segunda-feira, 9 de maio de 2016

RE: RE: A liberdade de ser estúpido

O Carlos Guimarães Pinto acha que o meu post acerca da escolha entre ensino público e privado tem as seguintes implicações:
  1. O sector da educação tem grandes economias de escala
  2. Que para se dar liberdade de escolha seria necessário ter dois sistemas paralelos
  3. Que ter dois sistemas paralelos concorrentes seria um desperdício de recursos

O Carlos acha que estas implicações são falsas. A segunda e a terceira implicações são distorções do que eu disse. E depois, diz o Carlos, que sou má economista. Os factos são os seguintes:

  1. Se não há economias de escala na educação, então ter uma turma com um aluno é equivalente a ter uma turma com 25 em termos de custo por aluno, construir uma escola para 10 alunos é equivalente a construir uma escola para 500, etc. Gostaria que alguém me demonstrasse isto matematicamente.
  2. Não percebo o que é que o Carlos acha que o liberalismo é, pois nada impede o sector privado de construir mais escolas se achar que consegue ter lucro. Ou será que o sector privado não acha rentável construir escolas sem o estado? Nesse caso, as escolas privadas não são verdadeiramente privadas porque não nasceram de oportunidades de lucro presentes no mercado da educação.
  3. Para ter liberdade de escolha completa, que foi o exemplo extremo que eu dei e, por isso mesmo, absurdo, porque a liberdade de escolha completa é absurda, teria de se ter dois sistemas paralelos. Se se tiver um sistema em que há alunos que não podem entrar na escola privada porque não há vagas, então os que ficam de fora não têm escolha. Ou seja, argumentar liberdade de escolha entre privado e público é uma estupidez.

Em mercados livres, é o preço que decide a alocação de recursos; se querem mais escolas privadas, então disponham-se a pagar propinas mais altas e elas materializar-se-ão. Não peçam subsídios ao estado argumentando que os alunos devem ter liberdade de escolha porque senão, o que é que vos impede de pedir subsídios ao estado para comprar carro próprio para assim terem liberdade de escolha entre transportes público e privado? Não me incomoda minimamente haver um sistema público e um privado, desde que a existência dos dois sistemas não tenha encargos adicionais para os contribuintes para além do nível mínimo de educação a que o estado acha que as pessoas têm direito.

Já agora, a alocação de alunos entre privado e público, ou seja o tamanho óptimo de cada sector, é um problema de optimização que pode ser facilmente resolvido, de forma a minimizar os custos para os contribuintes, sujeito a restrições de qualidade mínima e taxas de ocupação mínimas dos recursos já existentes. É isso que os economistas fazem: alocação de recursos escassos a necessidades que são tudo menos escassas. O Carlos já se esqueceu do que aprendeu em Introdução à Economia, ou então é daqueles economistas teóricos, que não sabe fazer um programa de optimização no computador. Usa GAMS ou MatLab, Carlos, mas há outros. Podes usar o Excel se comprares um algoritmo externo -- a Frontline Systems vende-te isso.

6 comentários:

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    1. Dizes isso porque ela está do teu lado. Espera que ela esteja contra ti! Aí é que quero ver.

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  2. A sério que isto continua? Eh pá....

    1. É evidente que não é o mesmo ter uma escola de para 10 ou para 500. As economias de Escala não precisam de ser constantes. Imagina que os custos de uma escola são 100+5*(número de alunos). A diferença de custo médio entre ter 10 e 500 alunos é grande, mas entre ter 500 e 1000 é quase nada. Certo? Podemos avançar?
    3. Oh Rita, tu achas que há liberdade de escolha em termos de vestuário em Portugal? Sim? Pronto. Essa liberdade de escolha implica que se amanhã quisermos todos comprar roupa da Sacoor que há para todos? Não, certo? Para haver liberdade de escolha e competição não é preciso que todos os operadores tenham capacidade instalada para fornecer os seus produtos ao mercado todo. Certo?

    Finalmente, é difícil concorrer num mercado em que há um operador com bolsos fundos disposto a dar o produto de borla a todos. Só como produto premium e para uma pequena parcela do mercado disposto a pagar. Mas nada obriga o estado, querendo ser financiador, a ser também prestador de serviços. Aliás, é do interesse do estado e dos consumidores que haja concorrência entre os prestadores do serviço. O estado ganharia na redução de custos e os consumidores no aumento da qualidade. Não percebo como uma economista (deixando de lado considerações políticas, religiosas e afins), não defende que o modelo que garante uma melhor alocação de recursos não seja um modelo concorrencial em que escolas lutam por financiamento em vez de um modelo centralizado sem incentivos à eficiência.

