terça-feira, 10 de maio de 2016

Alargar o leque

A Rita diz que a liberdade de escolha completa não existe. Claro que não existe, nem consigo imaginar o que seria tal coisa. A questão é antes o que se pode fazer para aumentar essa liberdade para o maior número possível de pessoas.
As escolas privadas têm direito a existir, diz a Rita, mas sem apoios do Estado. Quem quiser lá colocar os filhos que pague integralmente as propinas. Provavelmente, este seria o discurso de muitos liberais, mas haveria também muitos a discordar. Não é fácil definir o liberalismo, porque tem muitas facetas. Vejamos apenas o liberalismo filosófico, raiz do liberalismo político (insiste na igualdade de direitos, numa extensão tão ampla quanto possível das liberdades do indivíduo e nos limites à intervenção do Estado) e do liberalismo económico (pretende dar ao mercado o maior espaço possível e aceita as regulações estatais na condição de estas representarem vantagens incontestáveis). O liberalismo filosófico é um “tipo ideal”, para usar a terminologia de Max Weber, e postula que o indivíduo tem a aspiração de dispor de uma autonomia tão ampla quanto possível e quer ser respeitado na sua dignidade na mesma medida em que respeita o próximo. A partir daqui, há liberais para vários gostos. Há-os optimistas como Adam Smith e Hayek; há-os pessimistas como Tocqueville. Há os que não acreditam na justiça social como Hayek; há os que defendem a equidade e a igualdade de oportunidades como Rawls. Numa palavra, é melhor não metermos aqui o liberalismo ao barulho. A propósito dos contratos de associação, acusar os outros de liberalismo ou da falta dele não faz muito sentido e não nos ajuda nada.
Suponhamos então que existem apenas escolas privadas financiadas com o dinheiro das propinas das famílias. Nesse caso, os filhos dos mais pobres ficariam automaticamente excluídos dessa opção, que só estaria acessível aos filhos dos mais ricos. Os mais pobres ficariam condenados a frequentar a escola pública da sua área geográfica. É essa a solução mais justa e equitativa? É aqui que me afasto da Rita, que me parece estar a reduzir o problema a uma questão de optimização ou de minimização dos custos para os contribuintes – curiosamente, essa costuma ser a crítica que a esquerda dirige à direita, o famoso economicismo, em que as pessoas são reduzidas a números.
Penso que a questão principal que devemos colocar, neste caso, é qual é a solução mais equitativa ou que oferece maior igualdade de oportunidades. Não falo sequer dos putativos méritos e deméritos das escolas públicas e privadas. Caberia aos pais e filhos decidir caso a caso. Para o leque de opções dos mais pobres aumentar, o Estado tem, de alguma forma, de financiar os privados -  as escolas (como nos contratos de associação) ou as famílias (através de um cheque-ensino, por exemplo). Esta política seria mais cara para os contribuintes? Duvido. De qualquer maneira, não vejo como é que ao alargar as possibilidades de escolha, tornando disponíveis diferentes modelos de gestão e ensino para um número maior de famílias, se poderia ir contra qualquer política de equidade ou de igualdade de oportunidades. 

28 comentários:

  1. Uma coisa que tenho notado é que nestas discussões há quase uma inversão de posições habituais, nomeadamente sobre o significado de "liberdade"

    http://ventosueste.blogspot.pt/2016/05/as-contradicoes-dos-defensores-e-dos.html

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  2. O problema, JCA, é que ao colocar as coisas como coloca parte de dois pressupostos que não sei se serão verdadeiros (ou pelo menos universais):

    a) Que a escola privada é melhor que a pública;
    b) Que o esquema de selecção nas escolas privadas seria justa (já agora nas públicas também, mas adiante).

    Quanto alguém coloca os filhos numa escola privada e paga, a escola tem incentivos para ser melhor (e eu já vou à definição de "melhor"). Um incentivo directo (se não o for, os pais tiram os filhos de lá) e um indirecto (os pais tendem a ser mais participativos, o que normalmente resulta em intervenções junto dos alunos mais directas e mais prematuras, em que as explicações e "apoios" são um bom exemplo).

    O outro lado disto é que o "melhor" é variável: tanto pode ser melhor para terem uma melhor educação como pode ser melhor para terem melhores notas. Há um famoso externato aqui no Porto que se especializa na segunda parte...

