terça-feira, 31 de maio de 2016

Momento bipolar

"Mário Centeno garante que o governo está a trabalhar “com grande afinco” na consolidação das contas públicas e pede “paciência” e “tempo” para que “as reformas estruturais feitas nos últimos anos se materializem”, o que ajudará a acelerar o crescimento e a redução da dívida."

Fonte: Observador

Expliquem-me lá o que pensar deste governo. António Costa teve um fanico quando perdeu as eleições e, para formar governo, pseudo-coligou-se com dois partidos que são absolutamente contra as reformas que foram implementadas pelo governo PSD-CDS. Passámos os últimos meses a reverter medidas do governo anterior e esse parece continuar a ser o caminho futuro para que a pseudo-coligação sobreviva. Agora, Mário Centeno anuncia que as reformas anteriores irão produzir efeitos?!? Surgem na minha cabeça duas conclusões:

  • Este governo não tem legitimidade, pois toda a sua plataforma assenta em virar a página das políticas seguidas pelo governo anterior, que dizem ter sido erradas;
  • Se a paciência é comprada com as reformas do governo PSD/CDS, então o governo actual admite que a sua política actual não surte efeito nenhum.

O futuro próximo de Portugal vai ser assim: vão esgotar a boa vontade da União Europeia e do BCE e depois, quando as taxas de juro mundiais começarem a aumentar -- e as da dívida portuguesa já estão --, vão olhar para esta altura e concluir que desperdiçaram mais uma oportunidade. Quantas mais oportunidades pode o país dar-se ao luxo de desperdiçar?

15 comentários:

  1. Pode desperdiçar quantas os seus eleitores acharem por bem desperdiçar. Chama-se democracia.

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    1. A mim até dá jeito ter um país pobre onde me reformar. É da maneira que tenho uma reforma mais faustosa...

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    2. Com tantos países remediaditos e até alguns pobres aí para Sul, uns quantos muito, muito agradaveis, umas quantas ilhas simpáticas também, logo havias de pensar em Portugal para a reforma! Tss tss...

      Voltando agora ao customeiro fato cinzento... Sabes, Rita, é uma coisa engraçada que tenho reparado em ti e já antes de aqui escrever o notava. Nota, não é uma crítica, de todo em todo dado ser algo em que não há certos nem errados. De toda a gente que conheço ou «conheço» e que tem saído de Portugal, no teu caso então que já saíste há tantos anos, és, de longe, muito longe, a pessoa com maiores ligações a Portugal, que mantém maior proximidade afectiva, tudo isso. Não me surpreende que penses voltar um dia, de todo. Mas acho interessante notar isto. Terás, certamente, os teus motivos mas acho curiosa a dissonância em relação à maioria das pessoas que «conheço» e conheço, da nossa geração. Alguns, aliás, já não têm, sequer, qualquer ligação e não vão a Portugal há vários anos. Um renunciou à nacionalidade Portuguesa. Cortaram totalmente os laços. Vejo com curiosidade o teu empenho na manutenção da ligação.

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  2. Na realidade não é de todo claro que seja necessariamente como diz.
    Pode-se pensar que:

    a) as medidas seguidas anteriormente (mesmo que tenham sido corretas na altura) demoram tempo a dar frutos, pelo que é preciso paciência enquanto isso não ocorre. Tanto quanto sei o PS não indicava no programa que todas as medidas foram estruturalmente erradas (embora criticasse o seu timing e nível de aplicação).

    b) Algumas (não todas) das medidas actuais (vamos ser generosos e dizer que não são aquelas que ainda não deram frutos) necessitavam de ser revertidas/adaptadas por serem medidas extraordinárias e sem suporte legal para existirem de forma sustentada (vide as sobretaxas que mesmo a PaF indicava que ia reverter, sendo a discussão com o PS em termos de timing para o efeito).

    Não estou a dizer com isso que a politica atual vá surtir algum efeito benéfico futuro (acho que mesmo o Centeno já se resignou a isso - independentemente de fazer ou não sentido "estimular o consumo" e pessoalmente acho que não faria grande bem, a verdade é que o governo atual não o está a fazer, pelo que atacá-lo por isso é estranho).

    O que o governo atual está a fazer em termos económicos (e que foi o que fez o governo da PaF no último ano antes das eleições) é simplesmente a tentar não causar demasiadas ondas / apagar os fogos mais urgentes, à espera que as coisas melhorem a nível Europeu... Pode ter ou não sorte, não acredito que tenha, mas não está, a nível económico, a fazer nada diferente do que fez a PaF "depois da troika".

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    1. Este governo está a tentar não causar muitas ondas? Então estão sempre a armar embrulhadas. Não é a UE que vai fazer o país crescer; é a confiança que os portugueses têm na economia. Se o objectivo é não fazer ondas, escolheram não fazer ondas para o lado errado.

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    2. Eu acho que não é a confiança, Rita; é dinheiro na carteira, mesmo. Eu andei anos a ouvir palestras vocacionais sobre as virtudes do sacrifício e que apenas podemos depender de nós próprios, sem ajuda da UE, blabla, e olhe, não resultou em ninguém que eu conheça. Não sei de nenhum sistema melhor para fazer crescer um pais do que ter dinheiro e fazer consumo, coisas de que as senhoras e os cavalheiros não podem falar à mesa, eu sei, mas que são eficazes. Até os do FMI, e são de Washington, lá longe de Bruxelas, já perceberam que a UE é liderada por tipos estranhos, com uma compreensão um bocado rígida da vida. Mas se calhar merecemos. Houve uma vez um gajo que perguntou por aqui porque raio o défice teria de ser 3% e não outra percentagem e foi olhado como doido pelos seus próprios compatriotas.

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  3. Só me lembro de uma área em que está a reverter algo (com implicações económicas potencialmente substantivas) que a PaF não reverteria: a legislação laboral, nomeadamente na contratação coletiva. Esse é sim um ponto em que os eventuais efeitos positivos das alterações ainda não se teriam feito sentir e os custos (em termos de aumento de despedimentos) já foram pagos, pelo que não me parece econonomicamente muito esperto fazê-lo... mas como sabemos é uma das condições do apoio de esquerda ao governo, pelo que dificilmente poder-se-ia evitar.
    Isto dito, sinceramente nunca me pareceu que os problemas do mercado de trabalho em Portugal sejam principalmente causados pela legislação laboral de contratação coletiva...

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  4. Não há muito que pensar. Uma conversa para dentro, outra para fora. Agradar ao interlocutor.

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    1. Mas se há duas conversas é porque uma delas é mentira...

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    2. A verdade não agrada a ninguém: não dá votos, nem satisfaz os credores. Como precisam de ambas as coisas... temos isto.

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    3. De qualquer das formas, comentando o seu artigo e não o ministro, ninguém vai encarar esta situação como uma oportunidade perdida, nem governantes, nem governados.

      Se houver algum lamento é da impossibilidade/inconveniência de mais reverter, e voltar às mesmas apostas falhadas.

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  5. Momento "Bipolar"?
    -A psicologização e a psiquiatrização do quotidiao, aceites por alguns mercadores de tretas, nem todos de fora da Psicologia, levam a distrações a que alguns respondem, com alguma propriedade, "a sua tia!".

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