha acabado de jantar com a J. Começámos a falar de arte e a GLA foi professora de arte no Museu de Belas Artes, há várias décadas. Até recentemente, a escola de arte chamava-se Glassell, em honra do milionário que tinha feito a doação para a sua construção, mas o complexo do Museu de Belas Artes vai ser modificado e o edifício Glassell foi demolido para dar lugar a outro edifício que fará parte do novo campus.

O projecto de renovação do campus terá um custo de $450 milhões e o nome de Fayez Sarofim, que doou $70 milhões. O Sr. Sarofim é apenas um dos homens mais ricos de Houston e dos EUA e, como devem calcular, é um grande apreciador de arte. Também é um grande apreciador de charutos, que fuma copiosamente ao pé das grandes obras de arte que decoram o edifício onde trabalha -- até os cubículos têm obras de arte, não vão os assistentes ter um mau dia por falta de inspiração -- e a sua casa, mas quando se é o dono de Picassos, Motherwells, Rauschenbergs, de Koonings, etc. pode-se fazer o que muito bem se entender. Uma obra de arte num museu de entrada livre é um bem público; mas na casa de alguém é um bem privado.

O Sr. Sarofim faz parte do top dos 200 maiores colecionadores de arte do mundo e, obviamente, em Houston, o seu nome é conhecido por toda a gente que trabalha nos museus -- até os caixas do parque de estacionamento o "conhecem". A GLA tem a sorte de ter um sobrenome parecido com o do bilionário e relatava ela que, numa das sua idas ao museu, houve qualquer confusão com o seu cartão de membro e o preço de estacionamento não incluía o desconto. Ao falar com o caixa, este perguntou-lhe o nome e, quando recebeu a resposta, o rapaz entrou em pânico, pediu imensa desculpa, e abriu-lhe o portão sem que ela tivesse de pagar por estacionar. Pensava ele que ela pertencia à família de Sarofim, o que lhe concederia poder de mercado. Um Sarofim no mercado não é o mesmo que um Smith, por exemplo. O Smith teria de esperar que a confusão se clarificasse para que o desconto lhe fosse concedido.

Quando se tem poder de mercado, o mercado verga em nosso favor. Na questão do "custo" do ensino privado e do ensino público, as questões de poder de mercado são essenciais. É por os sindicatos de professores terem poder de mercado que os professores do público ganham, em média, mais do que os do privado. Mas qual é o poder de mercado do estado quando negoceia um contrato de associação? Será que o preço por turma é ditado pelo colégio privado, o que acontece quando uma família anónima compra a educação do seu filho no colégio, ou é ultimamente determinado pelo estado? Se é determinado pelo estado, então não é representativo do verdadeiro custo para o colégio, pois o preço inclui a pressão do poder de mercado do estado.

1 comentário:

  1. "Será que o preço por turma é ditado pelo colégio privado, o que acontece quando uma família anónima compra a educação do seu filho no colégio, ou é ultimamente determinado pelo estado? Se é determinado pelo estado, então não é representativo do verdadeiro custo para o colégio, pois o preço inclui a pressão do poder de mercado do estado."

    - Provavelmente deduziu bem que o "preço" foi definido pelo Estado com base no apuramento de custos médios dos serviços estatais substituidos pelos colégios. Ainda assim, é quase impossível que os contratos não contenham o mínimo de informação. Eu escrevi "quase", porque, nessas datas as vacas voavam muito, e não era como no projectado Simplex do Costa. Era cá cada tufão...

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