    Depois, temos o problema da selecção: actualmente as escolas privadas (não estou a falar das com contrato de associação) escolhem os alunos como quiserem. Logo podem seleccionar os melhores alunos, o que serve de reforço positivo. As escolas públicas não o podem fazer, pelo menos abertamente. Admitindo que se tem o mesmo sistema para ambos os casos (como acontece com as escolas com contrato de associação), os pais não têm liberdade de escolha SALVO existir redundância OU existir um sistema de seriação - que na sua maioria tenderá a criar uma discriminação.

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  3. A minha posição não é condenar os pobres ao público e os ricos ao privado; mas as únicas formas de tu não teres essa solução é (1) se o estado exigir quotas das escolas privadas, (2) se o estado pagar o ingresso dos alunos pobres no privado e nesse caso porque é que paga a uns e não a outros?, e (3) se o ensino privado usar parte do seu lucro para dar bolsas aos mais pobres.

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    1. (1) não se põe, excepto em colégios com contrato de associação - o Estado paga aos colégios para abrir turmas, se necessário. Ainda que não seja um sistema de quotas per se, acaba por ter o mesmo efeito.

      (2) para um liberal como eu, a ideia seria que o Estado assegurasse um custo por aluno tendo em conta o nível de vida local e que depois os pais ou encarregados de educação tomassem a decisão com base em toda a informação disponível, estando dispostos a suprir quaisquer valores em falta. Já agora, quando se usa o argumento de "se querem andar na escola privada, que paguem!" ninguém se interroga porque é que os pais querem efectivamente que os seus filhos andem à força toda na escola privada? Não será pelos lindos olhos do Director seguramente.

      (3) Isto acontece em quase todos os estabelecimentos de ensino privado: são os chamados bolseiros.

      Enfim, parece-me estranho a Rita, vivendo no Texas, usar estes argumentos como indicativos de que o sistema de ensino privado seria vedado à partida aos alunos pobres. Estas 3 coisas acontecem em simultâneo hoje em dia e são precisamente os colégios com contrato de associação que o permitem.

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    2. Eu disse que o mercado por si só não garante que alunos pobres tenham ingresso em escolas privadas. O mercado não quer saber dos pobres, nem dos ricos. Há muitos ricos que acabam por morrer na pobreza. Não se surpreenda por eu ter esta opinião e estar no Texas porque aqui eles não acham que o estado tenha de assegurar acesso a escolas privadas para os pobres e nem sequer enviam cheques para casa para as pessoas escolherem.

      Os bolseiros das escolas privadas existem porque as escolas decidem que devem dar bolsas de desporto, de mérito académico, etc. Mas o sistema não é de livre escolha. Um aluno pobre não entra na escola privada porque a prefere em vez da escola pública, logo os pobres não têm muita escolha.

      Ontem uma amiga que tem a filha na privada estava a fazer-me queixa de um inquérito que a miúda recebeu e que perguntava à criança de 11 anos se já tinha tomado drogas, se se cortava, se tinha práticas sexuais, etc. A minha amiga dizia que pagava à escola para a filha andar lá para que não estivesse exposta a essas coisas, nem a crianças que as fizessem. As famílias pagam para que os seus filhos tenham amigos de situações económicas semelhantes.

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  4. "Para o leque de opções dos mais pobres aumentar, o Estado tem, de alguma forma, de financiar os privados - as escolas (como nos contratos de associação) ou as famílias (através de um cheque-ensino, por exemplo). Esta política seria mais cara para os contribuintes? Duvido. "
    Aqui é que está o cerne da questão. Para mim é claro que sim, seria mais cara para os contribuintes que uma situação sem esses subsídios (o que é perfeitamente natural – qualquer subsidio do estado para os privados – sejam estes empresas ou indivíduos – implica custos diretos, e distorce o mercado).
    Ou seja, aumentar equidade NESSA DIMENSÃO particular tem custos, e não existem soluções sem esses custos (as propostas da Rita, de bolsas pagas pelos privados ou quotas obrigatórias são simplesmente uma forma de serem os prestadores do serviço a pagar esses custos em vez de todos os contribuintes – o que é uma possibilidade que é aplicada não poucas vezes pelos governos, e sim, que distorce também o mercado).
    Isto não quer dizer que a ideia deve ser ignorada/excluída de consideração. Em primeiro lugar porque aos custos diretos correspondem também externalidades, que podem (ou não, e sinceramente essa apreciação geralmente vai depender principalmente da ideologia de cada um) compensar esses custos no intervalo em consideração. Por outro lado, porque mesmo assumindo custos positivos pode-se considerar que a utilidade de aplicar esse valor em equidade nessa dimensão ultrapassa a utilidade de aplicar esse valor em todas as outras alternativas. Mas essa decisão é claramente politica e não económica.

