domingo, 15 de maio de 2016

Um monopolista bom ou mau?

No fornecimento de drogas injectáveis para a pena de morte, a farmacêutica Pfizer é monopolista no mercado. Esta semana anunciou que deixaria de fornecer ao mercado tais drogas para esse fim.

Fico na dúvida se, na cabeça das pessoas, este monopolista é mau ou bom ao tomar esta decisão (ouvi dizer que os monopolistas são todos maus); mas quem ficou sem mercado onde fazer compras foi o estado, que perdeu uma escolha. 

Será que o estado deve subsidiar a Pfizer para continuar a fornecer as drogas? Talvez um cheque pena-de morte resolva as incongruências deste mercado em vias de extinção. 


17 comentários:

  1. Já ouviste falar no "argumentum ad absurdum"?

    https://en.wikipedia.org/wiki/Reductio_ad_absurdum

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    1. Sim, é uma das minhas técnica preferidas para encontrar falhas de lógica na argumentação dos outros. Só que os outros não percebem nada do que eu escrevo, nem sequer têm noção das implicações lógicas do que dizem...

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    2. Eu tive um chefe que dizia que se os outros não entendem o que dizemos, em princípio o defeito é nosso, pois teremos comunicado deficentemente.

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    3. Para ser verdade e o defeito ser sempre nosso, é preciso pelo menos duas coisas: (i) que a outra pessoa queira compreender, e (ii) que a outra pessoa possa compreender. Podes tentar explicar a teoria da gravidade a um miúdo de 2 anos, mas ele não te irá entender.

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    4. Ora bem: o que o meu chefe dizia era que "em princípio o defeito é nosso", não que ele é sempre nosso.

      Quanto às tuas observações (i) e (ii), confesso que nem me passa pela cabeça que (i)intuas que a outra pessoa não te quer compreender; a outra pessoa poderá, muito simplesmente, não concordar com o teu raciocínio, o teu uso da retórica, ou até as tuas opiniões; e (ii)que desqualifiques intelectualmente quem, para ti, não atinja a sofisticação dos teus argumentos.

      O facto de se ser mais inteligente, mais eloquente ou mais preparado, não confere razão a ninguém. Pode, quando muito, permitir-lhe marcar pontos numa "debating society", mas não me parece que as trocas de opiniões nas caixas de comentários dos blogs sejam uma competição, embora admita que possa haver quem assim as considere.

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    5. O que tu fizeste foi inferência fora da amostra. Pegaste num conselho que te foi dado para o teu ambiente de trabalho, onde há bastante homogeneidade da capacidade de compreensão das pessoas, e inferiste para a população em geral.

      Quando escreves para um público que desconheces, haverá na audiência pessoas que não terão capacidade de compreender o que dizes. Se eu ler um relatório escrito por físicos, não compreenderei o que eles dizem porque eu não tenho conhecimentos suficientes -- eu não compreender não diz nada acerca da competência de quem escreveu o relatório.

      Num sítio onde escrevemos para o público em geral não dá para escrever sobre coisas técnicas de forma a que todos compreendam 100% do que nós dizemos.

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    6. «Num sítio onde escrevemos para o público em geral não dá para escrever sobre coisas técnicas de forma a que todos compreendam 100% do que nós dizemos.» Logo, diria o meu chefe, temos de escrever de modo acessível.

      Eu não fiz inferência alguma fora da amostra: se queremos comunicar eficazmente, temos de ter noção do universo que nos escuta.

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    7. Como é que eu tenho noção do universo que me escuta? Há alguma forma de eu saber as características de toda a gente que me lê aqui? A não ser que me confiras poderes divinos, não sei como queres que eu tenha essa informação.

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    8. O que é superioridade intelectual? Achas que alguém que sabe escrever é superior a alguém que não sabe? Esperas que alguém que não saiba escrever compreenda as equações das teorias da gravidade? E se o físico não conseguir explicá-las à pessoa, isso acontece porquê? Porque o físico se acha intelectualmente superior e não as explica a um nível que a outra pessoa as possa compreender? Tudo isto para te dizer que não percebo o teu raciocínio.

      Há pessoas que se recusam a compreender, isso é facto. Nem toda a gente tem capacidade de estar aberta a ideias novas, senão como é que explicas que o progresso social, por exemplo, não aconteça de um dia para o outro? Ainda há homens que acham que as mulheres devem estar sujeitas ao que os homens querem, por exemplo. Porque é que eles ainda não mudaram? Porque estão correctos e é uma questão de tempo até as coisas regressarem ao que eram antes da emancipação feminina ou porque eles se recusaram a mudar?

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    9. Comigo o "reductio ad absurdum" não funciona; prefiro o bom-senso. Portanto, não precisas de insistir na teoria da gravidade ;-).

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    10. Mas não te preocupes, eu não acho que sou intelectualmente superior; pelo contrário, a maior parte das vezes não tenho a mínima ideia do que as outras pessoas dizem. Costumo pensar bem as minhas opiniões, mas reservo o direito de as mudar se encontrar argumentos sólidos que me convençam que a mudança será benéfica.

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    11. Nunca duvidei dessa tua postura e penitencio-me se alguma característica menos elogiosa pensaste que eu estava a atribuír-te!

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  2. Mas, seja como for, enquanto os fabricantes de corda não tomarem uma decisão idêntica à da Pfizer, o estado pode sempre substituir a injecção letal pela forca.

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  3. Estou contigo. Os condenados deviam poder escolher quem os mata. Se os privados pudessem matar, de certeza que as mortes não eram tão tristonhas.

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  4. Luís, o Estado detém o poder do homicídio legal, o que penso enquadrar-se naquilo que já John Stuart Mill definia como "monopólio natural".

    Estamos, aparentemente, todos a ficar afectados pelo "reductio ad absurdum", tão caro à Rita. ;-)

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    1. Acho que era o Weber. O monopólio da violência. Mas, nota, não sugeri que o monopólio da violência ou da morte se quebrasse. Estava só a dizer que o modo de administrar pode perfeitamente ser privado. Para dar mais concorrência e eficiência e tal.

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  5. Nunca percebi, num País onde as balas são tão baratas, por que gastam dinheiro em medicamentos.
    O resultado final é o mesmo.
    Pode sujar mais, mas nada uma mangueirada de água não resolva.

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