quarta-feira, 11 de maio de 2016

A eficiência do ensino privado

Em Portugal, no segundo ciclo, a média do rácio de alunos por professor é 13, tanto em escolas públicas, como em privadas com e sem pagamentos do estado. Em países como a Holanda, a França, a Coreia do Sul, e o Luxemburgo, o ensino privado tem rácios superiores ao de Portugal. No terceiro ciclo, as coisas são diferentes. O ensino privado sem pagamentos do estado tem uma rácio de 6, o privado que depende do estado, 11; e o público, 8. A Finlândia é uma anormalidade com 18 alunos por professor no privado.

Sabemos que, no público português, os sindicatos têm um fanico sempre que se fala em não renovar contratos, logo há efectivamente professores a mais nos quadros. Mas o privado tem muito mais margem de manobra, pois não pagam tão bem como no público, nem estão obrigados a reter a sua mão-de-obra durante tanto tempo. Logo, pergunto, porque razão terão as escolas privadas em Portugal rácios de alunos por professor dos mais baixos da Europa, quando há a percepção que são tão eficientes a ensinar e que as forças de mercado funcionam tão bem?

Gráfico: OCDE, via Insurgente

12 comentários:

  1. Talvez o ensino secundário em Portugal tenha mais horas por aluno que nos outros países (o que obrigará também a mais professores por aluno)?

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    1. Nesse caso, teremos de pensar no conteúdo do currículo, pois isso implicaria que ou ensinamos muito mais do que no estrangeiro, o que seria visível nos rankings de PISA e nós não temos resultados assim tão extraordinários lá, ou, se ensinamos o mesmo, demoramos mais horas, logo é uma questão de produtividade dos professores.

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    2. "ou, se ensinamos o mesmo, demoram
      os mais horas, logo é uma questão de produtividade dos professores" Não necessariamente: depende também do grau de autoridade destes, da disciplina/indisciplina dos alunos, do grau de homogeneidade intelectual da turma e da cultura de estudo dos alunos. Muito depende, é certo, dos professores, mas parece-me que quando se fala nos factores externos a maioria das pessoas pensa apenas no nível socio-económico dos pais, omitindo a grande variância da importãncia do conhecimento nas famílias, mesmo entre pais de nível socio-económico elevado.O número de pais que se preocupa com as notas dos filhos é bastante superior ao dos pais que valorizam a efectiva aquisição de saberes, o que se reflecte no estímulo a "técnicas de estudo" assentes em marranço e pouca profundidade de compreensão.

      Há (infelizmente) professores pouco produtivos e até incompetentes. Acho incompreensível que as Escolas Superiores de Educação que formam professores para dar aulas do 1º ao 9º ano aceitem alunos com notas absolutamente medíocres, e que depois foquem >50% das aulas em "Psicologia de Desenvolvimento de Adolescentes I-IX", "Pedagogia I-XVII" e uma quantidade residual de tempo em conteúdos científicos. Mas a questão da produtividade dos professores é também produto da estúpida cultura de "estudar para a nota". Esta cultura não tem nada a ver com a presença/ausência de exames nacionais, mas com o baixo valor que a maior parte das pessoas dá ao conhecimento e ao excessivo valor que dão à possibilidade de dizerem "o meu filho está no quadro de mérito porque tem sempre notas altas".

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  2. Rita, não me parece que essa metodologia permita concluir alguma coisa sobre a eficiência global dum prestador ou doutro. A eficiência na educação é muito mais do que apenas eficiência na utilização dos recursos humanos. Esta pode ser parte dessa avaliação dependendo do que se pretenda objectivamente saber mas quer-me parecer que eficiência em educação tem mais a ver com os resultados dos alunos do que apenas com o simples rácio alunos/professor.

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    1. Agora perdeste-me. Então usar mais professores e ter melhores notas é mais eficiente do que usar menos professores e ter notas mais baixas. Uma das medidas de eficiência é utilização de recursos e parece que o ensino privado em Portugal não é tão eficiente quanto o da Finlândia e os alunos da Finlândia até nem têm resultados tão maus quanto isso...

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    2. A minha questão é onde são obtidos melhores resultados, se nas escolas públicas se nas privadas. Estou ciente, nota, do que disseste ontem, de ser necessária correcção devido ao background familiar e social dos alunos dumas escolas e das outras. Os resultados dos alunos têm a ver com muito mais do que apenas a quantidade de professores. A sua qualidade, por exemplo.