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  5. Um sistema de cheque-ensino, se fosse para todas as famílias, em principio iria aumentar, a curto-prazo, os custos, por um motivo simples - porque as famílias que neste momento já têm os filhos no ensino privado iriam também passar a receber.

    De qualquer maneira, eu suspeito que um sistema de cheque-ensino em breve se transformaria (como foi, na prática, o que aconteceu na Suécia) num sistema de tipo contrato-associação, em que os alunos frequentam a escola de graça e não se cobra nenhuma propina adicional além do valor do subsídio. Porque digo isto - porque o sistema de cheque-ensino é muito vulnerável a ataques políticos, do estilo "o resultado do cheque-ensino é simplesmente levar os privados a aumentar o valor das propinas; as escolas privadas continuam a ser para os mais ricos, e agora o Estado ainda está a pagar para aumentar os lucros dessas escolas" (e se a oferta de ensino privado for relativamente inelástica, o efeitos do cheque-ensino será realmente parecido com isto).

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    1. De acordo. O Cheque-Ensino não funciona. A única alternativa aceitável (e isto admitindo que o provimento da educação seria feita por privados) seria algo como os actuais contratos de associação, com um valor fixo por aluno e em regime de exclusividade.

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    2. Obrigado pelos vossos comentários. Também em parece que o argumento do Miguel faz sentido. Já agora, Carlos, eu não parto do pressuposto que as escolas privadas são melhores, depende. Mas tem razão num ponto: na questão da selecção dos alunos. Mas as escolas na Suécia parecem estar a funcionar bem, pelo menos é essa a minha percepção. Tenho que estudar melhor o assunto,

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    3. Caro J. C. Alexandre:
      Não acha um bocado estranho o senhor vir discutir um assunto desta gravidade na praça pública e fazer afirmações que não têm a mínima sustentabilidade na realidade?
      Como esta: «Mas as escolas na Suécia parecem estar a funcionar bem, pelo menos é essa a minha percepção.»
      Ora, esta solução, que já tem cerca de 20 anos, portanto, que já está madura para dar resultados, o que deu: No PISA de 2012 a Suécia, que já vinha a baixar paulatinamente desde há muito, ficou atrás de Portugal nos 3 itens medidos. Língua Materna; Matemática; Ciências.
      Leia este excerto de um artigo na Visão e procure informação sobre o assunto para não se ficar por impressões:
      «Por último, a experiência de liberalização por via de um sistema semelhante ao do cheque ensino já tem resultados. A Suécia fez uma reforma semelhante e surgiram inúmeras empresas de ensino privado. Algumas faliram, obrigando o Estado a intervir para assegurar que os alunos não ficavam sem aulas. Mas o mais grave é que as escolas privadas inflacionaram os resultados dos seus estudantes, para atrair mais "clientes". Os resultados internos das escolas ficaram muito aquém dos efectivos conhecimentos dos alunos, como ficou evidente quando foram conhecidos os dados do PISA 2012, o estudo da OCDE que mede o grau de conhecimentos dos alunos de 15 anos. A performance a matemática, a língua materna e a ciências caiu. Os resultados da Suécia, um farol de desenvolvimento económico e social, foram dos piores de sempre, tendo sido ultrapassado pelos resultados dos alunos portugueses, que estavam tradicionalmente (e ainda estão) em lugares menos honrosos da tabela.» In Visão.

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    4. Prezado Manuel Silva,
      Obrigado pela sua chamada de atenção. Pelos vistos, a minha percepção estava errada neste caso. Uma vez mais, repito humildemente: "tenho de estudar melhor o assunto". De qualquer maneira, garanto-lhe que há excelentes exemplos de escolas privadas por esse mundo fora, como também há de públicas. Desculpe lá, mas não alinho em posições maniqueístas.

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    5. Devo dizer que já fui bem mais a favor do cheque ensino do que sou hoje. E em grande medida isso acontece devido à experiência sueca. Mas ainda tenho muitas dúvidas sobre como interpretar os dados suecos.

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  6. A ideia que eu tenho é que os resultados escolares têm caído na Suécia, e que a polémica é sobre a causa - uns dizem que é por causa a concessão a privados; outros dizem que é por causa de uma mundança pedagógica que entretanto houve no sentido de aumentar a autonomia dos alunos durante as aulas e reduzir a autoridade do professor; e ainda outros dizem que tem a ver com muitos dos atuais alunos serem filhos de imigrantes.

