terça-feira, 10 de maio de 2016

RE: Quem protege os cidadãos dos estúpidos?

O Rodrigo Adão da Fonseca acha que eu defendo que os alunos não devem ter escolha, e diz que eu digo que deve tudo ir para a escola pública. Depois diz que eu escrevi um manifesto salazarista. Não percebi o que ele disse. Diz ele que deve haver escolha para os alunos irem para o privado ou o público. Quando as propinas de uma escola privada não são zero não há escolha livre. Em mercados, quando se paga um preço não há escolhas livres.

Se as escolhas fossem completamente livres, o problema de optimização do consumidor seria um de maximização da utilidade sem restrição orçamental. Mas não é esse o problema do consumidor em economia: a escolha do consumidor está sujeita a uma restrição orçamental, logo não é livre. A não ser que o Rodrigo defenda que as propinas das escolas privadas sejam zero, não estou a ver como é que o argumento dele se compatibiliza com perfeita liberdade de escolha entre privado e público. Mas notem que cobrar propinas zero nas escolas privadas seria reduzir todo o sistema de ensino a um sistema público, pois todo o custo do ensino seria suportado pelos contribuintes.

Posto isto, continuo a reiterar que utilizar o argumento de liberdade de escolha é estúpido porque em mercados não há liberdade de escolha total; o que há é liberdade de escolha, dado o dinheiro que temos no bolso.

No meu post não falei da liberdade de mudar de professor, mas o Rodrigo acha que o que eu escrevi impede a liberdade dos alunos que frequentam o público de mudar de professor. Eu andei sempre em escolas públicas e mudei de escola várias vezes e nunca me foi imposta uma escola em particular. Não sei como é que andar em escolas públicas afecta a liberdade de os alunos mudarem de escola ou professor porque eu não tive essa limitação. Mesmo dentro da escola havia alunos que mudavam de turma, logo o sistema público tinha dentro de si algum nível de liberdade.Se, entretanto, essa limitação foi imposta, acho mal; mas então vamos falar de liberdade de escolha.

Se mudar de professor e de escola é uma liberdade que deve ser salvaguardada a qualquer custo, então é impossível uma localidade ter apenas uma escola privada, pois os alunos dessa escola poderiam querer mudar para outra escola privada e a sua não existência violaria as suas liberdades de escolha. A implicação lógica do que o Rodrigo diz é que tem de haver pelo menos duas escolas públicas e duas escolas privadas em todas as localidades para que todas as liberdades de escolha inter-escola dos alunos possam ser satisfeitas: ir de pública para pública, de pública para privada, de privada para pública, e de privada para privada. Para salvaguardar a escolha intra-escola, i.e., de se poder mudar dentro da escola, em cada escola privada e pública, teria de haver pelo menos duas turmas diferentes para cada ano. Isso é que permitiria uma liberdade de escolha exaustiva.

Em suma, parece-me que a única liberdade de escolha que interessa ao Rodrigo é a de ir de pública para privada, sem ter em conta os custos das propinas da privada, e eu continuo a dizer que isso não é um leque de liberdades de escolha completo, nem sequer é uma escolha perfeitamente livre porque o custo das propinas da privada não é zero. O argumento da liberdade de escolha é mau.

(Não sei onde é que ele leu que eu chamei estúpidos aos governantes no post em questão porque nem sequer mencionei um governante em particular, mas acho que quem usa o argumento da liberdade de escolha está a ser estúpido porque é um mau argumento.)

5 comentários:

  1. Só para adicionar algo que a Rita não disse.
    O Ricardo a certa altura pergunta:
    "Gostariam de poder escolher a Escola dos vossos filhos, ou preferem ter de os colocar na Escola que vos é imposta pelo Estado?"
    Mas o Estado não impõe nada, eu na verdade escolha a escola pública onde anda o meu filho (vamos assumir que tenho um filho). Como? Quando procurei casa fiz uma série de escolhas tendo em conta a minha restrição financeira, entre as quais a(s) escola(s) da área em que habito. Não é por acaso que nos EUA nas empresas de intermediação imobiliária existem vários items na descrição da mesma e um deles é a qualidade da escola da área da habitação. Agora se o Estado decidir fazer um cheque-ensino terei eu direito a ser ressarcido, é que paguei mais pela moradia em que habito para ter acesso a certas escolas, se deixo de ter, o Estado está a mudar as regras e nesse caso, quanto muito quero que o coeficiente de valorização no qual é calculado o IMI baixe... ...e o os que escolheram viver em zonas mais baratas aumente... ...pode ser?