      Reforço, e ja o tinha dito num comentário ontem: a minha questão prende-se essencialmente com saber quais as que obtêm os melhores resultados, primeiro e, a seguir então, comparar os custos duma solução e da outra.

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    3. Não é só isso. Nas escolas públicas, o estado é obrigado a prestar serviços a uma criança até completar a escolaridade mínima; mas a escola privada não é. Numa escola privada, um aluno que reprove várias vezes é convidado a sair; ninguém obriga a escola a prestar o serviço. Ou seja, a pdf dos resultados da escola privada é truncada e a do público não é.

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  3. Rita, esta análise tem algumas particularidades no caso de Portugal. Sabendo que o número de alunos por turma está na média da OCDE (21 alunos ver pag 423 OCDE Education at a Glance 2015) o número tão baixo de alunos por professor pode ser explicado pelo facto de parte significativa destes profissionais estar adstrito a funções não educativas (administrativas;sem turma; direcções).
    Quanto ao facto da eficiência no ensino em Portugal, o quadro da pág 419 (Chart D2.a), onde são apresentados os tempos de aprendizagem e os tempos de manter a ordem na sala, parece-me explicar bem o porquê de termos uma média elevada de horas no currículo e termos menos eficiência.

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  4. Rita, duas notas:

    1- "Em Portugal, no segundo ciclo, a média do rácio de alunos por professor é 13, tanto em escolas públicas, como em privadas com e sem pagamentos do estado"

    Leste mal o gráfico: as públicas têm um rácio de 9 e as privadas de 13. O primeiro valore de 13 corresponde ao TOTAL das privadas.

    2- Convém distinguir privadas não dependentes do Estado (que são livres de fazer como bem lhes apetecer e ter o rácio que os pais estejam dispostos a pagar) das dependentes do Estado.

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  5. Apesar de muito se escrever sobre a matéria, parece que muitas vezes se esquece a diferença entre escolas (ou turmas) privadas pagas pelo estado e escolas privadas que não são pagas pelo estado. Quando o estado paga há um contrato com todas as obrigações de serviço público.

    Quero apenas deixar uma nota que não tem que ver com eficiência, mas poderá ser mais útil para perceber porque muitas famílias procuram ensino privado:
    Portugal é o país da UE com maior % de alunos (entre o 1.º e o 12.º anos) a frequentar escolas privadas sem contrato de associação. Não sendo as famílias portuguesas ricas, porque tomam esta decisão?
    Mais: nos últimos 15 anos, essa % cresceu mais em PT do que em qualquer outro país da UE.

    Por outro lado, dominando as escolas públicas em quase todos os países da UE, há vários onde o número de alunos em escolas privadas pagas pelo estado é (muito) superior aos que não são pagos pelo estado: Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Reino Unido, Espanha, França, Aústria, Hungria, Eslováquia, Chéquia. Portugal é dos poucos onde isso não acontece.

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    1. "Quando o estado paga há um contrato com todas as obrigações de serviço público."

      Olha para a diferença entre o número de alunos por professor em escolas privadas que recebem e que não recebem dinheiro do estado. Parece que o privado puro usa mais professores por aluno do que o privado não-puro e, comparando internacionalmente, usa mais professores do que outros países, o que também indica pior output por professor.

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    2. Artigo 16.º
      Natureza jurídica
      1 — Os contratos de associação têm por fim possibilitar
      a frequência das escolas do ensino particular e cooperativo
      em condições idênticas às do ensino ministrado nas esco-
      las públicas, no respeito pela especificidade do respetivo
      projeto educativo.
      2 — Os contratos de associação são celebrados com
      escolas particulares ou cooperativas, com vista à criação
      de oferta pública de ensino, ficando estes estabelecimen-
      tos de ensino obrigados a aceitar a matrícula de todos os
      alunos até ao limite da sua lotação, seguindo as prioridades
      idênticas às estabelecidas para as escolas públicas
      .

      No "privado puro" o serviço é diferente, obviamente. Os alunos não precisam de ir para "explicações" porque esse serviço já é integrado pela escola. Estou a falar do "upper secondary", onde há pressão para boas notas de acesso ao "terciary".

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