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    1. De facto os resultados na Suécia (PISA actual vs. os resultados dos anos 90) pioraram, embora o retrocesso tenha sido bastante maior nas escolas públicas do que nas independentes (que são responsáveis por menos de um sexto dos estudantes). Além das possíveis causas que apontas, um colega sueco disse-me (não sei com quanta razão) que a descentralização da responsabilidade das scolas para os municípios provocou uma diminuição do seu financiamento.

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  7. Já viram isto?

    https://guinote.wordpress.com/2016/05/10/pela-holanda/

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  8. Grande artigo, que põe as coisas como devem ser postas, navminga opinião. Devo dizer qie excecionalmente não estou com a Rita nesta polémica (embora não alinhe de modo algum nas críticas fáceis que se vão lendo por aí e que desconsideram o poder argumentativo de grande inteligência, capacidade e preparação - tomar os outros por parvos é sempre um mau princípio epistemológico, se esses outros forem a Rita fazê-lo é mesmo parvo). Fechado o parêntesis, se liberal é defender 'serviços mínimos' para todos e o resto a pagar, não sou de facto liberal na educação. A educação é um esteio do desenvolvimento pessoal e a igualdade (material e não formal) de oportunidades no acesso ao ensino pode ajudar a corrigir muitas injustiças sociais. Defendo convictamente que, com limites de racionalidade económica, os filhos dos mais desfavorecidos devem ter as mesmas oportunidades que as minhas filhas - e isso implica a possibilidade de frequentarem as mesmas escolas, as melhores escolas, pagos pelo estado (por nós). Públicas ou privadas, I don't give a shit! Quem defende um modelo minimalista e público não está, creio, ainda que involuntariamente, claro, a ajudar a corrigir assimetrias na educação. E aqui não há espaço para liberalismo que não seja o da máxima igualdade possível nas oportunidades de acesso (com critérios de racionalidade económica, repito, como os há na saúde). E não se devem fazer analogias com outros setores económicos para negar esta evidência porque a educação não é um setor como os outros. Enfim, não deixa de ser curioso ver a esquerda (na Rita é mais coerente) a defender o liberalismo (o estado oferece o básico, quem quer mais paga a dobrar) numa das únicas coisas em que essa defesa não faz muito sentido. Ab

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    1. Tem razão MKrupenski, também acho que a esquerda não está a ser muito coerente nesta discussão e, de facto, a educação é um sector muito diferente dos outros e, nisso, acho que até estamos todos de acordo. A esquerda para ser coerente tinha de dar mais um salto argumentativo: as escolas privadas deviam ser proibidas, para pobres e ricos terem todos apenas acesso às escolas estatais. Mas isso, para já, ainda não se atreveram a propor - apesar de, acredito, essa ser a solução que alguns desejavam. O problema é que se a solução fosse essa, os filhos dos mais ricos iriam provavelmente estudar para o estrangeiro - como já acontece, aliás, nalguns casos.

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    2. No Facebook, o nosso Luis Gaspar já defendeu isso.

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    3. Não concordo com o nosso Luís Gaspar, mas acho que é um argumento com lógica e coerência.

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    4. Tenho, no entanto, consciência que é uma solução tão radical - face ao estado de coisas atual - que tenho algum pudor em a propôr sem arrumar todas as consequências disso na minha cabeça. Mas, intuitivamente, é isso que me parece: a igualdade no acesso à educação não me parece compatível com a ideia da concorrência entre escolas. Sem concorrência, reconheço que há um risco de degeneração da qualidade do ensino. A garantia da qualidade terá de vir então da pressão política dos pais. E é por isso que é tão importante garantir que a classe média e alta tem os filhos na escola pública.