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  2. adenda: http://www.nber.org/papers/w11347

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  3. Bom dia,
    O que parece que qualquer um dos escribas não tem é um Filho, como tal está a falar de algo que não sabe/conhece.
    Eu tenho um filho que andou numa escola privada e depois numa escola publica.
    Apenas para especificar, a mudança foi por questões de especialização de fim de secundário, pré faculdade.
    Enquanto na privada:
    Nunca tive problemas de ele não ter aulas por falta de professores e greves. Houve professores doentes e algumas que foram felizes mães.
    Nunca tive que esperar por professores substitutos.
    Tinha os livros garantidos.
    Ele tinha desporto, teatro, várias opções disponíveis extra-curriculares.
    Na secretaria nunca fui mal atendido nem sequer fui tratado com menos atenção.
    Paguei por isso.
    Na publica, ficou um período inteiro sem professor de uma cadeira porque não havia um, nem sequer havia previsão de vir a haver.
    Por vezes tinha desporto.
    Extra-curriculares? Não se usa.

    A escola publica onde o meu filho andou é muito pretendida, uma escola modelo (quase).
    Quando tive que o matricular, porque fica a menos de 200 metros de minha casa, foi automaticamente transferido para outra a mais de 5 KM de distância.
    Quando tratei de pedir a transferência, fui obrigado a percorrer as secretarias de 4 escolas diferentes, para saber onde tinham enfiado o processo.
    Acabou por ficar na escola pretendida porque o processo nunca chegou a sair de lá, apesar de supostamente ter andado a percorrer todo o circuito das escolas da área.
    Foi encontrado por acaso, após o inicio das aulas.
    Foi durante uma reunião com o director da escola, para saber onde andava o processo, que segundo o Ministério tinha sido entregue na Escola, e segundo os 'funcionários públicos' que 'ornam' aquela bela secretaria, andava por algum lado.
    Na secretaria, entre o frete por ter que atender os Pais e a importância de serem 'superiores' aos alunos, vê-se de tudo.
    Infelizmente também pago por isso.
    A diferença é que na publica, não posso escolher se pago bem ou mal, nem sequer posso queixar-me porque não existe continuidade dos processos.
    Várias vezes se ouve a frase, "não pode ser despedido, não vale a pena".
    O que na privada não acontece.
    Se houver uma queixa, os empregados são chamados a justificar-se.
    Isso obriga-os a terem atenção ao seu trabalho.

    Entre escola publica e a Escola privada, podendo, sempre a privada, porque para o dinheiro que eu lá meto, tenho um retorno identificável.
    Na escola publica... "Been there, done that"...
    Aliás, quase qualquer coisa estatal hoje em dia...é sustentar burros a pão de ló.

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    1. Eu andei sempre em públicas tanto em Portugal, como nos EUA, e tive uma boa educação.

      O que descreve são problemas de burocracia, não são problemas de economia. Mas é estranho que ninguém queira exigir que o estado simplifique a sua burocracia; apenas querem que o estado permita mais escolas privadas, o que, para a sociedade, tem um custo maior do que fazer com que as escolas já construídas funcionem melhor.

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    2. Eu não sou economista.
      Sou um cidadão anónimo igual a tantos outros.
      Eventualmente sou diferente porque tive a possibilidade de inscrever o meu filho numa escola privada.
      Custou, mas entre os (roubos) "descontos para a segurança social" e os (roubos)"impostos" que pago, o resultado que tenho desse custo transforma-o num bom investimento.
      Os resultados são muito maiores e palpáveis que o resto.

      A burocracia não provoca custos acrescidos?
      E isso não causa impacto na economia?
      Eu falo (escrevo), não em burocracia, mas em falta de responsabilização.

      Se uma escola privada produz maus alunos, sem qualidade, rapidamente fecha por falta de clientes.

      Se uma escola publica produz maus alunos, sem qualidade,
      continua aberta, sendo a procura de razão para essa má produtividade, uma procura de responsabilidade, considerada um ataque vil.
      Essa a grande diferença entre o publico e o privado.

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