    Muito honestamente, pensei que isto fosse um dado adquirido na discussão. Há certamente outras considerações a ter, mas em termos de alocação de recursos, parece-me óbvio. Pelo menos entre economistas (algo que eu só aspiro a ser).

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    1. "Não percebo como uma economista (deixando de lado considerações políticas, religiosas e afins), não defende que o modelo que garante uma melhor alocação de recursos não seja um modelo concorrencial em que escolas lutam por financiamento em vez de um modelo centralizado sem incentivos à eficiência."

      E eu não consigo perceber como e que se confundo isso (cheque-ensino) com contratos de associação.

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    2. Eu também acho que o cheque-ensino é uma melhor opção. Os contratos de associação são uma espécie de escolas públicas de gestão privada. Mas com uma grande diferença em relação às escolas públicas estatais: se não tiverem alunos, desaparecem. Só sobrevivem se forem melhores do que as outras escolas públicas, o que é um melhor incentivo do que o nada que existe hoje nas escolas públicas estatais.

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  3. Aqui estou eu a comentar um Post da Rita (e concordo com a Rita):

    1 - O Carlos diz qualquer coisa como: "Não percebo como uma economista [ou um economista, porque também há homens que pensam assim], não defende que o modelo que garante uma melhor alocação de recursos não seja um modelo concorrencial em que escolas lutam por financiamento em vez de um modelo centralizado sem incentivos à eficiência.". É óbvio que qualquer economista sabe, ou devia saber, que nem todos os mercados são iguais, e o preço (neste caso financiamento) reflecte apenas e só os custos e benefícios privados. Em mercados com enormes externalidades (positivas e ou negativas, como é o caso da educação) os modelos concorrenciais (na sua forma pura) deixam de funcionar e neste caso modelos centralizados podem (EU disse PODEM; NÃO disse SÃO) ser melhores, tudo depende de como se constrói o modelo.

    2 - A Rita diz qualquer coisa como: "a alocação de alunos entre privado e público, ou seja o tamanho óptimo de cada sector, é um problema de optimização que pode ser facilmente resolvido, de forma a minimizar os custos para os contribuintes, sujeito a restrições de qualidade mínima e taxas de ocupação mínimas dos recursos já existentes." Eu sei que a Rita sabe e não quis entrar em mais detalhes, mas o modelo de optimização da educação é mais complicado do que qualidade mínima e taxas de ocupação, é na verdade um problema de optimização intertemporal em que o nível de qualidade oferecida tem retornos futuros que podem ser actualizados para o presente. Assim o nível de qualidade não é, em si, uma restrição mas sim uma variável que afecta o objecto a maximizar, i.e., o retorno futuro da educação. Aliás o mesmo se passa com a taxa de ocupação. Na verdade o problema de optimização é qualquer coisa como o somatório do retorno futuro que depende do nível de qualidade (onde se insere o custo de formação de professores, taxas de ocupação, etc....) sujeito a um equilíbrio orçamental intertemporal, e umas condições de transversalidade,...

    3 - Como, existe uma discordância fundamental do modelo económico teórico a utilizar que tal olhar para a evidência empírica? Neste caso temos dois países que tomaram decisões muito diferentes relativamente à educação: a Suécia e a Finlândia (vizinhos e gelados). O primeiro optou por cheque-ensino e privatização do sistema, liberdade de escolha, etc... o segundo optou por um sistema gerido pelas autoridades locais com um programa (indicativo) centralizado e em que as escolas privadas são uma muito pequena percentagem (e também financiadas pelo Estado e sujeitas a regras iguais, nomeadamente na alocação de alunos). Os resultados? Pelo tal modelo concorrencial o lógico seria que a Suécia era um enorme sucesso e a Finlândia um falhanço, e na verdade, bem, na verdade: http://www.theguardian.com/world/2015/jun/10/sweden-schools-crisis-political-failure-education , já na Finlândia, bem Googlem (porque ainda por cima para além de haver poucas escolas privadas, também não há trabalhos de casa, testes e testinhos e outras coisas). Podem sempre argumentar que fiz um cherry picking, mas a verdade é que o modelo Sueco tb foi implementado, em parte, noutras paragens e também não resultou. Neste momento os EUA estão a estudar o caso da Finlândia, porque será?

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