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    5. "A garantia da qualidade terá de vir então da pressão política dos pais." Pela minha experiência, o poder de pressão política dos pais é minúsculo quando comparado com o poder de pressão política dos sindicatos da educação. Basta ver o que acontece quando há greves de professores ou auxiliares de acção educativa: as escolas não abrem (já aconteceu pelo menos três vezes na EB 2,3 Soares dos Reis ema Gaia desde Setembro de 2014, sem que houvesse qualquer aviso prévio aos pais), ninguém liga nenhuma ao transtorno que isso causa aos pais e alunos, etc. E quando um professor do quadro é incompetente, nada se pode fazer, que é o que acontece com um certo docente de Francês efectivado nessa escola, de incompetência reconhecida pelos colegas e Direção, e cujos alunos após dois anos e meio de "aulas" pronunciam "je" com "j'ai" e, mesmo quando recebem as notas mais aulas da turma ("Muito Bom", "5", etc. para os papás não protestarem), parecem caricaturas da série "'Allo!'Allo!" quando tentam produzir textos tão simples como "Je m'apelle Jean et j'ai quinze ans. Mes yeux sont bleus et mes cheveux sont blonds". Sem a possibilidade de perder alunos para a concorrência, a situação seria ainda pior.

      PS: Tirando estes dois aspectos, só tenho coisas muito boas a dizer da EB 2,3 Soares dos Reis em Gaia. Todos os outros docentes com quem contacto são fantásticos, o ambiente é bom, a minha filhota anda bastante mais feliz do que no colégio (privado, sem contrato de associação) que frequentou até ao fim do sétimo ano. Mas no colégio os pais tinham uma capacidade de pressão que nunca terão numa escola pública onde um professor tenha o seu lugar assegurado independentemente do seu desempenho.

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    6. "Pela minha experiência, o poder de pressão política dos pais é minúsculo quando comparado com o poder de pressão política dos sindicatos da educação."

      Caro Pedro Silva: parece-me estar a ver a árvore, e não a floresta. A pressão política dos pais não se faz sentir em manifestações. Eu sei bem por experiência própria que a primeira coisa que um decisor político pensa é na força política daqueles que vai afetar com a decisão. Se a escola pública for a escola dos pobres, pode ter a certeza que será uma escola a condizer.

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    7. Luís, tu, como disse antes, ao menos pareces-me coerente e levas o argumento da defesa das escolas estatais até às últimas consequências, ou seja, pões a hipóteses de proibir as privadas - eu discordo, claro, mas deixemos isso agora de lado. Já me é mais difícil entender os que defendem a existência de privadas apenas financiadas com o dinheiro das famílias, o que levaria precisamente ao problema que tu colocas no fim do teu comentário: "Se a escola pública for a escola dos pobres, pode ter a certeza que será uma escola a condizer." Porque, existindo escolas privadas sem qualquer financiamento do Estado, a divisão entre ricos e pobres aumentaria ainda mais, com os ricos a poderem optar pela melhor (pública ou privada) e os pobres condenados a frequentar a estatal da sua área de residência. Pelo menos, neste ponto parece-me que estamos de acordo.

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    8. Inteiramente de acordo com o José Carlos, no post e nos comentários. Só não comentei antes porque o José Carlos está a defender o meu ponto de vista melhor do que eu o faria. Abraços

