domingo, 15 de maio de 2016

O mercado gosta muito de mim

Depois de comprar uma Fujifilm Instax Mini e ter experimentado tirar fotos das gardénias do meu jardim para aprender a usar a máquina, notei que algumas das minhas fotos, que estavam todas desfocadas, recordavam-me das fotos de flores de Cy Twombly, que eu adoro. Fiquei tão entusiasmada que fui ver que livros dele havia à venda.

Encontrei um com as 15 fotos de tulipas, que foi editado aquando de uma exposição em Munique, de Junho a Agosto de 2010. Comecei a salivar... Há várias cópias à venda na Amazon, a preços de $69+ mais portes, sendo a mais cara coleccionável -- autografada -- e a um preço de $475; mas também encontrei uma cópia numa loja em Los Angeles, a Counterpoint Records & Books, por $60 + $4.50 de portes. Para além de ser mais barata, é uma loja local e eu gosto de dar preferência a pequeno comércio. Vendido!

Depois de comprar, comecei a pensar se devia ter comprado. Quando eu morrer, quem ficará com ela? Se calhar ninguém apreciará a minha colecção de livros de arte e eu não gostaria que se perdesse. Será? E se a minha casa for atingida por um furacão? "Não, Rita, nem penses nisso. Foi só $64.50. Se fosse assim tão valiosa, estaria a um preço muito mais caro e tu não terias vontade de a comprar--foi o caso da cópia autografada". O mercado percebe destas coisas; isto é um monopóplio natural: não é rival no consumo porque não o destruirei, mas ao comprá-lo excluo outros de o ter e eu, a bem dizer, não me importo muito com os outros.

Queriam aquela cópia? Tivessem comprado antes ou então vão comprar outra mais cara ou percam tempo a encontrar outra mais barata. Não há almoços grátis. Foi a minha conta bancária, que tinha dinheiro do fruto do meu trabalho, que me deu a escolha de consumir aquela cópia ou outra. Não foi preciso o estado intervir para me dar uma escolha porque não há nenhuma falha de mercado.

O estado só deve intervir quando há falhas no mercado e, quando intervém depois de já ter corrigido as falhas, distorce o mercado. Ir à loja e não ter dinheiro no bolso para comprar não é uma falha de mercado porque o mercado produziu o bem: ele existe e está disponível para ser consumido.

No mesmo dia que chegou o meu livro, chegou também a minha conta de gás que me revelou que o mercado decidiu que eu merecia confiança: a companhia de gás devolveu-me os $65 que tinha exigido para eu iniciar o serviço e até me pagou juros. Ó mercado, eu também gosto tanto de ti. És tão meu amigo...

1 comentário:

  1. Ó Rita, tu és pessoa para gastar 60 dólares num livro de fotografias desfocadas?!
    Parece-me que isto vai ser o início de uma bela amizade. Dessas, tenho muitas para te vender (a preço de amigo e de grossista!): de flores, de um cãozinho amarelo e irrequieto, de um lago berlinense, de pessoas, de casas, de tudo.
    :)
    O mercado é teu amigo, eu cá dou-me bem é com as finanças. Paguei uns impostos com mais de um ano de atraso, e perdoaram-me a multa. Mas depois, e porque ninguém disse que o paraíso existia, deram-me uma de 50 euros por ter atrasado umas semanas o pagamento dos impostos devidos no primeiro trimestre deste ano. Estou tão contente com o perdão da outra multa que nem me chateio muito com esta.

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