terça-feira, 24 de maio de 2016

Mercado desavergonhado...

A Bloomberg relata o caso de um hedge fund que tinha feito um short* no Novo Banco, mas os clientes do hedge fund, fartos de perder dinheiro com o sector energético americano, não esperaram tempo suficiente e a posição teve de ser desfeita antes do tempo, 30 de Dezembro de 2015. O custo de oportunidade dessa posição foi $40 milhões. Um outro fulano teve o mesmo problema e perdeu a oportunidade de ganhar $28 milhões. O mercado é um chato, não tem pena de ninguém. O governo português a criar tão boas oportunidades para alguns especuladores,** que até tinham razão, e o mercado vai por trás e, pimba, dá o dinheiro a outros...

* Um short é uma posição financeira motivada pela expectativa de que o preço do activo vai cair, logo vende-se o activo ao preço actual, na expectativa de o poder comprar mais tarde a um preço mais barato. Chama-se short porque o activo é vendido antes de o comprarmos, logo falta-nos o activo -- estamos "curtos", short --, até liquidarmos a posição.
** O mercado especulativo é um "zero-sum game": as perdas de uns são anuladas pelos ganhos de outros. O valor deste mercado é o de fornecer informação e permitir a gestão de risco, não cria valor líquido em termos reais.

15 comentários:

  1. Short é jogatana. Nada mais. A cantiga de que a especulação sem limite traz liquidez aos mercados é desculpa para deixar os jogadores continuarem a galhofa. A deslocação de grande parte da riqueza da economia física para a economia virtual é um dos principais contributos à debilidade do sistema financeiro e à concentração de rendimento. E, pior que tudo, o dinheiro que alimenta a jogatana, em grande parte, não pertence aos jogadores. Estes são meros comissionistas que ganham mutíssimo quando têm sorte e muito quando têm azar. No dia em que as perdas nos "investimentos" castigarem o património pessoal desses gestores do dinheiro alheio, obrigados a colocar skin in the game, os mercados serão menos frágeis.

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    1. Se o NG fosse falar com alguns agricultores, eram capazes de discordar de si...

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    2. Quais? Os que, por exemplo, no Mato Grosso, nesta campanha safrinha, travaram o preço do milho a 19 R$ a saca, e a seca deixou sem possibilidade de cumprir contratos? Ou os que só trabalham no físico e estão agora a vender o que têm a 31 R$?

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    3. Fale com os agricultores que, nos anos de boa produção agrícola, não se limitaram a esperar pelo preço do mercado spot.

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    4. Estou a dizer-lhe que neste ano, neste caso, os que ganharam mais dinheiro foram os que se limitaram a esperar pelo mercado spot, tivessem boa e má produção.
      Se entre quem quer vender um saco de milho em Sorriso e quem o quer comprar em Roterdão se interpõe um valor de apostas no seu preço de muitos milhares de sacos, e se entre os que apostam há quem ganha muito mais dinheiro do que entre os que produzem, um dia destes ficam todos a jogar os dados e ninguém se interessa pela enxada.

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    5. Mas é um risco e há pessoas que estão dispostas a tomar esse risco e outras que não. Como é que os agricultores sabem qual vai ser o preço spot da colheita? Imagine que não havia mercado de futuros. Como é que se saberia qual o efeito de uma seca ou de bom tempo no preço? Será que toda a gente ficaria contente em esperar pelo preço spot? Dizer que quem esperou pelo preço spot está melhor não serve de nada; eu também sei os números da lotaria depois de eles serem anunciados.

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    6. Alguma especulação tem de haver. Nada contra. O problema é a actividade propriamente dita representar uma ínfima parcela do valor em especulação.

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    7. "Short é jogatana" tanto quanto "long é jogatana". Os dois processos são úteis para agregar o conhecimento dos intervenientes no mercado. Haver gente (e é muita) que usa o mercado como um casino não significa que fazer short (ou long) seja intrinsecamente condenável, e torna mais fácil alguém livrar-se da sua posição (ou entrar no mercado). Eu não invisto no mercado porque não tenho capital nem tempo/disposição/capacidade técnica para seleccionar investimentos ou criar um portfólio. Se o fizesse, estaria (como tanta gente) a "jogar", e tenho demasiada aversão ao risco financeiro para o fazer, mas isto não me torna mais virtuoso do que alguém que decida entrar no mercado com conhecimento (investindo) ou sem ele ("jogando").

      Bem feito, "shorting" é uma forma de "segurar" o risco de um conjunto de investimentos, e são frequentemente os bons shortes os primeiros a detectar modelos de negócio insustentáveis ou quase fraudulentos. Junto uma ligação para uma entrevista interessante com Jim Chanos:

      http://ftalphaville.ft.com/files/2016/04/Alphachatterbox-Chanos-transcript.pdf

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    8. Os próprios já assumem que assim como está não pode continuar. A mama de 2% + 20% sobre resultados tem que acabar.

      http://www.bloomberg.com/news/articles/2016-05-25/hedge-funds-may-lose-quarter-of-assets-blackstone-s-james-says

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  2. "O mercado pode continuar a ser irracional durante mais tempo do que uma pessoa pode continuar solvente." Frase atribuída a John Maynard Keynes.

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    1. Exacto! E ainda é válida. E ainda dizem que o Keynes não percebia nada de mercados...

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    2. Quem diz que Keynes não percebia nada de mercados? :)

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    3. Mas tu não vês o desprezo que o pessoal que trabalha nos mercados financeiros tem por Keynes? Keynes, o investidor, não é muito conhecido...

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    4. Vejo bem o desprezo que o pessoal que trabalha nos mercados financeiros tem por Keynes. Vejo-o em cada crise.

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    5. Keynes, o gajo que ganhou o dinheiro dele com os mercados?

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