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  9. Caro J. C. Alexandre:
    A sua resposta ao meu comentário (às 01:00) reforça a ideia que expressei: o senhor pôs-se a falar do que não domina bem, apenas porque sim, pois esse é o passatempo de demasiada gente hoje nas redes sociais.
    O que falta em intervenção cívica nos espaços especialmente propícios para isso,
    1- condomínios, quem não conhece condóminos que têm sempre alguém que faz anos no dia da reunião; ou a quem todos os anos lhe morre um dos avós para não irem à reunião.
    2- nas associações de pais e EE das escolas
    3 - nas reuniões com os DT dos seus educandos
    4 - nas associações de moradores (que quase não existem nos bairros, quando há tantos assuntos de interesse comum a tratar e tanta coisa a melhorar)
    5 - nos órgãos autárquicos (assembleias de freguesia e municipais,
    repito, o que falta em intervenção cívica sobra em opiniões do tipo «achismo», acho assim porque sim, expressas nos posts e comentários nas redes sociais.
    Mas sempre opiniões muito radicais, muito opinativas, mesmo que construídas obre gelatina mole.
    A questão em apreço não é a superioridade do ensino público sobre o privado nem o contrário.
    Primeiro, há que compreender o contexto histórico em que ambos surgiram, se desenvolveram e os resultados obtidos.
    O ensino privado é muito anterior ao público, mas no final do século XIX tínhamos taxas obscenas de analfabetismo e diplomados em escassez igualmente obscena em todos os graus de ensino.
    Na década de 1970 ainda tínhamos taxas de analfabetismo de mais de 30% e a escolaridade obrigatória era baixíssima. Gastávamos 1,4% do PIB em Educação e só no final do século XX/inícios do XXI chegámos aos 5,5%. Agora estamos em 4,1%, porque o grande esforço de investimento infra-estrutural está feito.
    Quem quiser saber o valor de um e de outro actualmente, com todas as limitações do instrumento de aferição, os rankings, que os percorra do princípio ao fim e veja o que revelam: escolas públicas e privadas ao longo dos mesmos, do muito bom ao muito mau.
    Mas não se esqueça de que as privadas têm a melhor matéria-prima: os melhores alunos, que seleccionam, oriundos das famílias com maiores expectativas sobre o seu desempenho, com condições de contexto familiar e de recursos de todo o tipo incomparáveis.
    Eu tive um filho durante 6 anos numa boa escola pública e outros 6 anos numa boa escola privada, estou bastante atento ao assunto e procuro informar-me: portanto, não falo de cor, apenas por preconceitos ideológicos, sejam de esquerda (contra o privado), sejam de direita (contra o público).
    E sobre a moda liberal do esmagamento do sector público e endeusamento do privado, das escolas de contrato e do cheque-ensino, é sempre avisado avaliar as experiências: nos EUA, na Suécia e na Nova Zelândia.
    Onde se pode encontrar de tudo, desde algumas que funcionam bem a verdadeiros desastres a que o Estado teve de acudir: o Estado, para certa gente, só lhe é lícito para salvar bancos das trafulhices privadas, alimentar o novo negócio das escolas privadas redundantes, etc..
    Na Suécia, dizia-se que era mais difícil abrir um bar do que uma escola: deu os brilhantes resultados que levaram os governos, de direita e de esquerda, a arrepiar caminho.
    Sim, porque, ao menos lá sabem avaliar as asneiras que fazem.
    O nosso problema em efervescência pública das escolas com contratos de associação não passa de um episódio da luta ideológica que actualmente extravasa para todos os campos sociais.
    Em vez de nos concentramos no essencial de melhorarmos o que temos (público e privado) digladiamo-nos permanentemente.
    E não poucas vezes estupidamente.



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    1. “o senhor pôs-se a falar do que não domina bem, apenas porque sim, pois esse é o passatempo de demasiada gente hoje nas redes sociais.”
      Definitivamente, o Miguel Silva não sabe o que significa a palavra opinião e prefere usar o velho truque de desqualificar o outro em vez de rebater os argumentos de que não gosta, argumentos que, neste caso, assentam nas minhas convicções, princípios, visão do mundo (ideologia, se quiser) e na minha experiência. Desde quando é preciso ser um especialista no sistema de ensino sueco para poder dar uma opinião sobre os contratos de associação em Portugal. Aliás, o Manuel Silva também não me parece ser nenhum especialista na matéria, a não ser que ache que um excerto de um artigo da insuspeita Visão lhe dá alguma autoridade especial no assunto. Além disso, o Manuel Silva não faz a mínima ideia de quais sejam os meus conhecimentos sobre outros sistemas de ensino, ou sabe? Como vê, pôs-se a dar bitaites sobre o que não sabe, porque sim, porque escrevi alguma coisa de que não gostou e achou que me devia pôr no sítio, tentando desqualificar-me – não foi malcriado, é verdade, o que já não é mau, atendendo às alarvidades que por aí pululam pela internet. De qualquer maneira, caro Manuel Silva, reconheço-lhe toda autoridade para dar a sua opinião sobre o assunto e para discordar completamente da minha. A educação é um assunto demasiado sério para ser deixado apenas nas mãos de “especialistas”. Não lhe parece?

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  10. Caro J. C. Alexandre:
    Acalme-se, por favor, discordei de si, não o tentei desqualificar.
    Mostrei-lhe que, por vezes, são as convicções que predominam à informação mínima.
    Apresentei um curto excerto da Visão (tão pouco insuspeita como qualquer outra publicação, depende do ponto de vista de cada um), pois lá havia mais informação do que aquela que transcrevi.
    Mas também lhe falei dos resultados continuados de abaixamento da Suécia no PISA desde 2012.
    Acha que os resultados do PISA são como a Visão?
    Pouco insuspeitos?
    Porque se ficou pela Visão e se esqueceu do PISA?
    Mas também lhe referi que havia muita outra informação disponível sobre este insucesso sueco.
    É evidente que pode ter a sua opinião completamente contrária à realidade, mas se a apresenta num espaço público de debate fica sujeito à crítica.
    Tal como pode discordar de mim que eu não fico zangado consigo por isso.

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